Setembro 22, 2024
Como Israel conseguiu criar um cavalo de Troia moderno com pagers – Noticias R7
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Inteligência do país usou empresa de fachada para vender dispositivos explosivos para o grupo terrorista Hezbollah

Internacional|Sheera Frenkel, Ronen Bergman e Hwaida Saad, do The New York Times

Ataque com pagers deixou pelo menos uma dúzia de mortos e mais de 2.700 feridos Diego Ibarra Sánchez/The New York Times – 18/09/2024

No Líbano, os pagers começaram a apitar pouco depois das três e meia da tarde de terça-feira, dia 17 de setembro, alertando os membros do grupo terrorista Hezbollah para uma mensagem da liderança em uma sinfonia de toques, musiquinhas e apitos. Só que a chamada não era dos líderes, mas sim do arqui-inimigo – e, em questão de segundos, os avisos foram seguidos pelo som das explosões e dos gritos de dor e pânico nas ruas, lojas e casas de todo o país.

Alimentadas por apenas alguns gramas de um composto explosivo oculto nos aparelhos, as detonações fizeram homens voar da moto em que se encontraram e se chocar contra as paredes, segundas testemunhas e imagens de vídeo. Gente fazendo compras caiu no chão, se retorcendo em agonia, com fumaça saindo dos bolsos.

Mohammed Awada, de 52 anos, contou que estava com o filho no carro e viu uma hora em que o dispositivo de um homem estourou. “O menino ficou doido e começou a gritar quando viu a mão do sujeito sair voando.”

Horas depois, já no fim do dia, pelo menos uma dúzia tinha morrido e havia mais de 2.700 feridos, muitos deles mutilados – e, no dia seguinte, outras 20 pessoas perderam a vida e centenas ficaram machucadas quando os walkie-talkies também sofreram a arrebentar. Parte das vítimas pertence ao Hezbollah, mas nem todas; quatro eram crianças.

Israel não confirmou nem negou qualquer participação nos incidentes, mas pelo menos 12 membros dos setores de defesa e inteligência, na ativa ou não, que tiveram conhecimento da investida disseram que ela foi orquestrada pelo governo de seu país, descrevendo a operação como complexa e de preparação longa. Dada a gravidade da questão, eles falaram com o “The New York Times” sob condição de anonimato.

A transformação dos aparelhos em armadilha foi o golpe mais recente no conflito que já dura décadas entre Israel e o Hezbollah, grupo estabelecido além da fronteira, no Líbano, mas as tensões já vinham crescendo desde o início da guerra em Gaza.

Ataques especiais

Não é de hoje que os grupos apoiados pelo Irã, inclusive o Hezbollah, sejam vulneráveis ​​aos ataques do adversário, perpetrados com tecnologia sofisticada. Em 2020, por exemplo, o principal cientista nuclear iraniano foi assassinado por um robô programado por inteligência artificial e controlado remotamente via satélite. Os israelenses também lançaram mão do hackeamento para boicotar o desenvolvimento nuclear.

Conforme foi vendo os membros de sua alta escalada virarem alvos, o líder do Hezbollah chegou a uma conclusão: se Israel ia apostar na alta tecnologia, seus homens usariam a versão baixa. Como disse o secretário-geral Hassan Nasrallah, era óbvio que estavam usando as redes celulares para saber a localização e rastrear seus comandados. “Se eu perguntar onde está o agente, vou dizer a vocês que é o telefone que tem em mãos; o das esposas, dos filhos”, disse ele ao se dirigir a seus seguidores no pronunciamento pela TV, em fevereiro. A seguir, lançou um apelo: “Coloquem o aparelho em uma caixa de ferro, tranquem e enterrem.”

Fazia anos que ele vinha defendendo a ideia de investir nos pagers, que, apesar das especificações, tinham capacidade para obter dados sem denunciar a localização do usuário ou outras informações comprometedoras, segundo as análises da inteligência norte-americana.

Pois os espiões israelenses viram aí uma oportunidade – e, mesmo antes de Nasrallah ter decidido expandir o uso do equipamento, as autoridades daquele país colocaram na prática um plano para estabelecer uma empresa de fachadas que possuisse como fabricante internacional.

