Haddad esfriou expectativas para dar “surpresa positiva”, mas IOF roubou a cena

Essa a coluna havia detectado: a intervenção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de jogar água fria nos sinais do secretário-executivo da pasta era mesmo para baixar expectativas sobre os cortes e, assim, “surpreender positivamente”. O anúncio de cortes de R$ 31,3 bilhões acabou vindo acima do esperado nesta semana, mas abaixo das primeiras estimativas.

Mas se Haddad calculou uma jogada, perdeu a mão em outra. A Fazenda anunciou, para logo depois do detalhamento da contenção, outro anúncio, relacionado ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Como não se espera alívio, o dólar desacelerou a baixa e virou de queda para alta ainda antes do final da coletiva. O valor considerado elevado havia aproximado a cotação da troca de patamar de R$ 5,60 pelo de R$ 5,50 – foi a R$ 5,606 às 15h33min –, mas avançou para R$ 5,661 no fechamento, com oscilação para cima de 0,32%.

O IOF acabou dominando a coletiva e até tirando o foco da contenção, anunciada também com a presença da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Haddad desmentiu algumas especulações sobre novas incidências do imposto – como a de que incidiria sobre dividendos enviados ao Exterior –mas resistiu a todas as tentativas de antecipar informações sobre as novas medidas. Admitiu, no entanto, que o “ajuste” que só será anunciado mais tarde faz parte da conta do ajuste do orçamento. Insistiu que o protocolo do ministério só prevê liberação de informações sobre IOF depois das 17h, com o mercado financeiro fechado.

Embora o número seja alto, a composição do congelamento é relativamente branda: dos R$ 31,3 bilhões, R$ 10,6 bilhões são relativos a bloqueioscancelamentos de despesa que não podem ser revertidos, enquanto R$ 20,7 bilhões são em contingenciamentosque são limites de empenho (uma das etapas da liberação de receita), mais fáceis de reverter.

Por que as medidas tinham data marcada?

Para esta quinta-feira (22), estava prevista a publicação do primeiro relatório bimestral de receitas e despesas. Ocorre só em maio porque o orçamento da União deste ano só foi aprovado em março.

Leia mais na coluna de Marta Sfredo