A Filial Pública teve entrada restrito a uma nota interna que o presidente e diretor de operações do Nubank, Youssef Lahrech, enviou aos funcionários do banco na noite da última terça-feira, 18 de junho. Ele minimizou uma postagem feita pela cofundadora e diretora de propagação, Cristina Junqueira, na qual ela divulgava um evento promovido pela produtora Brasil Paralelo.
O banco esteve entre os assuntos mais comentados das redes sociais e sofreu poderoso reação de correntistas, que criticaram o tom usado pela diretora com a empresa ligada à extrema direita e ameaçaram fechar contas. As ações do banco caíram 1,18% no termo do dia.
Por que isso importa?
- Aproximações do Nubank com a Brasil Paralelo estão gerando reações na internet, desde que a cofundadora do banco, Cristina Junqueira, postou um invitação para um evento da produtora de extrema direita. A Filial Pública teve entrada restrito a uma nota interna, na qual o presidente do banco minimiza a postagem de Junqueira.
A nota de Lahrech foi publicada originalmente em inglês, em um sistema de comunicações internas do banco. Em tradução livre, ela diz que “@cris [Cristina Junqueira] postou uma nota de congratulação aos organizadores de um evento de lançamento de livro. O post da rede social de nenhuma maneira viola nosso Código de Conduta. Ele não apoia nenhum teor nem ponto de vista”. A Filial Pública pediu um posicionamento solene para o Nubank, mas ainda não recebeu resposta.

Junqueira postou no stories de seu Instagram pessoal o invitação que recebeu para participar da palestra de Jordan Peterson, um psicólogo canadense conservador espargido por ser antifeminista e crítico de movimentos LGBTQIA+. “Muito obrigada pelo invitação!”, ela escreveu.
O texto do invitação dizia que os organizadores, a Brasil Paralelo e a Fronteiras do Pensamento, estão “muito entusiasmados e honrados em proporcionar essa oportunidade aos nossos parceiros e amigos”. Pedia que os convidados compartilhassem em suas redes sociais marcando os perfis das empresas e do psicólogo – o que Junqueira fez.
Em outro trecho da nota enviada pelo sistema de comunicações do Nubank, Lahrech diz: “Nós gostaríamos de reiterar que Cris não tem nenhuma parceria com os organizadores deste evento, nem o Nubank patrocina ou apoia nenhuma destas organizações”. O presidente da empresa disse também que o banco não tem posições políticas nem contribui direta ou indiretamente com movimentos políticos ou religiosos. Diz ainda que “o código de conduta da empresa respeita a liberdade de sentença de seus funcionários e que rejeita qualquer tipo de discriminação ou assédio” [tradução livre].
A nota do presidente não repercutiu muito entre os funcionários do banco. “Essa associação com a Brasil Paralelo é dolorida”, disse um dos empregados ouvidos pela Públicafalando de modo reservado para evitar retaliações. Outros lembraram que “Junqueira é uma figura pública e que a associação com a Brasil Paralelo não poderia ser considerada uma mera opinião política”.
Outro funcionário lembrou que “não é a primeira vez que a diretora se envolveu em polêmicas”se referindo à participação da executiva no programa Roda Vivada TV Cultura, em 2020. Na ocasião, ela disse que “não dá para nivelar por ordinário” ao comentar a dificuldade de contratar pessoas negras para posições de liderança no Nubank.
Junqueira costuma curtir posts ligados à direita nas redes sociais e pelo menos em outras duas ocasiões postou stories mostrando proximidade com o campo ultraconservador.
Em um deles, ela compartilhou no Instagram que estava fazendo um curso de filosofia de Guilherme Freire, que foi “diretor, Head of Product da Brasil Paralelo, além de fundador da plataforma de streaming, BPSelect”, uma vez que ele próprio se define. Junqueira escreveu sobre o curso: “Boa dica para quem quer investir em evoluir uma vez que pessoa”.
Em outro story no Instagram, Junqueira disse que ela e o marido fizeram um curso do padre Paulo Ricardo – religioso ultraconservador que já empunhou um fuzil ao lado do guru bolsonarista Olavo de Roble. Ela falou que achou o curso “muito bacana”.


A nota do presidente do Nubank cita também Konrad Scorciapino, um ex-funcionário do banco que atualmente é o diretor de tecnologia da Brasil Paralelo. Ele foi um dos criadores de um fórum online que propagava crimes de ódio, conforme foi revelado pela Pública no início de junho.
“Sobre um ex-funcionário (2013-2018) que depois se tornou diretor da Brasil Paralelo, nós gostaríamos de reiterar que, por lei, nós não comentamos sobre as questões pessoais ou o pretérito de funcionários ou ex-funcionários. Nubank tem mecanismos e protocolos para calcular o comportamento dos funcionários, e não toleramos nenhuma atividade ilícito ou quebra do nosso código de conduta”, ele escreveu.
No entanto, informações do Intercept Brasil também apuradas pela Pública mostram que o Nubank tomou conhecimento da atuação do ex-funcionário no fórum com atividades ilegais em 2016, mas agiu para arrebatar a situação e o manteve no função por dois anos.
A Pública revelou também que a Brasil Paralelo tem agido para ampliar o seu relâmpago de influência. A produtora criou o teor de um curso de licenciatura em história oferecido por uma universidade privado, coordenado por Rafael Nogueira, olavista que presidiu a Livraria Pátrio durante o governo Bolsonaro. A Brasil Paralelo também planeja penetrar cursos de formação de professores de geografia e ciências sociais.
A empresa, alinhada à extrema direita, segue uma das máximas de Olavo de Roble: “ocupar espaços nos meios de ensino, cultura e entretenimento para difundir seus ideais”.