Para todos os efeitos, a BAC Consulting era uma companhia com sede na Hungria contratada para produzir os dispositivos para a Gold Apollo, de Taiwan, mas a verdade é que faz parte do esquema fantasma israelense, segundo três agentes secretos por dentro da operação. Eles disseram também que outras duas foram abertas para mascarar a verdadeira identidade de quem os criou, ou seja, seus colegas.

O BAC tinha clientes comuns, para os quais produzia uma série de versões normais do pager, mas o único que realmente interessou era o Hezbollah, cujos modelos estavam longe de serem comuns. Produzidos separadamente, continham baterias “batizadas” com o explosivo PETN, que foram enviadas para o Líbano em meados de 2022, em pequenas quantidades, mas a produção aumentou assim que Nasrallah denunciou os celulares.

Por outro lado, os temores do líder se originaram com relatos de aliados, afirmando que Israel havia adquirido novos meios de hackear telefones, ativando microfones e câmeras remotamente para vigiar os donos. Ainda segundo os agentes, as autoridades de seu país investiram milhões no desenvolvimento da tecnologia, e conseguiram se espalhar entre os membros do Hezbollah e seus aliados os barcos de que nenhuma comunicação por celular – inclusive a dos aplicativos de mensagens criptografadas – era segura.

Com isso, Nasrallah não apenas proibiu seu uso nas reuniões do grupo como detalhes de que os detalhes dos movimentos e planos jamais foram transmitidos por meio deles. Seus homens tinham de manter consigo um pager o tempo todo – que, em caso de guerra, seria utilizado como canal de instruções.

Meses atrás, o número de carregamentos para o Líbano cresceu, chegando a milhares, distribuídos entre os membros do grupo e aliados seus. Para o Hezbollah, representavam uma medida de defesa, mas em Israel eram chamados de “botões”, que poderiam ser acionados quando fosse a hora certa – que parece ter chegado esta semana.

De acordo com as agências de notícias israelenses, em reunião com seu gabinete de segurança, em 15 de setembro, Benjamin Netanyahu disse que faria o que seria necessário para permitir que os mais de 70 mil cidadãos desalojados pelos confrontos com o Hezbollah voltassem para casa. “Entretanto, eles só poderão devolver se houver uma alteração radical na situação da segurança no norte”, foi a declaração oficial.

Caos no Líbano

Na terça, dia 17, foi dada a ordem de ativação dos pagers. Para provocar as explosões, Israel fez com que tocassem e invejassem uma mensagem em árabe como se fosse do alto escalonamento do Hezbollah.

Segundos depois, o Líbano mergulhou no caos.

Com tantos feridos, as ambulâncias não conseguiam se movimentar rapidamente, e não demoravam para que os hospitais lotassem. Segundo a cúpula da organização, oito de seus membros foram mortos, mas os combatentes também não foram atingidos.

No vilarejo de Saraain, no sul, a menina Fatima Abdullah tinha acabado de voltar do primeiro dia de aula no quarto ano, quando pegou o apito do pager do pai. “Ela foi pegar para levar para ele. Estava segurando quando explodiu. Tinha nove anos”, contou a tia.

No dia 18, enquanto milhares de pessoas se reuniam nos subúrbios do sul de Beirute para participar do funeral ao ar livre de duas vítimas, uma nova explosão gerou novo tumulto. Em meio à fumaça, as pessoas, apavoradas, caminhando pelas ruas, procurando abrigo na entrada dos prédios próximos. Muitos estavam com medo de que o próprio telefone, ou o da pessoa ao lado, fosse detonar. “Desliguem o celular!”, alguém semelhante. “Tirem a bateria!”, ouviu-se a seguir a voz no alto-falante instalado para a audição.

Para os libaneses, a segunda onda de explosões foi a confirmação da lição do dia anterior: a de que agora vivem num mundo em que até os dispositivos para comunicação mais comuns podem ser transformados em instrumentos letais.

Uma mulher, Um Ibrahim, parou um repórter no meio da confusão e pediu o celular específico para falar com os filhos. Com as mãos tremendas, digitou o número e simplesmente simples: “Desliguem o celular agora!”

Por volta de 2024, a New York Times Company

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