Setembro 16, 2024
O que muda no Rossio com a maior Zara? #ÚltimasNotícias #Portugal

O que muda no Rossio com a maior Zara? #ÚltimasNotícias #Portugal

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Portugal esteve sempre ligado à Inditex: foi aqui que abriu a primeira loja da marca fora de Espanha, em 1988, na Rua de Santa Catarina, no Porto, inaugurando uma nova era de consumo de moda que o país desconhecia até então. Para uma geração nascida nos anos 1970, a primeira verdadeiramente livre, mas herdeira de um país saído de uma revolução que ainda sacudia a poeira da ditadura, quase não havia opções. Aliás, a moda ainda era vista, então, como uma superficialidade. Para as jovens raparigas daquele tempo, uma ida à Zara era uma lufada de ar fresco, um grito de emancipação e identidade, de maioridade e amor-próprio. Por isso, é natural que os portugueses tenham uma relação de umbigo, ibérica, com a marca nascida na Galiza.

Por isso, não é de estranhar este colosso no coração da Baixa de Lisboa. Alvo de muita polémica (e de uma remodelação cuidadosa), falou-se que este espaço tão importante de Lisboa poderia ter outros fins. Mas tornou-se nesta loja que é uma das maiores do mundo, e que abre suas portas oficialmente no dia 5 de setembro, encerrando um longo período de especulação e mistério sobre o destino de um dos mais icónicos e valiosos espaços urbanos da cidade. Qual será a influência de uma loja tão grande no ecossistema da Baixa e do seu comércio, veremos nos próximos meses.

Foto: Inês Leote

A loja do Rossio, num espaço que a Zara agora transformou, o lugar onde nasceu a Manteigaria União em 1900, e onde estiveram a Ourivesaria Portugal, cuja fachada foi preservada, e a Pérola do Rossio – que se mantém – e a pastelaria Suíça, ali fundada em 1922, que acabou por batizar sentimentalmente o local como o Quarteirão da Suíça.

Esta nova mega Zara, a segunda maior do mundo, substitui as lojas do Chiado e a da Baixa, que após passarem por obras, passam a ostentar outras marcas do grupo Inditex: a primeira será uma Massimo Dutti, a segunda uma Berska.

Um novo café dá as boas-vindas

Na entrada principal da Zara passa quase despercebido o fato de que naquele prédio viveu Alfredo Pedro Guisado, poeta da icónica revista Orpheu. A pequena placa indicativa quase desaparece no esplendor das grandes portas envidraçadas que deixam entrar a luz forte da capital.

A recepção é dada por pequenos montes de musgo e uma oliveira que escala até ao tecto. O acesso via Praça da Figueira faz-se através de uma pequena pastelaria, a Castro, com a mesma pinta vintage que se reconhece na sua loja do Chiado. Aqui vendem-se caixas de pastéis de nata, a especialidade, cafés variados e chás, chocolate quente e matcha. É uma nova forma de receber, não se cansam de sublinhar os responsáveis da marca.

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Foto: Inês Leote
Do lado da Praça da Figueira nasce um café. Foto: Inês Leote

É visível, já há alguns anos, a vontade do grupo Inditex de subir a fasquia e deixar de liderar a era fast fashion. Isso vê-se numa crescente atenção à qualidade e ao detalhe que fazem subir os preços, na comunicação cada vez mais sofisticada e na abertura do seu magnífico museu, em frente ao mar, na capital onde nasceu a família Ortega, na Corunha.

Este projecto de arquitectura de Elsa Urquijo é mais uma evidência. Tiago Beja, o director da Zara em Portugal, não se cansa de repetir: “Este é o expoente máximo da loja Zara, ampla e com uma disposição de produto diferenciada. Moda e comércio numa loja icónica que sai completamente do seu modelo de negócio habitual. Queremos dirigir-nos, cada vez mais, para este tipo de cliente e não trabalhar com tendências ou com as coleções apenas. Queremos que seja uma loja de experiência de compra, com uma forma distinta do shopping tradicional, e uma loja que faça a fusão da experiência Zara, moda e casa, queremos integrar cada vez mais as duas marcas, como já aconteceu no passado, ajuda a fazer brilhar a própria loja”, explica.

Os vidros para a vida lá fora, no Rossio. Foto: Inês Leote

O nível térreo, assim como o primeiro andar, dividem-se entre a coleção de mulher e a coleção de homem, sendo que o piso zero recebe as peças mais especiais e as coleções-cápsula. Guardadas por tectos trabalhados e cuidados detalhes de interiores – num projeto que teve na base a reconstrução levada a cabo pelo arquiteto André Caiado Guerreiro – criam belas sequências de salas abertas onde se encontram materiais de aspecto maciço, livros de moda e pequenos objetos de design.

