Novembro 16, 2024
Notícia quente fica fora do pódio – 10/08/2024 – Alexandra Moraes – Ombudsman

Notícia quente fica fora do pódio – 10/08/2024 – Alexandra Moraes – Ombudsman

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A semana começou mal e terminou ainda pior, com um acidente aéreo em Vinhedo (SP) que tirou a vida de 62 pessoas. O destaque intransigente na Folha para a cobertura das Olimpíadas, no entanto, só cedeu um pouco diante deste último fato trágico.

É mais do que justo que se coloque nas vitrines a disputa mundial que acontece a cada quatro anos. Diante do que ocorria fora do esporte, porém, o espalhafato às vezes soava deslocado da realidade.

Foi o que aconteceu na própria tarde de sexta (9). A notícia da queda do avião da Voepass foi publicada pela Folha às 14h01. Alguns minutos mais tarde, já havia a informação de que se tratava de uma aeronave de porte médio, num cenário em que se desenhava um acidente grave. Não levou muito tempo para a TV interromper a transmissão dos Jogos e entrar em plantão jornalístico.

No site da Folha, o maior destaque ia para a prata de Isaquias Queiroz na canoagem. Apenas no final da tarde o bloco festivo das Olimpíadas deu lugar ao noticiário trágico que se desdobrava em tempo real.

Já na segunda-feira (5), quando um susto nas bolsas orientais puxou para baixo negociações no mundo todo, era incrível notar que a home da Folha “do mercado”, como alguns leitores chamam o jornal em tom pejorativo, estava quase nem aí.

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Não que o conteúdo não fizesse jus à agitação: ele existia, com uma equipe que se fortaleceu nos últimos anos, num esforço de aumentar a cobertura econômica do jornal. Mas o destaque dado a ele era pouco.

Quem abria o site da Folha encontrava uma humilde chamada avisando de queda nas Bolsas e disparada do dólar. Por um lado, parecia uma bem-vinda lufada de sobriedade num dia que dava margem a uma cobertura histriônica. Por outro, soou a descuido para quem estivesse intrigado pelo que se passava no resto do mundo, com o maior tombo em Tóquio desde 1987.

Não se tratava de pirraça, porém. O tremor financeiro estava em segundo plano porque havia um sismo também acontecendo nas Olimpíadas. Rebeca Andrade ganhava seu ouro, tornava-se a maior medalhista olímpica do Brasil e era reverenciada no pódio por Simone Biles e Jordan Chiles. A imagem da trinca virava ali, instantaneamente, um clássico (ainda que o próprio pódio tenha sido alterado neste sábado, com a troca do bronze das mãos de Chiles para as da ginasta romena Ana Barbosu).

Apenas no final daquele dia o espaço para a turbulência no mercado foi calibrado com algo mais potente. Chegou à manchete do papel como “Temor com economia dos EUA derruba Bolsas pelo mundo”.

A sorte é que o destempero do mercado passou e os índices se recuperaram no dia seguinte. Menos mau, porque assim o assunto poderia continuar no cercadinho das “principais notícias”, apartadas do espaço nobre agora ocupado só pela cobertura olímpica.

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No dia seguinte, havia uma megaoperação na cracolândia paulistana com prisões de lideranças criminosas e de policiais, guardas e fiscais acusados de envolvimento no esquema. Mas era também o dia em que a seleção feminina de futebol se qualificava para a disputa do ouro. O topo olímpico continuou imbatível.

Não foi apenas no site que faltou destaque para notícias importantes. E o Google estava em duas das que tiveram pouco ou nenhum espaço na primeira página da edição impressa da Folha.

Uma foi a decisão judicial, nos EUA, de que a gigante das buscas violou a lei antitruste e agia para operar um monopólio. Ainda cabe recurso, mas as consequências para o Google e para as outras big techs já começam a ser colocadas na balança.

O veredicto lembrou outro caso importante, do ano 2000, quando a bola da vez era a Microsoft. Nessa ocasião, a notícia ganhou a manchete da Folha: “EUA condenam Microsoft por abuso”. Ainda cabia recurso e não havia penas estabelecidas, como é o caso agora com o Google, que teve um espacinho mirrado no pé da capa.

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(A novela da Microsoft ainda se arrastaria, com dois sustos: a ordem judicial que dividia a empresa e a anulação dessa determinação, depois de o juiz ter falado com jornalistas sobre o processo. A condenação, porém, foi mantida.)

Três dias depois da decisão judicial, um furo do Financial Times mostrava o que seria uma “porta dos fundos” encontrada pela Meta e pelo Google para direcionar anúncios do Instagram a menores de idade no YouTube. A Folha corretamente republicou o material. Mas não achou que devesse destacá-lo em sua capa nem enviá-lo entre os “pushes”, os alertas para os leitores do app (o alerta a respeito da decisão judicial foi enviado no dia seguinte).

Numa época que finalmente decidiu colocar em questão o papel das redes sociais no mal-estar de crianças e adolescentes, é uma investigação que não parece trivial.

Acabou a Olimpíada? As notícias podem voltar a dominar seu espaço —mas com cuidado, porque agora começa a corrida com obstáculos rumo às eleições municipais.

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