Fator socioeconômico e situação de moradia também podem intensificar risco de mortalidade em eventos climáticos extremos, sendo o insensível mais associado a doenças do coração e o calor a acidentes vasculares cerebrais

Gabriela Ferrari Toquetti*
Nos últimos dias, o Brasil vem registrando recordes de temperaturas. A última segunda-feira (15 de novembro) foi o dia mais quente de 2023 na capital paulista, alcançando a máxima de 37,4ºC, que foi repetida no dia seguinte, terça. Os dados são do Meio de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo.

Eventos climáticos extremos uma vez que levante aumentam os riscos à saúde, uma vez que confirmado em pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em tese de doutorado, a pesquisadora Sara Lopes de Moraes analisou o impacto das ondas de insensível e de calor na mortalidade de pessoas com 65 anos de idade ou mais em São Paulo. A pesquisa aponta que as pessoas mais afetadas e com maior risco de mortalidade estão na periferia da cidade, sendo o insensível mais associado a doenças do coração e o calor a acidentes vasculares cerebrais.
A questão das mudanças climáticas tem estado em destaque nos últimos anos, e a pesquisadora conta que queria colaborar com políticas públicas na superfície de clima e saúde. “As pessoas idosas são as mais vulneráveis, pois seu sistema fisiológico é mais debilitado e elas podem apresentar doenças preexistentes uma vez que hipertensão, problemas cardiovasculares e diabete”, explica Sara Lopes. Por isso, eventos extremos de temperatura aumentam o risco à saúde desse grupo.
Vulnerabilidade
Mas a vulnerabilidade não está relacionada exclusivamente às condições genéticas e fisiológicas, uma vez que também ao fator socioeconômico e à situação de moradia. A pesquisa revelou que as pessoas mais afetadas pelas ondas de calor e de insensível encontram-se nas periferias da cidade de São Paulo.
Aliás, as pessoas de baixa renda apresentam maior risco de mortalidade quando comparadas às de classes mais abastadas. A pesquisadora concluiu, também, que as ondas de insensível estão associadas principalmente às doenças cardiovasculares e isquêmicas do coração, enquanto as ondas de calor tendem a provocar acidentes vasculares cerebrais.

Para combater os impactos dos eventos climáticos extremos, Sara Lopes destaca a valimento da geração de áreas verdes e da redução dos gases causadores do efeito estufa. Ela opina, ainda, que os projetos da Prefeitura podem ser expandidos para além das pessoas em situação de rua, protegendo também os moradores das periferias e os trabalhadores que passam muito tempo no transporte público.
No Canadá, por exemplo, existem locais de resfriamento durante as ondas de calor, que fornecem ar condicionado e hidratação para aqueles que precisam. Por termo, a pesquisadora sugere que os jornais alertem a população quanto aos riscos gerados pelas mudanças no tempo.
*Assessoria de Informação da FFLCH, com edição de Júlio Bernardes