O Portugal-Finlândia desta terça-feira era um treino? Era um jogo? Em rigor, deve ser entendido uma vez que um jogo de treino. Nessa medida, é profíquo definir o desempenho da selecção pátrio por essas duas bitolas. Porquê treino, foi tolerável. Porquê jogo, nem por isso.
A selecção pátrio bateu os finlandeses por 4-2, numa partida privado de preparação para o Euro 2024. Roberto Martínez quis manter quase todas as dinâmicas habituais, mas com “actores” diferentes, podendo incluí-los naquilo que terão de fazer caso sejam chamados.
Numa mistura de titulares com presumíveis suplentes, houve alguns vencedores claros e outros nem tanto. No projecto universal, não foi uma noite elogiável. Houve alguns momentos interessantes – e para repetir – e outros nem tanto.
Conceição por dentro
Portugal apareceu no jogo com o estampa táctico idêntico ao habitual, defendendo em 4x3x3 e atacando em 3x2x5. A novidade – e mesmo assim não é assim tão novidade – foi que juntou Nuno Mendes e Rafael Leão na esquerda.
E a saída não era feita com Mendes uma vez que terceiro médio pela esquerda, mas sim com Palhinha entre os centrais, Dias à esquerda e Mendes projectado.
Isto significou que, para dar a largura a Leão, Mendes teve de jogar quase sempre por dentro, “afundando” até a sua posição muitas vezes até perto do ponta-de-lança Diogo Jota.
O efeito positivo da teoria é que Leão teve, uma vez que é suposto, muito espaço para o um contra um, até porque a Finlândia, defendendo a quatro, não teve largura suficiente para lhe tirar espaço.
O efeito negativo é que havendo Leão em largura de um lado tinha de ter um renque por dentro do outro. À direita, era Cancelo a dar a largura e Francisco Conceição mais por dentro.
Isto significou que o extremo do FC Porto quase nunca teve espaço para desequilibrar em zonas interiores e falhou quase todas as acções, com restrição de lances aos 33’ e 39’, ambos em jogadas de transição.
Em posição interno do lado recta, um jogador uma vez que Bernardo terá mais facilidade. Para Conceição teria de ser com Cancelo por dentro, mas isso é incompatível com Leão desobstruído à esquerda.
Os golos surgiram em dois lances de esfera paragem. Um aos 17’, com esquina de Vitinha e cabeceamento de Rúben Dias depois de ludibriar o seu marcador, e outro aos 45+3’, num penálti convertido por Diogo Jota.
Letargia universal
Na segunda secção, Portugal mudou os nomes e as dinâmicas. Sem Leão à esquerda, Martínez passou a dar a largura a Conceição na direita, com Dalot por dentro, e na esquerda havia Pedro Neto mais por dentro e Cancelo desobstruído, mesmo que com maior variação entre ambos.
Curiosamente, foi num lance com Conceição por dentro e Dalot por fora que Portugal chegou ao 3-0, com os dois jogadores formados no FC Porto a criarem, com Gonçalo Ramos, um remate de Bruno Fernandes de fora da extensão.
Conceição beneficiou da diferença feita para a segunda secção e esteve mais em jogo, mas somente ele. Portugal foi desligando do jogo e isso deu à Finlândia momentos para marcar dois golos.
Gonçalo Inácio, pouco habituado a defesas a quatro, acabou por se ver envolvido, tal uma vez que os colegas de sector, em lances nos quais não souberam fazer com cultura a risco de fora-de-jogo. Isso isolou Pukki duas vezes e o finlandês finalizou sempre com categoria.
Fernando Santos tinha razão quando achava que a resguardo a três do Sporting era um problema? É difícil ter a certeza, até porque os lances foram de inércia colectiva e falhas individuais também de de António Silva e Danilo, mas fica, pelo menos, o alerta para se trabalhar por ali.
Ainda houve tempo para o 4-2, marcado novamente por Fernandes e mais uma vez com dedo de Conceição, que recuperou a esfera.