Esta zona terá muitos “avanços de coleção e surplus com três drops da campanha de publicidade”, explica Pedro Vidigal, o diretor de comunicação internacional da marca. “São coleção mais premium para uma mulher mais sofisticada”, reforça, enquanto nos guia para pequenos recantos de pagamento que criam uma divisória natural para a secção de homem e nos remetem, nos seus tons orgânicos que condizem com todo o espaço, para as lojas de moda de luxo e para a elegância pombalina.

Os tons mais frios ficam a norte, na parte do edifício que dá para a rua do Amparo, as mais quentes condizem com o lado sul da rua da Betesga.

Nos andares superiores foi mantida a entrada do hotel Francfort, assim como a sua escadaria. No primeiro e no segundo pisos estão as coleções mais jovens e desportivas. É onde se encontra uma oferta “mais dia a dia e mais denim”, e o mobiliário é inspirado nas caixas de encomenda dos antigos armazéns.

O elevador foi conservado. Foto: Inês Leote

Aqui que está a zona online, a mais tecnológica da loja, onde se faz a devolução de artigos, o drop off e o levantamento das encomendasPedro Vidigal demostra como funciona, com um QR code no telemóvel que detecta todos os artigos que podem ser devolvidos em envelopes colocados numa grande caixa enquanto o dinheiro regressa à conta.

“Uma tecnologia inovadora”, pontua Pedro Vidigal, “inclusive para os colaboradores que aqui vão trabalhar”, complementa. E não são poucos. Serão 280 os funcionários, vindos das outras lojas Zara que fecham na zona, e 145 novas contratações.

ZARA Rossio
As galerias do edfício e os frescos conservados. Foto: Inês Leote

Também existe uma parte mais formal, para peças especiais como os fatos masculinos, onde o cliente encontra uma equipa de assistência mais especializada. Ou um recanto para a lingerie, onde estão cada vez mais apostados, garante Pedro Vidigal, enquanto guia os jornalistas pelo tour entre corners de acessórios mais pequenos. Os espaços boutique são definidos para dar mais destaque ao produto. E os provadores rematam essa ambição de luxo: muitos, amplos, em tons suaves e com grandes sofás.

Existe ainda um recanto dedicado a Zara Beauty, com zona de aconselhamento mais técnico onde se podem experimentar os produtos e lindas paredes pintadas com pássaros flores, numa recuperação dos frescos originais. Da janela vemos a estátua de D. Pedro.

Tradição e pegada ecológica

A arquitecta também quis evidenciar a história e a tradição dos artesãos portugueses. Vê-se por todo o lado pedra de Lioz, vinda de Pero Pinheiro, e salta-nos à vista, no último andar um painel de azulejos Viúva Lamego que Bruno Grizzo está a pintar naquele momento. Um artista brasileiro de ascendência italiana e portuguesa, que vive em Nova Iorque, e quis desenhar “as orquídeas brasileiras e cruzá-las com as plantas portuguesas e assim combinar as minhas raízes mais profundas”.

Zara
Foto: Inês Leote

Aqui fica a Zara Home, que se estende em pequenos cenários inspiracionais. É como entrar numa casa real, com mistura de tendências e influências”, sugere a diretora desta área. Uma sala de jantar, escritório e sala de estar, cozinha e lavatórios em pedra, e a coleção têxtil, uma parte dela feita à base de têxteis portugueses, alguma arte e pintura e os objectos feitos em colaboração com Vincent Van Duysen. 

Foto: Inês Leote

Mais uma vez, a ideia é apostar nas qualidades mais altas, e onde a coleção faz brilhar o edifício”, remata Pedro Vidigal. A zona de casa fica paredes meias com um espaço dedicado aos mais pequenos, por isso criaram um recreio dentro da loja: “Vamos ver como corre”.

As novidades não esquecem um momento final para falar de sustentabilidade. A Zara está ligada a uma plataforma interna, a Inergy, que garante seguir os melhores padrões mundiais para reduzir o consumo de energia. Controla a climatização de todo o espaço, e diz seguir uma política de zero waste de separação de lixo.

Começou, em 2019, por substituir os sacos de plástico por versões em papel, na loja como nas encomendas onde o plástico de bolhas foi trocado por papel reciclado 3D, assim como nos cordões que prendem os produtos. Os plásticos estavam em mais de 60 aplicações e dizem ter conseguido eliminar a sua utilização em 95%.

A intenção é que a consciência ambiental se estenda, cada vez mais, às suas coleções de moda para que a sofisticação e o futuro entrem, por aquelas grandes e belas janelas, para ficar por muito tempo. 


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