Março 20, 2025
Mudanças climáticas: projeto reúne sonhos sobre proteção ambiental

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O ano de 2023 foi o mais quente já registrado no planeta. A confirmação do vestimenta foi feita na última terça-feira, 9 de janeiro, pelo serviço de monitoramento climatológico do observatório europeu Copernicus. Em meio a desastres naturais, ondas de calor e secas históricas, notícias uma vez que essa podem promover o que tem sido chamado por algumas pessoas de “ecoansiedade” ou “depressão climática”. “Quando os desafios parecem grandes demais, uma vez que é o caso do aquecimento do planeta, que intensifica nossos maiores problemas, há um grande risco de sermos tragados pelo desespero e pela resignação”, afirma a pesquisadora Mariana Leal de Barros, líder de um projeto que pretende mexer com as subjetividades coletivas, criando uma rede de laços sociais para enfrentar as mudanças climáticas.

Batizado uma vez que Jacarandá – sonhar em rede, em dezembro de 2023 o projeto começou a coletar relatos de sonhos com a temática do clima e seus impactos socioambientais. São sonhos, tanto de crianças quanto de adultos, cujos relatos constituirão um montão circulante. Pesquisadora associada do Laboratório de Etnopsicologia da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto, e do CERNE (Meio de Estudos de Religiosidades Contemporâneas e das Culturas Negras) da USP, Mariana conta que a construção do montão de sonhos é um desdobramento de sua pesquisa de pós-doutorado com jovens ativistas socioambientais negros e indígenas. Ela desenvolve ambos os projetos – o montão e a pesquisa de pós-doutorado – no núcleo Cebrap Sustentabilidade.

“No desenvolvimento do projeto com as jovens lideranças do clima, amparados na luta coletiva, percebi que havia muita gente sofrendo sozinha com as perspectivas catastróficas da emergência do clima. Uma vez que sou psicanalista, já ouvia alguns sonhos que associavam impactos das mudanças extremas do clima em minha clínica e notava que, ainda que haja sempre alguma coisa de um nos sonhos que me narravam, aqueles tinham conteúdos que valeriam ser ouvidos de forma mais ampla”, diz Mariana. “Fazemos essa aposta na geração de um montão circulante com relatos de crianças e adultos que têm sonhado o mundo para que também possamos ouvir uns aos outros”, explica.

O projeto Jacarandá está recebendo relatos de sonhos por meio de um formulário online e também pelo WhatsApp. Os relatos podem ser enviados por escrito ou por áudio. Também podem ser enviadas produções artísticas que o sonhador tenha desenvolvido a partir do sonho, uma vez que desenhos, por exemplo. Crianças e adolescentes podem participar com relatos enviados por seus responsáveis. O projeto manterá o formulário crédulo ao longo de todo o ano de 2024. Durante esse período, os pesquisadores vão compartilhar de forma anônima alguns relatos de sonhos nas páginas do projeto – por enquanto, o Jacarandá está somente no Instagram.

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“Poder endereçar seu sonho a alguém ou poder ouvir o que pessoas estão sonhando oferece figurabilidade e perímetro a essa situação distópica e sem sentido de ouvirmos cientistas falando em termo de mundo; saímos da ficção e fomos para a estatística, somos impactados com dados alarmantes sobre quando e uma vez que, e muito pouco se fala de saídas possíveis. O resultado disso é imobilismo, sofreguidão e depressão, um risco quando o fenômeno que vivemos exige nossa presença ativa na construção de alternativas coletivas”, afirma a pesquisadora, que é doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências de Ribeirão Preto da USP e em Sociologia e Antropologia pela Université Lumière Lyon 2, na França.

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Sonhar para projetar um horizonte dissemelhante

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Coordenador do Cebrap Sustentabilidade e supervisor do pós-doc de Mariana, Arilson Favareto afirma que o projeto é inovador por abordar a temática ambiental a partir de um paisagem menos sabido. “Uma risca de atuação do Cebrap Sustentabilidade analisa as condições de uma transição para a sustentabilidade nas formas de relação entre sociedade e natureza em tempos de mudanças climáticas. Em segmento isso envolve políticas, investimentos. É a face mais conhecida. Mas em segmento envolve também a subjetividade humana e a maneira uma vez que as pessoas percebem a crise climática, uma vez que angústia, e também uma vez que libido e projeção de um horizonte dissemelhante”, diz Arilson, que é professor da Universidade Federalista do ABC (UFABC).

Segundo Mariana, o libido de um horizonte dissemelhante tem aparecido em alguns relatos de sonhos já recebidos. É o caso de uma jovem de 25 anos que acrescentou um observação ao relato que enviou ao projeto, fazendo uma reflexão:

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“Eu me recuso a confiar que não há o que fazer. Eu não me conformo que não tenha o que fazer. Isso, talvez, me mostre que eu tenho uma esperança na humanidade que eu nem sabia que tinha.”
Margarida (pseudônimo), 25 anos

Relatos uma vez que o de Margarida também abrem uma janela para compreender as experiências das juventudes frente aos desafios colocados pela mudança climática e a possibilidade de uma transição sustentável. Na opinião do coordenador do Cebrap Sustentabilidade, isso é importante porque os jovens de hoje serão as lideranças na política, na economia e no ativismo social amanhã. Serão, portanto, os protagonistas da transição.

“Mas é preciso levar em conta que as mudanças climáticas afetam a todos, mas não de maneira igual. Entender uma vez que isso se manifesta de maneira diferenciada entre jovens negros, indígenas e outros segmentos também é fundamental para que se possa mourejar afirmativamente com a variedade e fazer disso um trunfo na transição para uma novidade ordem social”, alega Arilson.

É justamente porque a mudança do clima não afeta todas as pessoas da mesma maneira que os cenários mais drásticos descritos pelos cientistas podem ser argumentos ruins para provocar mobilização social. “É muito perigosa essa teoria de ‘termo de mundo’, de que não temos mais tempo. O termo começou agora para quem? Para quem o conforto foi comovido exclusivamente agora? A vida sem garantia de horizonte, empobrecida e ameaçada, já é vivida pela maior segmento da população mundial há muito tempo”, ressalta Mariana.

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