Março 21, 2025
Incêndio do Prédio Joelma: 50 anos da tragédia que deixou 187 mortos e uma cicatriz em São Paulo

Incêndio do Prédio Joelma: 50 anos da tragédia que deixou 187 mortos e uma cicatriz em São Paulo

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Foi numa manhã de sexta-feira, com chuva fina, que a cidade de São Paulo assistiu, horrorizada, ao seu pior incêndio, no primeiro dia de fevereiro de 1974. Do cimeira do Prédio Joelma, pessoas se atiravam para fugir das chamas. Os bombeiros lutaram contra o queima por mais de 10 horas. Mesmo assim o incêndio no prédio deixou 187 mortos, mais de 300 feridos e a recordação de algumas das cenas mais dramáticas da história da capital paulista.

O Prédio Joelma, no interceptação da avenida Nove de Julho com a Rossio da Bandeira e a rua Santo Antônio, é um daqueles colossos de concreto que fizeram de São Paulo uma das metrópoles mais impressionantes do mundo. Naquele início de 1974, murado de milénio funcionários do banco Crefisul trabalhavam nos 25 andares do prédio que seria rapidamente consumido pelo queima.

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Cobertura do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma ainda sem o número totalidade de mortos na tragédia. Foto: Pilha Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

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Página do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma. Foto: Pilha Estadão

Cidade traumatizada

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“A cidade não vai olvidar tão facilmente o dia 1º de fevereiro de 1974. O paulistano, que por força do seu regime de vida, já deixou de se sensibilizar com as pequenas tragédias do dia a dia, ontem teve que fazer uma licença ao não poder parar e sentiu que certas palavras gastas do seu vocabulário porquê pânico, pânico e solidariedade readiquiram o seu verdadeiro significado. E que alguns valores geralmente esquecidos voltaram a ter relevância. Um incêndio porquê o de ontem mostra a precariedade da vida em São Paulo. O incêndio alterou toda a vida no meio da cidade…”, dizia o texto “Nas ruas, uma cidade com pânico de si mesma”.

O Estadão cobriu todos os momentos da tragédia: o modo porquê o queima se alastrou, a luta pela sobrevivência das pessoas presas no incêndio, os atos de heroísmo, o intenso trabalho dos bombeiros que combateram as chamas e realizaram salvamentos por mais de dez horas. Entre os milhares de curiosos que lotavam as ruas do meio, muitos solidários, que paravam para rezar pelos que estavam no Joelma, alguns traziam cartazes pedindo calma aos que estavam no prédio e recomendando que não saltassem.

No dia seguinte, a edição do jornal recontou “A história do maior incêndio de São Paulo”. O esforço de reportagem mobilizou uma enorme força-tarefa do jornal, com 48 repórteres buscando informações e 11 fotógrafos que captaram centenas de imagens da tragédia. A antiga sede do jornal ficava na rua Major Quedinho, a menos de 10 minutos do prédio Joelma, e uma equipe grande conseguiu chegar rapidamente ao sítio somente atravessando a pé o viaduto Nove de Julho.

Dentro do prédio

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O repórter Sergio Motta Mello conseguiu entrar no prédio, ainda em chamas, por volta do meio-dia e narrou a experiência no texto “Três horas dentro do prédio”:

“No 13º marchar do prédio Joelma, ainda em chamas, um relógio de ponto marca as horas: nove e dez. Mas é meio-dia e quinze. Os porteiros retorcidos e parados do relógio apontam o momento em que o queima interrompeu seu trabalho – e as vidas das pessoas e funcionários que saltaram para o cimento do recinto, ou logo viraram cinzas. Faz exatamente quinze minutos que eu estou dentro do prédio e, sobre o recinto da garagem, antes de chegar aos escritórios carbonizados, mais supra, vejo os que não resitiram e saltaram.” (Leia a íntegra)

A tragédia marcou profundamente a memória coletiva paulistana. A cidade, em choque, parou para escoltar o drama das vítimas presas no prédio em chamas, o trabalho dos bombeiros no combate ao queima e nos resgastes, e para lamentar as vidas perdidas.

Psicose do queima

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Enquanto os paulistanos tentavam processar o traumatismo, a cobertura do Estadão falou sobre “o clima psicológico que envolveu a cidade” em seguida incêndio. O texto falava sobre a “psicose do queima”, explicava que os psicólogos diziam que, nesses casos, a população vivia ” física e psiquicamente as emoções do sinistro”.

