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A semana começou mal e terminou ainda pior, com um acidente aéreo em Vinhedo (SP) que tirou a vida de 62 pessoas. O destaque intransigente na Folha para a cobertura das Olimpíadas, no entanto, só cedeu um pouco diante deste último fato trágico.
É mais do que justo que se coloque nas vitrines a disputa mundial que acontece a cada quatro anos. Diante do que ocorria fora do esporte, porém, o espalhafato às vezes soava deslocado da realidade.
Foi o que aconteceu na própria tarde de sexta (9). A notícia da queda do avião da Voepass foi publicada pela Folha às 14h01. Alguns minutos mais tarde, já havia a informação de que se tratava de uma aeronave de porte médio, num cenário em que se desenhava um acidente grave. Não levou muito tempo para a TV interromper a transmissão dos Jogos e entrar em plantão jornalístico.
No site da Folha, o maior destaque ia para a prata de Isaquias Queiroz na canoagem. Apenas no final da tarde o bloco festivo das Olimpíadas deu lugar ao noticiário trágico que se desdobrava em tempo real.
Já na segunda-feira (5), quando um susto nas bolsas orientais puxou para baixo negociações no mundo todo, era incrível notar que a home da Folha “do mercado”, como alguns leitores chamam o jornal em tom pejorativo, estava quase nem aí.
Não que o conteúdo não fizesse jus à agitação: ele existia, com uma equipe que se fortaleceu nos últimos anos, num esforço de aumentar a cobertura econômica do jornal. Mas o destaque dado a ele era pouco.
Quem abria o site da Folha encontrava uma humilde chamada avisando de queda nas Bolsas e disparada do dólar. Por um lado, parecia uma bem-vinda lufada de sobriedade num dia que dava margem a uma cobertura histriônica. Por outro, soou a descuido para quem estivesse intrigado pelo que se passava no resto do mundo, com o maior tombo em Tóquio desde 1987.
Não se tratava de pirraça, porém. O tremor financeiro estava em segundo plano porque havia um sismo também acontecendo nas Olimpíadas. Rebeca Andrade ganhava seu ouro, tornava-se a maior medalhista olímpica do Brasil e era reverenciada no pódio por Simone Biles e Jordan Chiles. A imagem da trinca virava ali, instantaneamente, um clássico (ainda que o próprio pódio tenha sido alterado neste sábado, com a troca do bronze das mãos de Chiles para as da ginasta romena Ana Barbosu).
Apenas no final daquele dia o espaço para a turbulência no mercado foi calibrado com algo mais potente. Chegou à manchete do papel como “Temor com economia dos EUA derruba Bolsas pelo mundo”.
A sorte é que o destempero do mercado passou e os índices se recuperaram no dia seguinte. Menos mau, porque assim o assunto poderia continuar no cercadinho das “principais notícias”, apartadas do espaço nobre agora ocupado só pela cobertura olímpica.
No dia seguinte, havia uma megaoperação na cracolândia paulistana com prisões de lideranças criminosas e de policiais, guardas e fiscais acusados de envolvimento no esquema. Mas era também o dia em que a seleção feminina de futebol se qualificava para a disputa do ouro. O topo olímpico continuou imbatível.
Não foi apenas no site que faltou destaque para notícias importantes. E o Google estava em duas das que tiveram pouco ou nenhum espaço na primeira página da edição impressa da Folha.
Uma foi a decisão judicial, nos EUA, de que a gigante das buscas violou a lei antitruste e agia para operar um monopólio. Ainda cabe recurso, mas as consequências para o Google e para as outras big techs já começam a ser colocadas na balança.
O veredicto lembrou outro caso importante, do ano 2000, quando a bola da vez era a Microsoft. Nessa ocasião, a notícia ganhou a manchete da Folha: “EUA condenam Microsoft por abuso”. Ainda cabia recurso e não havia penas estabelecidas, como é o caso agora com o Google, que teve um espacinho mirrado no pé da capa.
(A novela da Microsoft ainda se arrastaria, com dois sustos: a ordem judicial que dividia a empresa e a anulação dessa determinação, depois de o juiz ter falado com jornalistas sobre o processo. A condenação, porém, foi mantida.)
Três dias depois da decisão judicial, um furo do Financial Times mostrava o que seria uma “porta dos fundos” encontrada pela Meta e pelo Google para direcionar anúncios do Instagram a menores de idade no YouTube. A Folha corretamente republicou o material. Mas não achou que devesse destacá-lo em sua capa nem enviá-lo entre os “pushes”, os alertas para os leitores do app (o alerta a respeito da decisão judicial foi enviado no dia seguinte).
Numa época que finalmente decidiu colocar em questão o papel das redes sociais no mal-estar de crianças e adolescentes, é uma investigação que não parece trivial.
Acabou a Olimpíada? As notícias podem voltar a dominar seu espaço —mas com cuidado, porque agora começa a corrida com obstáculos rumo às eleições municipais.
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