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O “Dia da Saudade” é comemorado em 30 de janeiro. Típica da língua portuguesa e difícil de traduzir, a saudade pode ser uma sensação individual, mas também uma experiência compartilhada. É o que acontece no caso da saudade de lugares que marcaram muita gente, mas hoje não existem mais.
Por isso, usuários de redes sociais têm transformado as plataformas em verdadeiros museus digitais para rememorar o passado. É o que faz o arquiteto e urbanista – e agora também fotógrafo – André Gomes.
“Eu era adolescente e eu nem imaginava que ia fotografar essas coisas, mas antes de quebrar, foi tirado uma foto disso, então eu tenho uma memória desses pisos de caquinho… Eu tenho essas lembranças também dessas desses pisos de caquinho, então bate uma saudade também daquele quintal”, conta.
Para registrar construções tradicionais e cada vez menos frequentes, ele começou o trabalho de fotografar as residências. Além do piso típico de casas paulistanas da década de 1950, as fotos capturam muros baixos, janelas largas, fachadas antigas… características capazes de reacender memórias.
“A gente já vivenciou essas casinhas em algum momento, seja de vó, de tia, de repente prédios, ou mercearias, padarias, bares antigos, que eu fotografo, resgatar essas memórias das pessoas, seja de infância, enfim, seja de algum momento da vida dela, que ela vivencie isso. Tem a questão que essas casas estão desaparecendo, né? É cada vez mais raro a gente ver esse tipo de residência na cidade de São Paulo”, afirma.
Nas redes, André ficou conhecido como “caçador de casas de vó”. O trabalho virou febre, recebendo relatos nostálgicos e indicações de casinhas em vários locais do Brasil.
O passado a um clique de distância
Já no TikTok, faz sucesso o conteúdo de usuários que usam o Google Maps para revisitar suas casas e pontos turísticos em registros de até mais de uma década atrás.
Na mesma rede, a designer Luísa Guarnieri divulga o “Acervo de Lugares Inexistentes”, uma espécie de máquina do tempo que começou quando ela percebeu a falta de registros de lugares que fizeram parte da infância dela, como um shopping da capital paulista.
“No meio dele, tinha um parque de diversões com uma montanha-russa que era um negócio muito doido, que passava no meio da praça de alimentação. Então, você estava lá comendo, você via o pessoal passando no carrinho. Era um negócio que eu falo que parece um sonho meio estranho que você teve na infância se você não tem fotos para provarem que aquilo existiu mesmo. Quando a gente não tem a foto para dar cara para essa memória, é uma coisa que você pensa e fica quase: ‘será que existiu mesmo?’. E isso é uma coisa que eu percebo nos comentários das pessoas”, explica.
Ela recebe fotos por meio de um formulário no Instagram e, hoje, o acervo soma mais de 200 contribuições.
Entre os lugares mais registrados, estão dois parques de São Paulo: o da Turma da Mônica, encerrado em 2010; e o da Xuxa, que fechou em 2015.
“Tem muita foto de lá. É muito engraçado porque quase dá para reconstruir esses dois parques através das fotos, dá para fazer um mapinha com as fotos. Muita foto do McDonald’s antigamente, de quando eles faziam festas, de quando tinha a figura do Ronald McDonald. Eu acho que um dos lugares mais pedidos, inclusive, que até hoje não chegou a foto, foi o Aeroclube Plaza Show de Salvador”, conta.
A hoteleira Aline Hardt mandou fotos de mais de dez lugares para o perfil. Ela aproveitou a experiência para comparar as imagens com sua memória afetiva.
“Foi quando eu lembrei da Casa Estrela, eu me lembro… Uma das minhas memórias mais vívidas do Parque da Mônica é o escorregador de rolinho, né? Na minha memória, era um negócio gigante que ocupava diversos andares. Não era tão grande assim. A gente imagina algo muito grandioso”, diz.
A historiadora Anita Lucchesi, inauguradora dos estudos sobre história digital no Brasil, analisa que iniciativas como essas permitem que toda a sociedade compartilhe suas experiências e seus laços de pertencimento.
“Com esses perfis e as formas como a memória hoje é mediada na internet, a gente tem uma oportunidade. Isso pode ser muito positivo e, às vezes, tem alguns problemas, mas a gente tem uma oportunidade de coletivamente rememorar, lembrar e isso servir de gatilho também para uma preservação de alguns patrimônios, de algumas práticas, de algumas formas de viver”, afirma.
Para a especialista, esses materiais são um “gatilho” de memórias, com efeitos positivos e negativos. Essa dualidade também aparece na descrição de Luísa Guarnieri sobre o sentimento.
“Eu acho que é uma sensação meio agridoce olhar essas memórias. Eu acho que é difícil definir o que é saudade. Ao mesmo tempo, é uma sensação gostosa, mas dá uma tristeza, tipo: ‘puxa, queria poder uma última vez escorregar nesse escorregador de rolinho’, sabe? Ao mesmo tempo, é muito gostoso poder relembrar e ‘dar cara’ mesmo para essas memórias. Não vai trazer de volta esses lugares, esses dias que as pessoas passaram quando foram crianças, mas vai dar um pouquinho de talvez matar a saudade’, diz.
*Reportagem com colaboração de Nadedja Calado e Luiz Delboni
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