Muitas vezes os clássicos terminam em partidas amarradas. Há tanta coisa em jogo que o susto de perder prevalece e a tensão toma conta do gramado. Pátrio e Peñarol, ainda assim, entregaram um duelo entusiasmado neste sábado, pelo Torneio Recolhimento do Campeonato Uruguaio. O jogo teve suas doses de confusão, simples, com duas expulsões para cada lado – sendo dois reservas e dois titulares de cada time. Essa paridade também prevaleceu no placar, com o empate por 2 a 2. O Pátrio embalou sua torcida ao permanecer duas vezes em vantagem no Gran Parque Medial, mas o Peñarol buscou a reação no final e praticamente encerrou as esperanças de título dos rivais.
O Gran Parque Medial estava com uma atmosfera contagiante. O estádio ficou repleto, com grande sarau da torcida do Pátrio na recepção aos times e mesmo no pausa. Em situação sátira no Campeonato Uruguaio, o Bolso precisava da vitória de qualquer maneira. A força dos torcedores seria muito bem-vinda a um time que até mudou de treinador recentemente, com a promoção do velho ídolo Álvaro Recoba à casamata. No entanto, o Peñarol atravessa melhor período na competição doméstica, também dirigido por uma velha figurinha carimbada da seleção uruguaia – o ex-defensor Darío Rodríguez, contemporâneo de Chino Recoba.
E porquê pode não ter #SelfieCarbonera se continuarmos 20 para cima. pic.twitter.com/SjRic34SCR
– PEÑAROL (@OficialCAP) 11 de novembro de 2023
Uma vez que foi o jogo
O Pátrio tentou ditar o ritmo da partida durante o primeiro tempo. As principais jogadas do time vinham pelo cocuruto, em procura do centroavante Gonzalo Carneiro – aquele mesmo, ex-São Paulo. Logo aos três minutos, o goleiro Guillermo De Amores fez uma grande resguardo para salvar o Peñarol, na testada do atacante. Porém, a partida era aquilo que se imaginava de um clássico uruguaio: truncada e com muitas faltas. O Pátrio tinha mais a esfera, mas o Peñarol se protegia, mesmo restrito à resguardo. Os tricolores só voltaram a encontrar espaço aos 31 minutos, com o primeiro gol. Leandro Lozano cruzou, Carneiro aparou de cabeça e Juan Ignacio Ramírez guardou no barbante.
O tento deixou a partida mais quente. E, numa falta, logo se desatou uma pendência generalizada. Foram minutos de paralisação, com os dois times se estranhando e até membros das comissões técnicas se pegando. No termo das contas, quatro jogadores terminaram expulsos. Dois deles eram titulares: o meia Franco Fagúndez, do Pátrio, e o zagueiro Léo Coelho, do Peñarol – brasiliano que passou recentemente pelo Bolso. Pelas imagens exibidas na transmissão, ambos não agrediram ninguém, mas deixaram o campo alegadamente por insultos. O perito, consciente da “entidade mística” dos goleiros reservas brigadores no futebol sul-americano, também mandou para o chuveiro Thiago Cardozo e Ignacio Suárez. O assistente de Recoba, Nelson Abeijón, também não pôde permanecer mais à ourela do campo. O jogo em si, quando retomado, terminou morno rumo ao pausa.
Já o segundo tempo chamou muito mais atenção pelo futebol. O Peñarol empatou logo aos dois minutos, com uma jogadaça. Matías Arezo estava de costas para a marcação e escapou com um toquinho de calcanhar, aplicando um chapéu belíssimo. Abriu o contra-ataque e deu o passe em profundidade para José Neris, que exclusivamente teve o trabalho de definir na saída do goleiro Salvador Ichazo. O Pátrio voltaria a permanecer em cima, em procura da vantagem. O novo gol tricolor aconteceu aos 18, com ajuda de Diego Zabala, que havia feito de entrar em campo. O substituto escapou no meio de dois na lateral direita e buscou Gabriel Báez no segundo pau, com um pontapé quase sem ângulo que superou o goleiro De Amores.
A partida mudaria de cena depois disso. O Peñarol passou a tomar a iniciativa e a buscar o novo empate. Não era uma partida luminoso dos carboneros, com dificuldades na geração de jogadas. Ainda assim, a persistência deu resultado e o segundo gol pintou aos 42. A esfera paragem encurtou o caminho. Sebastián Rodríguez cobrou uma falta na intermediária e o intercepção chegou na medida para uma cabeçada potente de Lucas Hernández, sem chances de resguardo para Ichazo. Foi um resultado arrancado pelos aurinegros mais na vontade do que na qualidade, mas suficiente para mexer com os rumos do campeonato.
Pátrio por um fio
O Peñarol ocupa a segunda colocação no Torneio Recolhimento. Tem 18 pontos, quatro inferior do embalado Liverpool, que venceu os carboneros na rodada anterior e acumula seis triunfos consecutivos. Já o Pátrio é o modesto sexto posto, com 13 pontos, contabilizando só uma vitória nas últimas quatro rodadas. Com seis partidas pela frente, só um milagre para permitir os tricolores tirarem nove pontos de diferença em relação aos líderes.
Vale lembrar que o Campeonato Uruguaio possui um regulamento intrincado. Os campeões de Apertura e Recolhimento vão à semifinal da período decisiva do torneio, enquanto o time com melhor pontuação totalidade ganha vaga diretamente na final. Assim, o Pátrio poderia ter uma segunda chance na tábua anual. Porém, são oito pontos detrás no momento. O Peñarol ganhou o Apertura e lidera a tábua anual, o que daria uma vaga direto na final. Todavia, o Liverpool desponta para vencer o Recolhimento e está exclusivamente um ponto detrás da tábua anual. A pendência pelo título deve permanecer entre os dois.