Setembro 28, 2024
Estamos fadados a tomar vinhos portugueses, e isso é uma boa notícia – 17/06/2024 – Isabelle Moreira Lima

Estamos fadados a tomar vinhos portugueses, e isso é uma boa notícia – 17/06/2024 – Isabelle Moreira Lima

Estamos fadados a tomar vinhos portugueses. O que parece uma maldição é uma boa notícia: mais do que nunca, há muita coisa boa para provar. Foi o que confirmei ao visitar a feira Vinhos de Portugal, no Ibirapuera, e saber alguns dos 800 rótulos de 90 produtores que fizeram um quadro da produção contemporânea d’além mar.

A proximidade linguística, histórica e cultural fez do Brasil o terceiro mercado do mundo para os produtores lusitanos. Se seus ícones, uma vez que o alentejano Pêra Manca (por volta de R$ 5.000) e o duriense Barca Velha (a R$ 10,8 milénio na Zahil) inspiram libido e cobiça por cá, há muito mais a se saber quando queremos gastar muito menos que R$ 100.

O vinho português hoje se define a partir de três palavras: fruta (presente de um sol implacável), frescor (traço da influência marítima e da altitude) e flutuação (consequência do aproveitamento de toda terreno que dá para fazer vinho).

São 14 diferentes macrorregiões de setentrião a sul e também nas ilhas. Há uma imensa quantidade de uvas nativas, de mais de 250 castas. Assim, é quase impossível ler nomes uma vez que cabernet sauvignon, o que deixa o vinho muito menos internacional, mas mais único, com nomes uma vez que touriga pátrio, aragonês, rabigato, uva cão, vinhão, e por aí vai.

Há tempos, os portugueses do vinho entenderam que essa identidade sítio é a sua riqueza. Sempre exploraram muito suas uvas, mas agora há um movimento de aprofundar ainda mais as raízes para descobrir outras castas que ficaram perdidas no tempo. As ondas do paladar vêm e vão e, se antes algumas variedades foram deixadas para trás porque tinham muita acidez e pouco álcool, é justamente por isso que são interessantes hoje.

Junte a essa equação a complicação do aquecimento global, dos quais calor pode trazer pouca acidez, muito açúcar (e logo álcool) e uma maturação rápida demais ou desequilibrada às uvas.

Há uma novidade geração de enólogos com trabalho autoral, com nomes que se deve vigilar —entre eles Antonio Maçanita, Jorge Rosas, Rui Lopes, Pedro Ribeiro, todos em visitante ao Brasil na última semana. Mas o exemplo que pego hoje vem do grupo Esporão, que nasceu no Alentejo nos anos 1970 e comprou terras no Douro em 2008.

Há 13 anos, plantou um campo ampelográfico, espécie de showroom das castas portuguesas, com 189 variedades para ver uma vez que se comportariam no calor alentejano, na mudança climática. Pelo que o enólogo-chefe José Luís Moreira da Silva, integrante dessa geração impetuosa, me contou, já dá para prever que ouviremos mais sobre mureto, trincadeira e antão vaz, três uvas que estão se saindo muito no novo cenário mais quente. A teoria, portanto, é ajustar-se para continuar muito português; usar tecnologia

avito para se modernizar.

Nas experiências do Esporão, uma notícia alvissareira foi que a conversão da lavoura convencional para a orgânica fez tombar o nível de álcool, alguma coisa que não se espera quando a terreno aquece. Moreira da Silva explica que com um solo menos tratado e, logo, mais pobre, as vinhas ficam menos produtivas e a maturação dos açúcares e sementes (importante para não ter amargura ou notas verdes)

se encontram juntas.

Célebres pelos vinhos cheios de potência do Douro e do Alentejo, em 2019 o grupo expandiu o seu território para a região dos Vinhos Verdes ao comprar a quinta do Ameal —um meneio aos bebedores que querem vinhos cada vez mais leves. “Temos que fazer os vinhos que gostamos de tomar”, me diz o CEO do grupo, João Roquette. E, realmente, difícil torcer o nariz para eles.

Vai uma taça?

O branco Pouca Roupa (R$ 59,90 na Moradia Flora) tem esse nome jocoso e é ideal para uma tarde quente. A traço Monte Velho, do Esporão, está um degrau supra em preço (R$ 79 o convencional no St. Marché; R$ 99 o orgânico no Empório Frei Caneca) e é garantia de coisa boa. Se der para gastar um pouco mais, prove o Vallado Rosé Touriga Vernáculo (R$ 152 na Grand Cru), um vinho delicioso e lindo que tem um pouco de tanino e pede comida.


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