Os documentos internos da chancelaria também revelam que o Itamaraty monitorou a prelo estrangeira de uma forma detalhada, principalmente quando o objecto é a suposta relação da família Bolsonaro com milícias. No dia 14 de março de 2019, a embaixada do Brasil em Estocolmo informou ao Itamaraty em Brasília que uma material no jornal sueco Dagens Nyheter traz “graves insinuações de vínculos do senhor presidente com facções criminosas do Rio supostamente envolvidas no violação”.
Em 13 de fevereiro de 2020, a embaixada do Brasil em Roma informou ao Itamaraty sobre um item no jornal La Repubblica, no qual se fazem “ilações difamatórias” em relação ao presidente Bolsonaro. O mensageiro, no telegrama, revela que mandou uma missiva à redação do jornal. Na informação, ele ainda repudiou o item e disse que defende a liberdade de prelo.
Em abril de 2020, o portanto ministro Ernesto Araújo, superintendente da diplomacia do governo de Jair Bolsonaro, não atendeu ao pedido da bancada do PSOL, que solicitou oficialmente os telegramas internos, instruções e documentos sobre possíveis orientações do Itamaraty a seus postos no exterior sobre o que deve ser dito em relação ao assassínio de Marielle Franco.
Apuração seria “o teste” do governo Lula, diz relator da ONU
A pressão sobre o Brasil não acabou com a guião de Bolsonaro nas urnas. No final de 2022, Clément Nyaletsossi Voule, relator da ONU sobre o recta à associação pacífica, afirmou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tinha a obrigação de prometer que a impunidade não prevaleça no caso do assassínio de Marielle Franco.
“Se o novo governo quer ser levado a sério, ele terá de mourejar com esse caso”, disse o relato. “Ele precisa prometer que as investigações cheguem até as pessoas que ordenaram o violação, e não somente até quem puxou o gatilho. Mas quem planejou e quem está na base disso”, disse. “Isso deve ser uma prioridade, inclusive para a imagem do Brasil”, destacou o relator.