A independência do Panamá completa 120 anos – um processo com causas diversas e implicações para a região que duram até hoje
- Responsável, Redação
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Os dois países eram um só no final do século 19 e início do século 20, quando o território panamenho começou a ser altamente cobiçado.
Naquela estação houve uma espécie de licitação internacional pelo Panamá, na qual a Colômbia, apesar de ter diversas vantagens, acabou perdendo.
Mas uma vez que ocorreu a separação entre Panamá e Colômbia?
A BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol) revisitou esta história, para entender uma vez que uma guerra sangrenta, uma teoria revolucionária e um tratado complicado levaram o Panamá a deixar de fazer segmento da Colômbia há 120 anos.
Panamá na Colômbia
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Planta de Novidade Granada em 1818, de Jhon Pinkerton
No século 19 e posteriormente a independência da Espanha, foi criada a Grande Colômbia (ou Grã-Colômbia). Um país que incluía segmento do que hoje são Equador, Venezuela, Panamá e Colômbia.
Portanto, em 1830, a Venezuela e o Equador se separaram e o país foi renomeado uma vez que Novidade Granada e, mais tarde, Colômbia.
Entre 1850 e 1880, a Colômbia era um Estado federalista, que garantia a liberdade religiosa e baseava sua organização política e administrativa na imensa volubilidade cultural e econômica do seu território, que incluía o Panamá.
“O Panamá foi muito importante para a Colômbia e recebeu atenção considerável do governo medial”, explica a historiadora panamenha Marixa Lasso à BBC News Mundo.
“Os panamenhos também desempenharam um papel importante na história colombiana. Foram até presidentes”, acrescenta.
Porém, no final do século 19, chegou ao poder um partido conservador que impôs um padrão de Estado concentrado, estabeleceu uma relação estreita com a Igreja Católica e defendeu o legado dos colonizadores espanhóis.
Esse período é espargido uma vez que Regeneração e deu origem, em 1886, a uma Constituição muito questionada.
A principal objeção era que a Missiva Magna enfraquecia o poder dos nove Estados soberanos que compunham o país, que se tornaram entidades político-administrativas dependentes do governo medial de Bogotá, a capital.
Uma dessas entidades foi o istmo do Panamá, localizado entre os oceanos Atlântico e Pacífico, e que também não se alinhava com a preponderância conservadora.
“O Panamá desempenhou um papel de liderança na história do federalismo colombiano. Os panamenhos tinham uma grande vocação federalista e autonomista e se ressentiam dos governos centralistas colombianos”, diz Lasso, autora do livro Histórias perdidas do Ducto do Panamá (Histórias perdidas do meato do Panamá, em tradução livre, sem edição no Brasil).
E foi esta tensão política, que se espalhou por toda a Colômbia, que serviu de prelúdio para uma guerra social que mais tarde facilitaria a interferência internacional.
Na guerra
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Tropas colombianas em Colón, Panamá, em novembro de 1902
Na Colômbia, os dois partidos políticos tradicionais, o liberal e o conservador, têm historicamente entrado em conflito de forma muito violenta.
Mas talvez o confronto mais emblemático tenha sido a guerra que ocorreu entre 1899 e 1902 e é conhecida uma vez que Guerra dos Milénio Dias.
Foram três anos de batalhas sangrentas que ocorreram uma vez que resultado da reação de conservadores moderados e liberais que se opuseram à Regeneração e à Constituição de 1886, por considerá-la autoritária.
Uma percepção que era compartilhada pelos panamenhos.
“O Panamá tinha uma população majoritariamente liberal. E no final do século 19 havia um insatisfação enorme com o centralismo conservador da Constituição de 1886”, diz Lasso.
No final, os conservadores venceram a guerra e começou o que ficou espargido uma vez que preponderância conservadora.
“O término da guerra com a vitória solene dos conservadores e a realização judicial do general liberal Victoriano Lorenzo, que era indígena panamenho, só aumentou o insatisfação entre as maiorias liberais”, lembra Lasso.
Somado a isso, estava o vestimenta de que o resultado da guerra foi desastroso.
Tapume de 3% da população morreu, as infraestruturas e a indústria foram destruídas, a inflação e a dívida externa dispararam e milhares de pessoas deixaram as cidades.
Naquele momento da história era simples que a unidade de um país concentrado pela escol de Bogotá era bastante frágil.
Portanto, uma tentativa de separar qualquer uma das regiões poderia ter chance de sucesso.
A teoria de unir os oceanos
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Planta do Ducto do Panamá, construído entre 1881 e 1914 no istmo do Panamá
É neste contexto de tensão política e pós-guerra que se materializa a teoria visionária de travessia do Oceano Atlântico ao Pacífico através do território centro-americano.
