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Conclave: filme indicado ao Oscar expõe segredos d… #ÚltimasNotícias #Brasil

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Escritório vago. O trono da Santa Sé está vazio.” Com essa afirmação iniciada em latim, um cardeal sênior do Vaticano encerra o ritual privado que declara a morte do papa. O período de duas semanas de luto é ínfimo para o sacerdote que carrega consigo o título de decano do Colégio Cardinalício: é dele a responsabilidade de conduzir a eleição que apontará quem será o próximo chefe supremo da Igreja Católica — grupo religioso que soma 1,3 bilhão de fiéis no mundo. No filme Conclave (Reino Unido/Estados Unidos, 2024), em cartaz nos cinemas, tal peso recai sobre o cardeal Lawrence (Ralph Fiennes). Semanas antes, em crise de fé, ele pediu ao papa que o liberasse do cargo e concedesse a aposentadoria fora de Roma. O pontífice negou: Lawrence tinha o chamado divino para a administração e sua presença no Vaticano era essencial. Ao longo do conclave, essa habilidade não só será posta em xeque como ainda vai exigir que o protagonista assuma outra faceta inesperada: a de investigador. Há algo de podre no Vaticano — e o próximo homem mais poderoso da Igreja deve ser imaculado. Resta a dúvida: existirá alguém puro entre os candidatos?

COADJUVANTE DE LUXO - Isabella Rossellini: uma madre que todos temem
COADJUVANTE DE LUXO – Isabella Rossellini: uma madre que todos temem (Focus Features/Divulgação)

O dilema moral conduz a trama dirigida pelo alemão Edward Berger, do premiado Nada de Novo no Frontde 2022. Nome forte no Oscar neste ano, Conclave é um exemplar primoroso entre as produções que se propõem a investigar os bastidores da instituição religiosa mais poderosa do mundo: um thriller político que examina não só as forças em choque na Igreja, como a personalidade, as ideias e o caráter do ser humano elevado ao posto de papa. Cercada de discrição e reverência, a figura do líder supremo do catolicismo suscitou retratos ousados ​​no cinema e na TV nos últimos anos, da ácida série O Jovem Papa (2016) ao filme Faça pais (2019), em que o diretor brasileiro Fernando Meirelles imagina a amizade pouco convencional entre os papas Francisco e Bento XVI (1927-2022) — quando, pela primeira vez na história, o Vaticano abrigou dois pontífices, um em atividade e o outro aposentado, e mais opostos que água e vinho. No final das contas, é a exposição das intrigas e pecados no Vaticano que dá liga ao filão. Caso magistral é o do filme Ó Sequestro do Papa (2023), do italiano Marco Bellocchio, que resgata o despotismo condenável do papa Pio IX no século XIX, ao tirar uma criança judia de sua família para ser criada pela Igreja.

Nessa leva, Conclave se impõe como o roteiro mais intrigante e afiado ao retratar as sutilezas que rondam a fé cristã, assim como as divergências de um clero que, em última instância, é formado por humanos com qualidades e defeitos, opiniões distintas e vulneráveis ​​à tentação advinda do poder . Adaptação do livro de mesmo nome do autor inglês Robert Harris — obra igualmente valorosa —, Conclave ainda é um deslumbre visual e um palco de talentos luxuosos. Além de Fiennes, desfilam de batinas escarlate os atores Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Lucian Msamati na pele de quatro cardeais que se destacam como possíveis papas. Rouba a cena, ainda, a italiana Isabella Rossellini, como a madre superiora responsável pelas freiras que cuidam dos afazeres domésticos e da alimentação dos cardeais no confinamento.

LITURGIA - Fiennes e Tucci: os cardeais que votam podem ser eleitos papas
LITURGIA - Fiennes e Tucci: os cardeais que votam podem ser eleitos papas (./Divulgação)
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Ao fundo, os cenários que emulam o Vaticano são uma combinação entre cenas feitas em estúdio e locações reais — como o Ospedale di Santo Spirito, o hospital mais antigo da Europa, e palácios barrocos do século XVII, todos em Roma. A Capela Sistina, claro, é o principal ambiente do filme, por ser a sede histórica do conclave. Mas, como não se pode filmar no santuário cujo teto exibe obras-primas do mestre renascentista Michelangelo como A Criação de Adão e o Juízo Finale é visitado por milhões de turistas anualmente, o filme recorre a um velho truque: o uso de sua reprodução perfeita no célebre estúdio italiano da Cinecittà. Produções como Faça pais e O Jovem Papa também foram feitas lá.

Mais que locação poderosa, a capela é um personagem de Conclave. Sob os olhos das figuras míticas estampadas nas paredes e no teto, o grupo de 108 cardeais segue diversas regras e liturgias durante o processo. O voto é secreto e o papa eleito deve atingir a maioria de dois terços mais um. Qualquer cardeal ali presente pode ganhar votos. Duas alas se destacam: a mais progressista e a dos conservadores. No processo, o decano vai descobrindo segredos nada agradáveis sobre seus colegas e sobre o falecido papa. Perpassam o roteiro temas espinhosos, como a corrupção na Igreja, os abusos de fiéis, a aceitação de homossexuais e o papel das mulheres.

ELE É POP - 'O Sequestro do Papa' (à esq.) e 'Dois Papas', de Fernando Meirelles: filmes expiam os pecados da Igreja Católica
ELE É POP - ’O Sequestro do Papa’ (à esq.) e ‘Dois Papas’, de Fernando Meirelles: filmes expiam os pecados da Igreja Católica (Divulgação; Peter Mountain/Netflix)
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O filme não foi muito bem recebido por religiosos católicos, que clamam por um boicote. Uma pena. Conclave não é um manifesto anticristão, e sim um estudo profundo de uma instituição que, de tão antiga e poderosa, falhou em seu propósito central: cuidar de um rebanho. Santíssima intriga à parte, é uma mensagem de fé e tanto.

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Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928

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