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Severino Francisco
Com surpresa, recebi a notícia de que Clodo, Clésio (post mortem) e Climério (de viva presença) serão homenageados pela Câmara Legislativa do DF com o título de cidadãos honorários de Brasília. Nada mais justo. Algumas vezes, essa Câmara concede títulos a pessoas que ninguém sabe dizer porque ganharam tal distinção. Mas, no caso dos irmãos Ferreira, não poderia haver decisão mais acertada. Ainda que tardia, é muito bem-vinda porque eles merecem por tudo que fizeram por Brasília.
Eles deram uma contribuição visível e invisível para a cidade. Antes do rock da era de ouro da década de 1980, da Legião Urbana, do Capital Inicial e da Plebe Rude, eles levaram o nome de Brasília para as emissoras de rádio, nos programas de tevê, as telenovelas, os botecos, as praias e os forrós com canções como Revelação, Ave coração, Cebola cortada, Enquanto engoma a calça ou Riso cristalino.
Nós sabíamos que eles eram bons, os shows dos irmãos piauienses sempre lotaram os teatros da cidade, muito antes de gravar discos ou de fazer sucesso nas vozes de Fagner, Tim Maia, Milton Nascimento, Zizi Possi, MPB4, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Nara Leão e Wando.
Eles são amadores na acepção mais alta da palavra. São amantes da música e da poesia, nunca deixaram de ser professores, jamais fizeram pose por causa da fama. A música sempre foi a profissão do sonho: “A minha mãe dizia no seu silêncio agrário/a profissão do sonho não tem salário”, escreveu Climério.
Sempre mantiveram a postura de humildade, despojamento e desprendimento. E , aqui, entra a dimensão invisível da contribuição dos três irmãos piauienses. Além de comporem lindas canções, eles contribuíram para a formação de várias gerações de brasilienses, estimularam os artistas iniciantes, fizeram parcerias com músicos neófitos. Climério escreveu poemas para homenagear 50 poetas da cidade na passagem dos 50 anos da capital modernista. Sem deixar de ser piauienses, eles se tornaram mais brasileiros em Brasília.
Ao longo da vida, recebemos homenagens não oficiais, imprevistas, imprevisíveis e acidentais. E isso ocorreu também com Climério. Certa vez, havia um bar particularmente ruidoso, embaixo do bloco onde Climério e a companheira Heloísa moravam na Asa Sul. Algumas vezes, as cantorias varavam a noite e se estendiam até a madrugada. Eles são tolerantes, mas ocorre que, naquela época, tiveram o primeiro filho Matias e ele não conseguia dormir com algaravia dos boêmios da noite brasiliana.
Então, Helô pediu a Climério que descesse e convencesse os boêmios a cantar um pouco mais baixo em atenção ao sono do Matias. Todos sabem que é delicado solicitar aos frequentadores de um bar, a altas horas, com muitas cervejas na corrente sanguínea e grau etílico elevado, para que reduzam os decibéis do entusiasmo. Climério buscou o fôlego, se concentrou, foi até a janela sondar o território e voltou desalentado.
Helô perguntou aflita: “E aí, pediu a eles para cantar mais baixo?”. “Não tive coragem”, respondeu Climério, envergonhado. Enquanto isso, no ápice do pileque, era possível ouvir o bar inteiro entoar, a plenos pulmões: “Arrepare não, mas enquanto engoma a calça/eu vou lhe contar/uma história bem curtinha/fácil de contar/Porque cantar parece com não morrer/é igual a não se esquecer/e a vida é que tem razão/como é triste a nossa vida de artista/depois de perder Vilma pra São Paulo/perder Maria Helena pro dentista”.
PS: Vamos prestigiar a homenagem aos irmãos Ferreira, amanhã, às 19h, na Câmara Legislativa.
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