Seguia dizendo que “em incêndios porquê o de ontem a mobilização é universal, criando a solidariedade da desgraça (…) A curiosidade popular dos primeiros momentos se transforma em angustia e todos querem saber se há parentes ou amigos em transe (…) no grande incêndio a cidade inteira participa, olhando, comentando, ajudando. O sinistro passa a ser um problema de toda a comunidade…

Prédio Joelma, na região mediano de São Paulo, durante incêndio em 1974. Foto: Pilha Estadão
No dia 1 de fevereiro de 1974, as chamas tomaram completamente o prédio Joelma, no meio, matando 187 pessoas. Foto: Pilha / Estadão
Dezenas de pessoas sobem no telhado do prédio para fugir do incêndio no prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão
Grupo de pessoas escapa por uma escada do Corpo de Bombeiros durante o incêndio no Prédio Joelma Foto: Pilha Estadão
Durante o resgateno incêndio do prédio Joelma , pessoas se desequilibram e rolam pela escada do caminhão do Corpo de Bombeiros, 01/02/1974. Foto: Pilha/ Estadão
Vítimas presasno incêndio do prédio Joelma tentam chegar até a escada dos bombeiros usada no resgate, 01/02/1974. Foto: Pilha/ Estadão
Bombeiros usambombeiros escadas prolongáveis no resgate do incêndio no prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/ Estadão
Página do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma. Foto: Pilha Estadão

O incêndio

Por volta das 8h30, as pessoas que passavam pelas calçadas da avenida Nove de Julho e da terreiro da Bandeira no meio da cidade, notaram a fumaça que saia das janelas do prédio Joelma. O expediente já havia começado para os funcionários do banco Crefisul, que ocupava os 25 andares do prédio, quando um problema com a instalação do ar-condicionado do 12º marchar provocou um pequeno rodeio e o queima que rapidamente se alastrou pelo prédio de salas acarpetadas, com forros de fibrilha e uma decoração repleta de cortinas e móveis de madeira.

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Princípio de incêndio no prédio Joelma. Brasil, São Paulo, São Paulo, 01/02/1974 Foto: Pilha/ Estadão
São Paulo viveu seu inferno há exatos 40 anos, quando o maior incêndio da história da cidade matou 187 pessoas e deixou outras 300 feridas no Prédio Joelma, na Avenida 9 de Julho, região mediano. O prédio, originalmente levantado em 1971, foi restaurado, rebatizado de Prédio Rossio da Bandeira e reinaugurado em 1978. Foto: Pilha/Estadão
Um curto-circuito provocou um incêndio no Prédio Joelma, na Avenida 9 de Julho, em 1974, matando 187 pessoas. Foto: Registo Estadão
Povaléu assiste da rua o drama das pessoas presas no incêndio no prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Página do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma. Foto: Pilha Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Página do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma. Foto: Pilha Estadão
Vista aérea do cinturão de proteção armado por policiais e bombeiros próximo ao Prédio Joelma, durante o incêndio em 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão
Bombeiros tentam resgatar com escadas as pessoas presas no incêndio do prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão

Em meia hora, as chamas tomaram conta de quatro andares. A subida temperatura e a fumaça tornaram impossível a circulação pelas escadas do prédio. Logo, o pânico e a histerismo tomou conta das pessoas. Contrariando as recomendações, alguns se arriscaram e se salvaram usando os elevadores, já que o prédio não possuía escadas de incêndio. Os elevadores foram utilizados até a paragem completa do sistema elétrico, o que ocasionou a morte de um ascensorista.

Bombeiros tentam resgatar com escadas as pessoas presas dentro do prédio Joelma em chamas, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão
Varão aguarda bombeiros do lado de fora de uma das janelas do prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/ Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

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Página do Estadão de 2/2/1974 sobre o incêndio do Prédio Joelma. Foto: Pilha Estadão

Memorial recente

Com a recordação ainda viva do incêndio no prédio Andrausocorrido quase dois anos antes, em 24 de fevereiro de 1972 – onde muitos foram salvos por helicóptero, algumas pessoas tentavam subir até o topo do prédio.

Mas, o Joelma não tinha heliporto e o calor intenso não permitia que as aeronaves pousassem com segurança no prédio. No caso do Joelma um conjunto de fatores tornou as condições ainda mais desesperadoras, os hidrantes do prédio não funcionavam, as mangueiras dos carros dos bombeiros não tinham pressão suficiente para conseguir todos os andares.

Helicóptero de salvamento tenta resgatar pessoas no topo do prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/ Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

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Estadão – 02/02/1974 Foto: Pilha/Estadão
Bombeiros combatem o queima e trabalham no resgate durante incêndio no prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão
Folhas de contatos fotográficos com imagens do incêndio do Prédio Joelma em 1974. Foto: Pilha Estadão
Folhas de contatos fotográficos com imagens do incêndio do Prédio Joelma em 1974. Foto: Pilha Estadão
Folhas de contatos fotográficos com imagens do incêndio do Prédio Joelma em 1974. Foto: Pilha Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Estadão – 02/02/1974 Foto: Pilha/Estadão
Uma jovem aliviada por conseguir evadir a salvo do incêndio no prédio Joelma, 01/02/1974. Foto: Pilha/Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Estadão – 02/02/1974 Foto: Pilha/Estadão

Estadão – 2 de feveireiro de 1974

Pregão do Crefisul publicado no Estadão de 02/02/1974 Foto: Pilha/Estadão

As providências em seguida a tragédia

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O laudo pericial do Instituto de Polícia Técnica sobre o incêndio foi concluído em março de 1974, reabrindo o debate sobre a revisão do Código de Obras de São Paulo. Em vigor desde 1934, o código nunca havia pretérito por um inspecção que o adequasse às novas condições da cidade e melhorasse seu sistema de prevenção e combate a incêndios.

Estadão – 13 de março de 1974

O Estado de S.Paulo – 13/3/1974 Foto: Pilha/ Estadão

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