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Morre Cacá Diegues, diretor de ‘Bye bye Brasil’ e ‘Deus é brasileiro’, aos 84 anos #ÚltimasNotícias #Brasil

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  • Em discurso de posse na ABL: Cacá Diegues alerta para tempos de polarização e vulgaridade

“Lamentamos profundamente a morte do cineasta e Acadêmico Cacá Diegues, aos 84 anos. (…) Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística ao abordar temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mas se manteve sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema”, lamentou a ABL em nota em seu perfil no Instagram.

Nos últimos tempos, Cacá vinha trabalhando na finalização de “Deus ainda é brasileiro”, continuação para sucesso de 2003 estrelado por Antonio Fagundes e Wagner Moura, com estreia prevista ainda para 2025. No último domingo, o cineasta se reuniu com amigos na casa de Zelito Vianna para dar um depoimento para o documentário “Divino Mestre Zu”, sobre Zuenir Ventura.

— O cinema brasileiro está em silêncio hoje. O Cacá era a voz do nosso cinema, uma pessoa acima de tudo generosa, que falava com todas as pessoas, do popular ao intelectual. Ele apontava para o Norte e iluminava o rumo — lamenta Walter Carvalho, diretor que registrou a última fotografia de Cacá. — Do grupo do cinema novo, ele era quem sabia colocar de forma política e cultural as questões do cinema com poesia. Ele era capaz de escrever sobre a economia do cinema com poesia. Ele tinha o gosto pela palavra, como tinha pela imagem do cinema.

Cacá Diegues registrado por Walter Carvalho em almoço com amigos, dias antes de sua morte — Foto: Walter Carvalho / Acervo pessoal
Cacá Diegues registrado por Walter Carvalho em almoço com amigos, dias antes de sua morte — Foto: Walter Carvalho / Acervo pessoal

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Nascido no dia 19 de maio de 1940, em Maceió, Alagoas, Carlos José Fontes Diegues se mudou ainda pequeno com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito na PUC, antes de ser completamente tomado pelo cinema.

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Ativo integrante do Centro Popular de Cultura (CPC), participa da única produção cinematográfica realizada pelo órgão: “Cinco vezes favela” (1961). À frente do episódio “Escola de samba, alegria de viver”, ele divide a direção do longa ao lado de Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias e Leon Hirszman.

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O primeiro longa solo veio dois anos depois, com “Ganga Zumba” (1963), estrelado por Antonio Pitanga e Léa Garcia, e que, segundo a “Enciclopédia do cinema brasileiro”, foi o primeiro filme nacional com protagonistas negros.

Antonio Pitanga em 'Ganga Zumba' — Foto: Divulgação
Antonio Pitanga em ‘Ganga Zumba’ — Foto: Divulgação

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Como outros cineastas de sua geração, Cacá teve o início de sua trajetória marcado por obras políticas e com preocupação social. Em “A grande cidade” (1966), centrou sua atenção na questão do imigrante na grande metrópole. Com o aumento da repressão no período da ditadura militar no país, Cacá deixa a realidade de lado e investe na metáfora em “Os herdeiros” (1969), voltando ao Brasil da revolução de 1930 para contar a história de um jornalista que entra, através do casamento, para uma família produtora de café e, aos poucos, vai revelando ambições políticas. A metáfora, no entanto, não caiu bem com o governo militar, que censurou o filme.

— Cacá era um dos pilares históricos do Cinema Brasileiro, não só pelos filmes importantes que fez, entre os quais está uma obra maior como “Bye Bye Brasil”, mas também pelo empenho na defesa do cinema brasileiro como um todo: instituições, crítica, pesquisa, ensino e preservação — destaca Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio. — Sendo cria da Cinemateca do MAM, onde realizou um filme de defesa da preservação do cinema Iris, em 1974, nunca deixou de fazer cinema sob todas as formas, exercendo a criação e pensamento críticos até o fim. Cacá deixa um grande legado para o cinema e a cultura brasileira

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Ainda em 1969, aproveitando um convite para participar do Festival de Veneza, Cacá deixa o Brasil e se radica em Paris, na França, contando com a companhia de sua esposa à época, a cantora Nara Leão. Após dois anos vivendo fora, retorna ao país em 1971, e realiza dois filmes aparentemente mais leves e menos ambiciosos, embora com claras conotações políticas. Assim nascem “Quando o carnaval chegar” (1972), estrelado por Nara, Chico Buarque, Maria Bethânia, Hugo Carvana e Antonio Pitanga, e “Joanna Francesa” (1973), com Jeanne Moreau.

