Ironicamente, a própria definição de gênero é metamórfico e facilmente moldada para atender a interesses políticos variados. Assim, diz ela, o fantasma é “capaz de moderar qualquer sofreguidão ou pânico que a ideologia antigênero queira nutrir para seus próprios fins, sem precisar fazer com que zero disso seja congruente.”
Para ela, existe uma “a dimensão alucinatória do sadismo moral” no meio dos ataques. Os movimentos que encabeçam essa ofensiva estariam negociando o pânico que acompanha o mal-estar político e as incertezas de nossa era, incluindo a prenúncio existencial do caos climatológico, a guerra, o desmonte do estado de bem-estar e o desemprego.
O “fantasma do gênero”, assim, é instrumentalizado para transladar essas ameaças existenciais para os bodes expiatórios.
O ataque a Maria da Penha pode e deve ser lido uma vez que um assalto ao gênero. Porquê uma ação que deriva da propagação e sedimentação do “fantasma do gênero”. É o ataque contra a mulher símbolo de uma lei que alterou a “ordem do gênero” tal uma vez que existia no que diz reverência à violência.
Ao escutar e ler o que os autores de ataques contra Maria da Penha usam uma vez que argumentos, tenho a fé de que a extrema direita também sabe o poder de transformação de sua luta. E sabe que a construção de um novo mundo é o que ela ecoa. Por isso, tem pavor de Maria da Penha e o terremoto que seu nome – em forma de lei – representam.