Agasalhos sem naftalina | | O Dia

Publicado 14/06/2025 00:00

Luvas, cachecol, sobretudo, meias de lã e calça de veludo. Eis o uniforme do dia a dia nesta mostra de inverno em pleno outono. O guarda-roupa ficou mais vazio após a retirada dos agasalhos. A semana foi gelada e as sopas invadiram o cardápio na caverna. Os animais, a enorme cadela mestiça, que tem a casinhola forrada, e as gatas, que se apoderaram da cama do quarto de hóspedes, nem reclamam das noites geladas. E eu, e a patroa, usamos o aquecedor de ambiente movido a gás.

Nas poucas saídas, dá para ver os modelitos femininos apropriados para o tempo frio. Incrível foi ficar na sala de espera do hospital – a patroa teve mal súbito – com o ambiente refrigerado. Haja agasalhos. Pacientes e acompanhantes, a maioria, preparados para o frio. Mas, uns poucos, homens e mulheres, de roupas esportivas leves. Gosto não se discute. Incrível foi não sentir o cheiro de naftalina. Antigamente, os agasalhos saiam dos armários com o odor característico das bolinhas. Lembram? Acredito que não são mais fabricadas.

Na caverna, aqui no Condado, usamos a churrasqueira portátil no quintal. Sempre ao calor do Sol. Mas, nesta semana, o astro apareceu por pouco tempo. E, com a chuva fina, mas insistente, o jeito foi recolher as carnes e a churrasqueira de volta à varanda coberta. A cerveja não é tão gelada. Nem precisa. Meu suco é com temperatura natural. A rua tem movimento reduzido de vizinhos caminhando. O frio é próprio, ainda mais com chuva, de recolhimento. Os pássaros devem sentir apertos. Nem sei onde se esconderam.

Enquanto a patroa tricota um cachecol para a cadela Chiquinha, seguindo um modelo que ela viu no pescoço de uma dona quando saía da padaria, eu resolvo zapear a rede atrás de atualizações sobre a previsão do tempo. Ela promete que o frio ficará por aqui até a próxima semana. Aliás, a vira-lata ganhou ainda um gorro com buraco para as orelhas e até sapatinhos de lã.

Mas, de repente, uma notícia de um jornal de Minas alerta que o frio pode estar com seus anos contatos. Segundo o noticiário, uma divulgação recente da Nasa, sobre mais um estudo climático, dá conta de que regiões urbanizadas e úmidas, como o litoral do Sudeste, o entorno do Rio Amazonas e, em especial, cidades como Rio de Janeiro e Salvador, podem enfrentar condições muito severas de calor nas próximas cinco décadas, que as tornariam inabitáveis. Tudo isso por conta da “temperatura de bulbo úmido”, que combina calor e umidade em níveis que impedem o corpo humano de se resfriar por meio da transpiração.

Será? Mas quando se fala do Rio de Janeiro, podem apostar, amigos, é necessário ser mais assertivo. Por exemplo, tirando o aspecto da santidade nos nomes, Santa Cruz não é igual Água Santa!

Bem, enquanto o fim do mundo para os trópicos não chega, o jeito é se preparar para enfrentar os dias de inverno que vêm pela frente. Aqui, na caverna, a sopa de ervilha, reforçada com agrião, rodelas fininhas de cenoura e salgados, já está fervendo na panela. O cheiro logo atraiu os amigos e, em pouco tempo, o conselho se formou.

A decisão do nosso colegiado de anciões de Água Santa é que, durante o período glacial, vamos manter a caverna funcionando 24 horas.

O cardápio variado inclui, preparar o churrasco pela manhã para acabar com ele durante à tarde, esperar o anoitecer para encarar as sopas com as leguminosas variadas, carnes e tal.

Ao ver a sopa fervilhando na panela, Júlio provocou: – Queria ver os asiáticos tomarem essa sopa de palitinho.