Os anos seguintes marcariam o período de maior sucesso comercial do realizador. Em 1976, lança “Xica da Silva”, com Zezé Motta, em que retorna ao tema da escravidão 13 anos depois de “Ganga Zumba”. O filme foi visto por 3,2 milhões de espectadores no Brasil, segundo dados da Ancine. Na sequência, realiza “Chuvas de verão” (1978), com Jofre Soares e Míriam Pires, e “Bye Bye Brasil” (1980), com José Wilker, Betty Faria e Fábio Jr.. Com trilha sonora de Chico Buarque, o longa participou da mostra competitiva do Festival de Cannes.

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Como toda produção da época, Cacá sofre com as ações do governo Collor que desmantelaram o cinema nacional. No período, acaba realizando duas produções lançadas diretamente na TV: “Dias melhores virão” (1989) e “Veja esta canção” (1993), coproduzido por Zelito Viana. Em 1996, lança “Tieta do Agreste”, adaptação de Jorge Amado estrelada por Sonia Braga, Marília Pêra e Chico Anysio, e vista por 500 mil pessoas, número importante no período. Dois anos depois, dirige “Orfeu” (1998), com Toni Garrido e Patrícia França, uma adaptação de Vinícius de Moraes.

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Lançado em 2003, com Antônio Fagundes e Wagner Moura, “Deus é brasileiro” marcou o segundo maior sucesso comercial do realizador. O longa vendeu 1,6 milhão de ingressos. Em 2023, vinte anos depois, Cacá filma a continuação “Deus ainda é brasileiro”, que está em processo de finalização com previsão de estreia para 2025. Na obra, volta a trabalhar com a LC Barreto, empresa dos amigos Luis Carlos e Lucy Barreto que produziu “Bye Bye Brasil”.

— Muito difícil expressar o que a perda de Cacá Diegues significa para mim — lamenta Paula Barreto, diretora da LC Barreto e filha de Luis Carlos e Lucy. — Convivi com ele desde os tempos do Cinema Novo em nossa casa na rua 19 de Fevereiro, o QG do cinema novo. Para o Brasil, é uma perda tremenda. Nosso cinema fica sem uma de suas principais referências. Mas ele permanece vivo através de seus filmes. Muito triste que não tenha podido lançar “Deus ainda é brasileiro”. Mas o filme ficará pronto no meio do ano e será como se Cacá viesse mais uma vez nos abraçar e conversar sobre sobre a vida e sobre o Brasil.

Seu último filme lançado comercialmente foi “O grande circo místico”, exibido no Festival de Cannes e escolhido como representante brasileiro na corrida por uma indicação ao Oscar, em 2018. No mesmo ano, passa a ocupar a Cadeira 7 da ABL, após concorrer com 11 candidatos e receber 22 votos dos 24 acadêmicos presentes na eleição. Ele substitui o também cineasta Nelson Pereira dos Santos, tido como “pai do cinema novo” e de quem era amigo.

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Em 2019, Cacá lança “Todo domingo” (Cobogó), uma coletânea de 102 artigos escritos em sua coluna no GLOBO, e conquista o prêmio Faz Diferença na categoria Cinema, pelo trabalho em “O grande circo místico”.

Com o passar dos anos, o cinema de Cacá foi se destacando mais pelo afeto do que pela reflexão, tão presente nos primeiros passos. Ainda assim, o realizador nunca deixa de ser essencialmente político em sua luta pela inclusão e pela diversidade. Nos anos 1990, é fundamental na idealização do Núcleo de Cinema do Nós do Morro. Já em 2010, produz “5 X Favela, agora por nós mesmos”, o primeiro longa brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio.

— Sem ele, eu não teria sido. Eu e muita gente. É uma honra fazer uma ponta na vida desse gigante. Agradeço cada gesto de gentileza e inspiração — fala Rosane Svartman, cofundadora, com Vinicius Reis, do Núcleo de Cinema do Nós do Morro e parceira de Cacá em inúmeros projetos.

Do casamento com Nara, Cacá teve os filhos Isabel e Francisco Diegues. O diretor e a cantora se separaram em 1977, 12 anos antes da morte da artista. O cineasta volta a se casar em 1981, com Renata Almeida Magalhães, produtora com quem iria realizar boa parte de seus filmes. Os dois tiveram a filha Flora Diegues, falecida aos 34 anos, em 2019, vítima de um câncer.

Eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 2018, Cacá Diegues sucede o amigo e colega cineasta Nelson Pereira dos Santos na cadeira 7. Em seu discurso de posse, em abril de 2019, destaca:

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— Não preciso explicar o que significa, para mim, ocupar a cadeira que foi de Nelson Pereira dos Santos, nessa Academia. Às vezes, penso até que pode ter sido uma ousadia desavergonhada de minha parte, ter-me candidatado a ela. E peço licença para acrescentar que, mexe também com meu coração e minha excitação, pensar que era esse mesmo número 7 o que víamos às costas de um dos maiores gênios barrocos de nossa história, o incomensurável Garrincha.

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