O que de vestimenta ela representa ao questionar e dar força de lei para uma novidade estrutura de sociedade?
Ainda que existam diferenças substanciais, um eventual caminho para encontrar uma resposta pode estar no recente livro de Judith Butler, Quem tem pânico do Gênero? Publicado neste ano, a obra é resultado de sua visitante ao Brasil, em 2017, quando encarou hostilidade e ataques. A filósofa chegou a ser agredida num aeroporto em São Paulo.
Certamente os grupos que atacam a americana não são, necessariamente, os mesmos que visam Maria da Penha. O ódio que elas despertam vem de campos que, entre si, não estão de mãos dadas.
Mas há um fenômeno que se entrelaça entre as duas: o pânico de um novo mundo. Segundo a autora, o “gênero” se tornou um fantasma generalizado: “um fenômeno psicossocial em que medos e ansiedades íntimos se tornam socialmente organizados para incitar paixões políticas”.
“Gênero”, neste caso, serve uma vez que uma tradução do progresso feito em relação à paridade de gênero, justiça reprodutiva, autonomia corporal e reconhecimento lítico de minorias sexuais.
Ironicamente, a própria definição de gênero é metamórfico e facilmente moldada para atender a interesses políticos variados. Assim, diz ela, o fantasma é “capaz de moderar qualquer impaciência ou pânico que a ideologia antigênero queira fomentar para seus próprios fins, sem precisar fazer com que zero disso seja congruente.”