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No campo das artes, particularmente as cênicas, vez por outra, sobressai a figura dos chamados “não-atores”. Quando vão parar nos palcos ou nas telas, essas performances, sem o rigor das técnicas especializadas, se fundamentam pelo viço e verdade daquilo que é tido como espontâneo, genuíno. No memorável “Central do Brasil”, de 1998, o cineasta Walter Salles experimentou um sem-fim de crianças para o papel principal, muitas delas em processo de formação, até ser surpreendido pelo pequeno Vinícius de Oliveira trabalhando como engraxate no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Vinícius era o Josué que ele sonhava.
Um “não-ator” entrega sua expressividade mais fluída, sua conexão efetiva com alguma realidade específica, ao fluxo de uma criação que poderia se dar, sim, sem a sua presença. No caso do cinema, por exemplo, é o filme que faz um não-ator. Esse tipo “exótico”, alheio às rotinas do meio, se rende aos limites operativos de uma poética que, inclusive, condiciona sua existência. Com a política, a lógica deveria ser exatamente o mesmo. O “não-político” não é um “iluminado” que surge para renovar ou recuperar a política. É, em última instância, um político como outro qualquer, sem a experiência e a intimidade garantidas pelo tempo.
No Brasil pós-apocalipse de 2013, de tempos em tempos, têm surdido candidaturas com esse perfil. A história é sempre a mesma. Do nada, aparece alguém indignado com a política e, no entanto, disposto a entrar na política para provar que a política pode ser diferente. Não, não pode. Não, não existe mudança alguma com a promessa vindo de alguém que desconhece e deslegitima as regras de um jogo que nunca jogou. O discurso do “não-político” é mais vazio e falacioso que o pior discurso político. É um falso compromisso. É uma ilusão.
Eleger um “não-político” ou sonhar com a sua eleição, é negar a existência de uma engrenagem que funciona para além dos personalismos. Quando se coloca no lugar do enfrentamento, esse “não-político”, que seduz tanto quanto amedronta, revela sua incapacidade de lidar com um conjunto de ritos e práticas sem os quais a política simplesmente não existe. O “não-político” recente, esse que dá e leva cadeiradas nos debates, é uma invenção que não deveria ter sido inventada. A política existe também para formar políticos. n

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