Novembro 16, 2024
medalhas das brasileiras dão alegria, mas país não cumpre meta e acende alerta para 2028

medalhas das brasileiras dão alegria, mas país não cumpre meta e acende alerta para 2028

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Os Jogos de Paris-2024 terminam hoje, coroando o sucesso do esporte feminino brasileiro e, principalmente, da ginasta Rebeca Andrade, que se tornou a maior medalhista do país na história do evento. Por outro lado, o que se viu na capital francesa foi uma piora de praticamente todos os números do Brasil em relação a Tóquio-2020, justamente no ciclo olímpico com maior investimento até hoje.

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No quadro de medalhas, o Brasil encerra sua participação em 19º lugar (até ontem), com 3 ouros, 7 pratas e 10 bronzes, abaixo do 12º lugar alcançado no Japão, quando obteve seu melhor resultado: 7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes. A simples comparação do total de medalhas pode até não representar um número significativo (21 a 20), mas alguns dados por trás disso indicam um cenário preocupante para Los Angeles-2028.

O principal é a falta de renovação. Em Paris-2024, muitos rostos conhecidos repetiram o pódio olímpico: o canoísta Isaquias Queiroz, o corredor Alison dos Santos, a skatista Rayssa Leal e a pugilista Beatriz Ferreira, além de Rebeca. Porém, três anos mais velhos, alguns já anunciaram sua despedida, caso de Bia, que migra para o boxe profissional, ou a redução no programa: Isaquias vai se dedicar exclusivamente ao individual, e Rebeca não compete mais no solo nem no individual geral.

Medalhas — Foto: Editoria de Arte
Medalhas — Foto: Editoria de Arte

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Até mesmo quem não foi ao pódio em 2024 mas tem um currículo vitorioso, como as bicampeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze (vela), deve repensar o futuro e seguir caminhos diferentes.

Apenas três estreantes em Olimpíadas foram medalhistas em provas individuais ou em dupla: Beatriz Souza, ouro no judô; Willian Lima, prata no judô; e Augusto Akio, bronze no skate. Em Tóquio-2020, dois ouros, quatro pratas e cinco bronzes vieram de competidores de primeira viagem, sozinhos ou em duplas.

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Houve também uma redução no total de modalidades no pódio: 11, menos do que na Rio-2016 (12) e em Tóquio-2020 (13). Isso pode ser explicado pela ausência de novos esportes que conseguiram medalhas, o que não ocorria desde Atenas-2004. No Japão, o Brasil conquistou pódios pela primeira vez em sua história no tênis, no surfe e no skate. Além disso, esportes consagrados tiveram resultados decepcionantes na França: a vela não trouxe medalhas pela primeira vez desde Barcelona-1992; a natação também passou em branco e alcançou apenas quatro finais; e o boxe, que vinha de três medalhas no Japão, ganhou apenas um bronze.

A falta de novidades na delegação brasileira também atinge quem está em busca de uma medalha há pelo menos três ciclos. O mesatenista Hugo Calderano e o arqueiro Marcus D’Almeida estiveram nos Jogos pela terceira vez, enquanto a canoísta Ana Sátila pela quarta, mas todos seguem como únicas esperanças de pódio em suas modalidades.

Porém, tudo tem um lado bom: para o Brasil, foi a performance feminina em Paris. Na edição mais equitativa da história, mas que não chegou efetivamente à igualdade esperada, fica claro o caminho a seguir para subir no quadro geral de medalhas: somente mulheres brasileiras foram campeãs olímpicas em Paris-2024.

Ainda que o Time Brasil não tenha atingido a meta de medalhas estipulada, que era superar as 21 de Tóquio-2020, as mulheres garantiram o melhor resultado da história: 3 ouros, 4 pratas e 5 bronzes, 60% das conquistas brasileiras.

Dentre as 20 medalhas obtidas, brilhou a ginástica artística feminina, com quatro, inclusive um ouro no solo, com Rebeca Andrade superando Simone Biles e sendo reverenciada mundo afora. Ela foi o grande nome do Brasil e se tornou a maior medalhista do país em Jogos Olímpicos, com 2 ouros, 3 pratas e 1 bronze.

Já judô e vôlei, modalidades tradicionais, ficaram vivas graças às mulheres. Beatriz Souza foi campeã entre os pesados e Larissa Pimenta, bronze no meio-leve, além de Rafaela Silva decidir a disputa por equipes mistas contra a Itália. No caso do vôlei, preocupam os times masculinos, que saíram de mãos abanando, e cuja renovação não se mostra tão efetiva como no feminino, de onde vieram o ouro de Duda/Ana Patrícia e o bronze da equipe de quadra.

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Em entrevista ao GLOBO às vésperas dos Jogos, a gestora Júlia Silva, da área da Mulher no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil (COB), comemorava o fato de muitas confederações terem incluído projetos para o feminino em seu planejamento anual, sem contar com verba extra da entidade:

— Vimos um movimento diferente. Entenderam que é importante investir no feminino e que o resultado vem.

Já Taciana Pinto, gerente de Desenvolvimento Esportivo do COB, conta que a área de Mulher no Esporte recebeu em 2024 para o Programa de Desenvolvimento do Esporte Feminino um total de 79 projetos. Ainda que nem todos estejam diretamente relacionados ao alto rendimento, os resultados já começam a aparecer.

— Isso faz parte da corrida olímpica. Os países que perceberem este potencial e se movimentarem vão chegar antes. Não podemos ficar para trás. É uma mudança de cultura no planejamento das confederações — avalia Taciana.

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Nos Estados Unidos, a importância do investimento no esporte feminino é reconhecida há meio século, desde que uma lei, nos anos 1970, passou a oferecer oportunidades iguais para atletas nas escolas e universidades. Em Tóquio-2020, as americanas conquistaram 66 das 113 medalhas do país nos Jogos (58,4%).

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A tendência no Brasil vem se confirmando há menos tempo, mas os sinais são de evolução: foram cinco medalhas na Rio-2016, nove em Tóquio-2020 e 12 em Paris-2024. O mesmo ocorreu nos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023. Das 205 medalhas conquistadas, sendo 66 de ouro, 73 de prata e 66 de bronze, a maioria veio das mulheres: 33 de ouro (29 masculinas e 4 mistas).

Em Paris-2024, mesmo em modalidades sem medalhas, o esporte feminino brasileiro deixou boas impressões: Ana Sátila obteve o melhor resultado da canoagem slalom em Jogos Olímpicos (quarto lugar), assim como Giullia Penalber no wrestling (quinto); Juliana Vieira conquistou a primeira vitória de uma brasileira no badminton; e as mulheres alcançaram três das quatro finais da natação. Além do crescimento nos resultados, as atletas mulheres representaram 55% da delegação brasileira, 153 de 274.

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