Junho 14, 2025
Em tempos de cólera, amor

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Planejei escrever sobre o amor numa semana mais que óbvia. Eu adoro esta data capitalista-afetiva que é o Dia dos Namorados. Gosto que nossa data para celebrar namoros seja em junho e não em fevereiro — quem dormiria agarradinho em pleno verão? Gosto de assistir aos casais se declarando nas redes sociais, sinto que me divirto como numa comédia romântica. Todo mundo sabe que sou do bonde das emocionadas.

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Em tempos de epidemia de solidão, amar em público é político, é libertador, é humano, é lindo. Eu sempre acreditei que o amor fosse pra mim e que “ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, eu nada seria”.

Mas meu plano de escrever sobre este sentimento sublime e ao mesmo tempo cotidiano foi combalido depois da notícia da operação policial na madrugada de sábado no Morro do Santo Amaro, durante uma festa junina na comunidade localizada entre a Glória e o Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

A festa reuniu centenas de moradores, muitos deles crianças acompanhadas das famílias. A operação feriu uma dezena de pessoas fisicamente (psicologicamente os danos são incontáveis) e acabou com a vida de Herus Guimarães Mendes, de 24 anos. A mãe de Herus contou que o nome do único filho foi escolhido porque significava amor.

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Quem olha de longe pode achar que foi o ódio que moveu os moradores da comunidade e de outras comunidades a fechar as ruas e se manifestar no dia seguinte à operação. Ódio sentia o policial de folga, agente do Estado, que avançou de carro e deu tiros para cima durante o protesto, colocando mais uma vez a vida das pessoas em risco. A comunidade não sentia ódio.

Havia tristeza certamente, havia revolta, havia saudade, havia o medo da impunidade. Mas, olhando bem, a gente observa que os olhos que queimavam “era do fogo que arde sem se ver”. Que a ferida dos pais de Herus é daquelas do tipo que “dói e não se sente”, porque o amor “não folga com a injustiça, mas se regozija com a verdade”.

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É o amor que leva os pais de Herus a levarem para o velório sua foto e o crachá do trabalho, como quem tenta provar sua dignidade — para que ele seja visto, lembrado, jamais esquecido. É também esse amor que os faz prometer agora amar ainda mais o neto, o filho de 2 anos deixado por Herus. É o amor que faz a gente usar a camiseta “Saudades eternas”, é o amor pela vida e para que a morte não se repita mais.

É por amor que aquele senhor discursa e pergunta: “A gente só quer saber: o que fizemos para vocês só virem trazer desgraça enquanto a gente luta para poder trazer alegria, mudar a visão das crianças, tentar botar a criança no caminho perfeito da vida?” E é com o coração cheio de amor que ele mesmo conclui: “A única coisa que vocês não conseguem é acabar com a nossa união. A nossa união é sinistra.”

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