Aos 82 anos, Ney Matogrosso segue ativo nos palcos e com uma agenda repleta de shows. Aliás, o cantor, um dos maiores nomes da história da MPB, acompanha de perto a reta final das gravações de Varão com H, sua cinebiografia protagonizada por Jesuita Barbosa.
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Em entrevista à revista Veja, o músico revelou que pediu para ser retratado com franqueza. “Queria me ver retratado com franqueza, sem nenhuma pataratice. Durante o processo, conversei muito com o diretor e cheguei a ler doze roteiros. Normalmente sou durão, não pranto, mas, quando fui testemunhar às filmagens, desabei. Estava ali, na minha frente, a cena em que chegava em vivenda, com o Marco [de Maria, médico com quem viveu] muito doente. Ele tinha aids e, naquele dia, meu teste deu negativo. Passou na cabeça um flashback de toda aquela era e não aguentei”, disse Ney Matogrosso.
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O tradutor também falou de Cazuzaque será mostrado no longa. “Foi um dos meus grandes amores, sim, mas não o único, graças a Deus. Fui completamente enamorado, mas era difícil conviver com os dois Cazuzas que havia nele. No lado público, se mostrava invasivo, louco, bêbado e cheirava muito pó. Já na intimidade, era o oposto. Foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci. A relação durou três intensos meses. Uma vez, ele sumiu por quatro dias e apareceu na minha vivenda sujo, fedendo, com um traficante a tiracolo. Discutimos, e Cazuza cuspiu em mim. Aí dei um tapa na faceta dele e o mandei ir embora. Seguimos amigos, nos amando, mas sem sexo”, confidenciou.
“Eles [os ex-namorados] receberam o diagnóstico na mesma era. Cazuza morreu e, dois dias depois, foi a vez do Marco, em 1990. Era um período dissemelhante de hoje. As pessoas tinham temor até de recostar em alguém com aids. Em uma ocasião, fui levar o Marco, detonado, ao médico, e não queriam que entrássemos no elevador. Cazuza morava perto de mim. Ia visitá-lo e massageava seus pés quando já não conseguia se levantar. Ele me pediu que tomasse AZT, para entrar na mesma vaga dele. Não aceitei, evidente”, comentou.
“Nunca tive temor da morte, mas não dava para entender uma vez que gente tão próxima havia se contaminado e eu, não. Além do Cazuza e do Marco, treze amigos, alguns que eu havia namorado, se foram num período pequeno”, analisou. “Nunca fui viciado em zero, embora tenha vivido todas as experiências possíveis nos anos 1970, 1980. Tomei ácidos, usei maconha e pó. Minha obediência hoje é de um remédio para dormir, o Frontal. Comecei por culpa da insônia, há vinte anos, e estou tentando me livrar com a ajuda do CBD e do THC (princípios ativos da Cannabis). De vez em quando, tomo uma colher de chá do santo-daime, que me ajuda a ter nitidez em determinados momentos”, explicou Ney.
“A primeira vez que experimentei [o santo-daime] foi em 1987, em Brasília. Não buscava uma religião, mas um tanto que balançasse o meu coreto. Passei mais de um ano tomando toda semana. Era uma jornada à procura do autoconhecimento. Cheguei a morar quinze dias no meio da Floresta Amazônica. Acordava às 5h da manhã para tomar o chá. Às vezes, vomitava. Via aquilo uma vez que uma limpeza, para transfixar caminhos. Sinto que aquela período me ajudou a ser mais manso e possuidor de mim”, contou o cantor.
Ney Matogrosso fala sobre homossexualidade e preconceito
Durante a entrevista, Ney Matogrosso também falou sobre o que enfrentou ao se assumir gay. “Houve questões em vivenda desde cedo. Embora eu me enxergasse uma vez que uma párvulo geral, que gostava de pintar, traçar e trovar, meu pai me chamava de viado. Um dia, perto de eu deixar o Mato Grosso do Sul, aos 17 anos, falou isso de novo e respondi: ‘Eu não sou, não, mas o dia em que for, o Brasil inteiro vai saber’. A praga pegou. Na juventude, sentia atração por homens, sem ir adiante. Até ali só havia tido relação com mulheres. Aos 20, era em que trabalhava em um laboratório em Brasília, experimentei a primeira relação homossexual”, lembrou.
“Nunca tive a intenção de tirar ninguém do armário, mas acredito que aconteça, sim. As roupas e a pintura no rosto, na verdade, eram uma forma de me proteger, preservando minha identidade. Lembro que saí de um show no Maracanãzinho e, no dia seguinte, estava na praia à vontade, ouvindo falarem de mim, sem ser reconhecido. Aquilo me transformava em uma espécie de super-homem”, declarou Ney.
O artista também explicou porque evita falar sobre política em público. “E eu sou obrigado? Os políticos não me convencem. Prefiro ser free, sabe? Votar em quem eu quero e quando quero, sem envolvimento com a vida partidária”, decretou. “A única vez que cogitei recorrer ao mercê [da Lei Rouanet] tive uma péssima experiência. Entendo que leis uma vez que esta dão manifesto em várias partes do mundo, mas cá vi casos em que ela foi desvirtuada e contaminada. Cheguei a me encontrar com um integrante do Ministério de Minas e Vontade, que disse que me daria 200 milénio reais para um projeto, com a requisito de eu reservar para ele uma porcentagem do valor. Fui embora. A questão não é a lei, é a forma uma vez que se utilizam dela”, denunciou.
Matogrosso ainda resgatou o vazamento de alguns nudes anos detrás. “Me orientaram a expressar que tinha sido clonado, mas nunca faria isso. Estava flertando com alguém, que me mandava fotos e eu enviava de volta. Percebi quase imediatamente que tinha postado inexacto, e logo começaram a me vincular. Sei que nunca mais vai transpor da internet, mas não fico constrangido. Espero que façam bom uso”, disparou. “Lá pelos 30, 40 anos, cheguei a permanecer viciado em sexo. Tinha que transar todo dia para conseguir dormir. Hoje, vivo um relacionamento com uma pessoa de fora do Rio e consigo me vigiar para ela”, revelou.
Por término, Ney Matogrosso deixou evidente que não pensa em se reformar e nem se assusta com a idade. “Nunca me assustou. Acredito em crenças budistas sobre a vida em seguida isto cá”, filosofou. “Só [vou parar] quando eu for impedido de trabalhar. A felicidade, para mim, está no palco”, concluiu.