Mas essa não era uma teoria novidade. Desde a colônia existiram projetos que buscaram unir os oceanos.
No final do século 19, já existiam estradas-de-ferro, mas à essa profundeza a revolução industrial estava em plena expansão e as grandes potências capitalistas uma vez que o Reino Uno, a França e os Estados Unidos começaram a pressionar pela relação entre os oceanos.
Leste projeto de meato representava a joia da grinalda porque permitiria a quem o administrasse ter o controle de uma rota que transformaria o negócio mundial.
A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando Bogotá concedeu a licença para a construção do meato ao engenheiro Ferdinand de Lesseps, francesismo que acabara de edificar o Ducto de Suez, no Egito.
Mas as doenças dos trabalhadores, muitos deles escravos africanos, a umidade do território e as chuvas constantes levaram o projeto francesismo à bancarrota.
E é aí que o interesse dos Estados Unidos nessa rota marítima se junta à dificuldade do Estado colombiano de manter o controle do seu território.
Ainda mais quando uma de suas regiões, o Panamá, estava separada do núcleo administrativo pela imensa e intransponível selva de Darién.
O papel dos Estados Unidos
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Ou o colombiano Tomás Herrán ou o americano John Hay
Naquela estação, os Estados Unidos eram uma potência emergente que acabava de lucrar o controle de Porto Rico e Cuba e sabia interpretar a crise interna colombiana uma vez que uma grande oportunidade.
O país norte-americano propôs remunerar US$ 40 milhões de dólares pela licença da construção do meato.
Esse convénio materializou-se com o tratado Herrán-Hay entre a Colômbia e os EUA, que estabeleceu as diretrizes para a licença e foi fechado entre o secretário de Estado dos EUA, John Hay, e o ministro colombiano Tomás Herrán.
Foi uma negociação complexa, que também contemplou a possibilidade da construção do meato na Nicarágua, mas levou em conta que os franceses já haviam feito um investimento inicial vultoso no Panamá.
Assim, ficou finalmente resolvido que o meato seria construído no Panamá com capital norte-americano, que por sua vez seria pago à Colômbia e à empresa francesa.
O Congresso colombiano se opôs a vários pontos do tratado, alegando que ele violava a soberania do país. E, em 5 de agosto de 1903, Bogotá informou que rejeitava o documento.
Esta decisão da Colômbia acabou por dar origem à separação do Panamá.
“Quando a Colômbia rejeita o tratado Herrán-Hay, e havia boas razões para rejeitá-lo, vários fatores se combinam em prol da independência do Panamá da Colômbia”, diz Lasso.
Por um lado, explica a historiadora, os panamenhos saíam da crise provocada pela Guerra dos Milénio Dias e o meato era visto uma vez que uma salvação para seus problemas internos.
Por outro lado, havia grande insatisfação no Panamá com o governo conservador e com a guia liberal na guerra.
Finalmente, os Estados Unidos encontraram nesta insatisfação panamenha “uma magnífico oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interferência da Colômbia”.
E foi logo que o Panamá ignorou a repudiação do tratado e, em coligação com os Estados Unidos, que afirmaram que interviriam caso houvesse retaliação militar da Colômbia, declarou independência em 3 de novembro de 1903.
Crédito, Wikipédia Geral
“Naquele dia, oito navios de guerra norte-americanos estavam estacionados nos oceanos Atlântico e Pacífico sob as ordens do vice-almirante Coghlan e do almirante Glass”, descreve o historiador colombiano Alfonso Múnera no texto Fronteiras Imaginárias.
Ele cita o relato do general colombiano Rafael Reyes para reconstruir o cenário.
Múnera escreve que Reyes “não pôde pôr os pés no Panamá e, preocupado, escreveu ao presidente (colombiano) aconselhando-o a ser muito cauto, para evitar que 40 navios de guerra norte-americanos tomassem, além do Panamá, as cidades de Medellín e Cali”.
Onze anos depois, em 1914, a Colômbia concordou com os EUA em reconhecer o Panamá e resolveu disputas territoriais e fronteiriças. Isto em troca de uma ressarcimento de US$ 25 milhões.
Hoje, mais de um século depois, esta é uma história em que o papel desempenhado pelos Estados Unidos continua a ser tema de debate.
Quanto mais relevância é dada ao papel daquele país, menos heroica parece a independência do Panamá.
“Os panamenhos enfatizam sua atuação nesta separação. Embora seja reconhecido o papel desempenhado pelos EUA, lembram-se que a Independência de 1903 foi a última tentativa de uma longa lista de tentativas separatistas que ocorreram ao longo do século 19”, diz Lasso.
“E que o Panamá teve, ao longo daquele século, uma vocação autonomista e federalista baseada nas particularidades de sua história e posição geográfica”, conclui a historiadora.