Esse discurso não é inofensivo, nem se limita às rodas do fundamentalismo religioso ou da grande misoginia.
Não é inofensivo porque, na prática, vítimas de silêncio que já se sentem isoladas, culpadas, envergonhadas e com medo de denunciar homens violentos. Os homens que, na maioria dos casos, são da família e que, devido a abuso, são fornecedores carismáticos, amigáveis e até financeiros.
Muitas vezes, essas meninas e mulheres, quando dizem o que sofreram, são desacreditadas por pessoas de sua própria família: as pessoas que pensam que o agressor tem um rosto ou que é possível identificar pelo comportamento se um homem pode ou não cometer violência. Ou mesmo aqueles que pensam que é mais importante manter as aparências ou o fornecedor dentro do que proteger as vítimas de um trauma ao longo da vida.
As mulheres de silêncio estão perpetuando abusos, param de punir e impedir que outra violência aconteça.
E o bebê do Brasil não é o único que prega esse tipo de perdão. Outras religiões e até práticas terapêuticas recomendaram que “entendam” a origem do abuso sexual nas famílias, deixando os atacantes sem patatas.
Mesmo em crimes que se tornam públicos e envolvendo homens conhecidos, a predisposição para desacreditar e atacar aqueles que relatam é muito mais ostensível do que as vozes que se preocupam em parar os crimes e impedir que eles aconteçam novamente.