Semana de três dias não é muito uma semana, é um tríduo, em que, geralmente, zero de muito relevante costuma intercorrer depois da quarta-feira, prevalecendo, pois, o salomônico “nihil novi sub sole” – ou “sub pluvia”, ao câmbio climatológico atual. Daí porque, irrelevando a tunda que Trump levou na quinta, retomo a conversa da semana passada, não mais para falar da Barsa, mas de sua matriz, a Encyclopaedia Britannica, cujos 32 volumes, com suas alinhadas lombadas grenás e letras douradas, faziam a maior vista na minha estante.
Consegui comprar a edição de 1968, já resignado com o veste de que nunca teria condições de comprar a cobiçada edição de 1911, até hoje disputada por bibliófilos a peso de ouro. Façanha do jornalista londrino Hugh Chisholm, com uma subdivisão por assuntos dissemelhante das anteriores, foi a primeira edição a oferecer um índice onomástico e a narrar com uma equipe de especialistas do balacobaco: Whitehead explicando a matemática e Kropotkin o anarquismo, e por aí vai – ou melhor, foi.
Encyclopaedia Britannica exibida em estantes no ano de 2017 Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Ao que dela tive aproximação sem precisar ir a uma muito fornida livraria pública até nós chegou através de uma crestomatia maneiríssima, traduzida no Brasil no final do século pretérito: O Tesouro da Enciclopédia Britânica, editada por Clifton Fadiman. Uma primeira seção cobria a evolução de dez campos do conhecimento nos séculos 19 e 20, a outra continha 46 ensaios assinados por uma plêiade de sabichões entre 1815 e 1974.
Algumas preciosidades: o texto que sir Walter Scott escreveu sobre cavalaria para a edição de 1815, o mais velho da coletânea; o de Freud sobre psicanálise; o de Einstein sobre a noção de tempo e espaço; o de Thomas Malthus sobre controle na natalidade; o de James Frazer sobre totemismo e tabu; o de Bertrand Russell sobre as consequências filosóficas da relatividade – e um copioso, etc.
O socialista Fabiano Bernard Shaw sumarizou a evolução das ideias socialistas; o réprobo comunista Trotski embolsou U$ 106 para fazer um perfil de Lenin; o prolífico romancista inglês Anthony Burgess precisou de 22 páginas para dissertar sobre o romance, mesmo espaço que o repórter e jornalista húngaro Arthur Koestler gastou para refletir sobre o riso. E que título Koestler deu ao seu experimento! Uma Contração de 15 Músculos Faciais.
Noves fora os verbetes, muito mais curtos, também encomendados a experts comprovados porquê Cecil B. De Mille (cinema), Lee Strasberg (tradução) e George Jean Nathan (teatro norte-americano).
Dia desses, dei pela falta do meu réplica, do qual orientação permanece ignorado. O que alinhavei supra extraí de anotações feitas na quadra de seu lançamento pela Novidade Fronteira. A boa notícia é que esse tesouro enciclopédico ainda é facilmente encontrado em sebos por até R$ 6. Isto mesmo: seis reais.
E viva o iluminismo escocês, sem o qual a Britannica não teria vindo ao mundo em Edimburgo, 256 anos detrás.