O protestantismo está prestes a superar o catolicismo em número de fiéis no maior país católico do mundo. No entanto, o natalício da Reforma Protestante, em 31 de outubro, é uma espécie de 7 de Setembro para evangélicos, ou seja, uma data importante porque cai em prova, não pelo significado do evento.
Na verdade, igrejas históricas, que realizam cultos mais intelectualizados para membros de classe média e subida, valorizam a data. Mas, nas igrejas pentecostais, preferidas pelas camadas populares, falar sobre a reforma é uma formalidade. “Na Páscoa, fazemos cantatas. Também comemoramos o Natal, porque lembra o promanação de Cristo, embora seja uma sarau pagã”, compara o pastor pentecostal Wilian Gomes. “Mas, em 31 de outubro, falamos sobre a reforma por 15 a 20 minutos, no supremo.”
Será que as mudanças propostas por Lutero fazem sentido para igrejas novas, porquê a Reunião de Deus Vitória em Cristo, do pastor Silas Malafaia, ou para igrejas inclusivas que aceitam pessoas LGBT? O pastor e sociólogo Valdinei Ferreira defende que sim. “No protestantismo, não é a igreja que valida a mensagem, é a mensagem que valida a igreja”, ele explica. “O que unifica o nosso campo é que qualquer leal pode penetrar a Bíblia, ouvir o pregador e discordar dele à luz do que ele entende na Bíblia.”
Mas o impulso reformista de Lutero, Calvino e outros parece ter esfriado. Para a historiadora Romilda Motta, que é adventista, “as igrejas que surgiram a partir do questionamento dos desvios de comportamento e do status quo das lideranças católicas se fortaleceram e enriqueceram. E hoje elas tomam as mesmas medidas repressivas que a Igreja Católica tomava contra aqueles que faziam críticas,” analisa. “Por isso, pastores porquê Odja Barros e Ed Rene Kivitz são tratados porquê dissidentes e rotulados porquê hereges”, conclui.
Mas novos impulsos reformistas esbarram em diferenças de classe. Leal da Igreja Universal, a hoje antropóloga Mônica Ruiz conseguiu ser aprovada na Unicamp em segmento pela segurança que a conversão trouxe a sua família. “Mas, na universidade, eu descobri que não era protestante”, ela conta. “Pelo menos é isso que colegas e professores de igrejas históricas, brancos e de classe média me diziam.”
Alguns pastores e pastoras têm sido corajosos ao combater o fundamentalismo moral presente em denominações poderosas. Isso importa porque a resguardo cega da taxa de costumes liga a maioria dos evangélicos ao bolsonarismo. No entanto, esses esforços ficam restritos a círculos elitistas, que tratam com arrogância ou condescendência o protestantismo pentecostal, por considerá-lo teologicamente subalterno. Faz sentido?
spyer@uol.com.br
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