Maio 6, 2025
O que você compraria se o mundo estivesse acabando? – 29/05/2024 – Joanna Moura

O que você compraria se o mundo estivesse acabando? – 29/05/2024 – Joanna Moura

Continue apos a publicidade

Outro dia me deparei com um item do qual título me chamou atenção:

“O Mundo não vai finalizar”, ele dizia. E, por um milésimo de segundo, suspirei aliviada, acreditando ser verdade, apesar de todas as indicações contrárias. Mas o título não terminava aí.

“O mundo não vai finalizar. Mas vai.”

Pronto. Lá se foi aquele frágil fiapo de esperança. Segui lendo, tentando buscar no item alguma outra boia de salvação, mas encontrei o exato oposto. Segundo o texto, o termo do mundo não será resultado de um meteoro que instantaneamente nos fará vanescer do planeta, uma vez que mostram os filmes de ação, mas sim de um meteoro que já colidiu conosco faz tempo, mas que só agora começamos a sentir mais intensamente seus efeitos. Sim, a catástrofe climática não é porvir, ela já está entre nós.

Continue após a publicidade

Infelizmente, tive que concordar com o tal item. Basta olhar ao volta, ou vincular a TV, ou furar as redes sociais para ver que o cenário não é dos mais positivos, e o presente já não parece um lugar zero amigável. Enchentes nunca antes vistas, recordes de temperatura nos oceanos, geleiras derretendo, secas que parecem não ter termo e geram queimadas que parecem lamber regiões inteiras. Isso sem falar em tudo aquilo que, nós humanos, seguimos fazendo a despeito da ciência, da pesar e do bom tino gritarem pelo contrário.

A exuberância de desgraça é tanta que deu origem ao termo: “doom scrolling”, ou, numa tradução literal, alguma coisa uma vez que “navegação apocalíptica”, ou seja, o ato de velejar pela internet pulando de uma notícia ruim para outra pior ainda.

E diante de toda essa incerteza, ou melhor, diante da certeza de que estamos vivendo tempos difíceis, haveria de se esperar que estivéssemos olhando ao volta e priorizando o que de vestuário nos é mais rico. Mas a proliferação de desastres em nossas timelines parece ter outro efeito: o consumo.

Estamos comprando e comprando muito e, por incrível que pareça, uma parcela significativa desse consumo pode ser consequência direta deste mesmo apocalipse que estamos experimentando em doses não tão homeopáticas. O fenômeno também já tem nome e deriva justamente daquele já mencionado. O “doom spending” é o termo que se dá à combinação do “doom scrolling” e a consequente vontade incontrolável de comprar coisas online (das quais obviamente não precisamos).

Continue após a publicidade

Uma pesquisa realizada no ano pretérito nos Estados Unidos demonstrou que as gerações mais novas estavam principalmente sujeitas a esse tipo de comportamento, com 35% dos jovens pertencentes à geração Z e 43% dos millennials confirmando que consomem mais quando se sentem estressados ou sobrecarregados.

O comportamento pode ser explicado uma vez que uma ressarcimento para a sensação de falta de controle que sentimos diante do cenário que se apresenta à nossa volta. Um cenário, diga-se de passagem, principalmente sombrio para essas gerações mais jovens que, além das mudanças climáticas, enfrentam as incertezas de um mercado de trabalho que pressiona jovens para a informalidade ou o “empreendedorismo”, oferecendo cada vez menos em troca, além de um quadro econômico extremamente volátil.

E no meio de tudo isso, entre uma notícia apocalíptica e outra, uma influenciadora lhe mostra seus “achados” da mais novidade ultra fast fashion a aterrissar em terras brasileiras. O vestido custa somente 30 reais. Cabe no seu bolso. E está a um clique de intervalo. Você clica, passa o cartão, recebe a confirmação da compra. E assim, diante da falta de controle sobre o apocalipse já em curso, aquela compra surge uma vez que uma fuga, um pequeno ato de rebeldia contra a incerteza. E essa sensação de controle em meio ao caos, apesar de fugaz, é absolutamente viciante.

Continue após a publicidade

O problema é que ela contribui a limitado, médio e longo prazo, para mais incertezas. Doom spending é ruim para a conta bancária de quem consome e para o planeta, cujos recursos seguem explorados à exaustão para suprir demandas supérfluas. Portanto, a próxima vez que você precisar de um belo trago de controle para mourejar com o apocalipse, sugiro zelar o cartão de crédito e assar um bolo.

Uma vez que segmento da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura do dedo gratuito


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul inferior.

Fonte

Continue após a publicidade
Continue após a publicidade

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *