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Este poderia ser o início de uma “guerra comercial muito destrutiva”, de acordo com Paul Ashworth, da consultoria Capital Economics.
Faisal Islam, editor da área de Economia da BBC, também avalia que um conflito comercial mais amplo está muito próximo. “O sistema de comércio mundial nunca esteve nesse ponto antes”, disse.
Donald Trump oficializou neste sábado (1/2) seus planos e anunciou tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e México para os EUA e de 10% sobre os produtos da China.
Em resposta, o primeiro-ministro do Canadá anunciou já na noite de sábado a imposição de tarifas de 25% sobre US$155 bilhões em produtos americanos.
Segundo Trudeau, US$ 30 bilhões entrarão em vigor na terça-feira (4/2), enquanto os US$ 125 bilhões restantes serão aplicados em 21 dias.
O líder canadense afirmou ainda que as tarifas afetariam uma variedade de produtos dos EUA, incluindo cerveja, vinho, bourbon, frutas, sucos, roupas, equipamentos esportivos e eletrodomésticos.
“Não queremos estar aqui, não pedimos por isso. Mas não recuaremos na defesa dos canadenses” e da parceria de sucesso entre o Canadá e os EUA, disse Trudeau, que admitiu que as próximas semanas não serão fáceis para nenhum dos dois países.
Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou em uma postagem na rede social X (antigo Twitter) que instruiu seu secretário da Economia a implementar “medidas tarifárias e não tarifárias em defesa dos interesses do México”.
A chefe de Estado mexicana não detalhou as medidas, mas criticou a decisão de Donald Trump. “Não é impondo tarifas que os problemas se resolvem, mas sim conversando e dialogando”, escreveu.
Já o governo chinês afirmou que irá contestar as tarifas de Trump por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A imposição de tarifas pelos EUA “viola seriamente” as regras da OMC, disse o Ministério do Comércio chinês em comunicado publicado neste domingo (2/2), que também pediu aos EUA que “se envolvam em um diálogo franco e fortaleçam a cooperação”.
Em um comunicado, o porta-voz da embaixada da China em Washington disse ainda que “guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores”.
“Essa medida não pode resolver os problemas internos dos EUA e, mais importante, não beneficia nenhum dos lados, muito menos o mundo.”
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Paul Ashworth, da Capital Economics, explica que as exportações para os EUA representam cerca de 20% das economias do México e do Canadá – e que essas tarifas podem mergulhar suas economias em uma recessão.
As tarifas têm o potencial de tornar os produtos desses países mais caros para os americanos, o que significaria vendas e lucros menores para empresas mexicanas e canadenses.
Ashworth aponta ainda para a probabilidade de a União Europeia (UE) também enfrentar tarifas dos EUA nos próximos meses, o que provavelmente levaria a consequências semelhantes.
Trump já havia prometido anteriormente impor tarifas à UE, mas não fez nenhum anúncio a respeito na noite de sábado.
Para o editor da BBC Faisal Islam esse também é um motivo para crer que um conflito comercial mais amplo está próximo.
“Mas o que importa tanto quanto as ações dos EUA é como o resto do mundo responde. Isso, por sua vez, exige um julgamento sobre o que o presidente está realmente tentando alcançar”, disse.
Inflação e juros
O analista da Capital Economics também alerta que os preços mais altos que as empresas e os consumidores dos EUA enfrentam aumentarão a inflação, e isso significaria que a janela para mais cortes nas taxas de juros dos EUA nos próximos 12 a 18 meses “simplesmente se fechou”.
Antes mesmo do anúncio oficial de Trump sobre as novas tarifas, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, já havia interrompido o corte dos juros do país.
O Fed iniciou o ciclo de queda em setembro do ano passado, no primeiro movimento para baixo desde 2020. Desde então, foram três cortes seguidos até dezembro.
Um custo maior de empréstimos provavelmente reduzirá os padrões de vida dos consumidores dos EUA e tornará as empresas mais relutantes em investir no futuro, diz Ashworth.
Também prejudicará os governos e qualquer outra pessoa ao redor do mundo que tome dinheiro emprestado em dólares americanos.
A inflação caiu bastante em relação ao pico que os EUA, Reino Unido e os países da zona do Euro – o grupo de 20 países da UE que usam o euro como moeda oficial – viram há dois anos e meio, ainda sob os efeitos da pandemia de covid.
Naquela época, nos EUA, a inflação estava em 9,1%. Agora está em 2,9%, o que ainda está acima da meta de 2% do Fed.
Mike Pompeo, que foi secretário de Estado no primeiro governo Trump, falou ao canal Fox News e rejeitou preocupações sobre inflação, classificando como “provavelmente exageradas”.
“Parte disso acabará sendo absorvida pelos produtores”, disse Pompeo.
Dor das tarifas ‘valerá o preço’
Nas redes sociais, porém, Trump afirmou que a dor das tarifas “valerá o preço”.
“Haverá alguma dor? Sim, talvez, e talvez não! Tudo valerá o preço que deve ser pago”, escreveu em um post na rede social Truth Social.
Ele disse que vários países, incluindo Canadá, México e China, “continuam o roubo de décadas da América, tanto em relação ao comércio, crime e drogas venenosas que são permitidas a fluir tão livremente para a América”.
“Esses dias acabaram”, escreveu.
Em um post separado, o presidente americano atacou ainda o Canadá e voltou a dizer que o país deveria ser incorporado ao território americano.
Segundo Trump, o Canadá deveria “se tornar nosso querido 51º estado. Impostos muito mais baixos e proteção militar muito melhor para o povo do Canadá — E SEM TARIFAS!”
“Não precisamos de nada que eles tenham. Temos energia ilimitada, deveríamos fabricar nossos próprios carros e temos mais madeira do que podemos usar. Sem esse subsídio massivo, o Canadá deixa de existir como um país viável.”
‘Ameaça do fentanil’
Donald Trump disse que ter assinado a ordem que impõe as novas tarifas “por causa da grande ameaça de imigrantes ilegais e drogas mortais que estão matando nossos cidadãos, incluindo o fentanil”.
Falando especificamente sobre o México, o presidente americano disse neste sábado que a imposição de tarifas continuará até que o país “coopere com os Estados Unidos na luta contra as drogas”, alegando que os grupos de narcotraficantes “colocam em risco a segurança nacional e a saúde pública” do país.
Os cartéis do narcotráfico “têm uma aliança com o governo do México”, acusou a Casa Branca.
Em um post na rede social X, o governo americano também chegou a incluir a China ao relacionar o problema com a droga e as tarifas impostas, dizendo que o país asiático colabora “ativamente com essa indústria”.
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As reações
Em postagem no X, Claudia Sheinbaum chamou a acusação dos EUA de calúnia.
“Rejeitamos categoricamente a calúnia da Casa Branca contra o governo mexicano de ter alianças com organizações criminosas, bem como qualquer intenção de intervenção em nosso território”, escreveu.
“Se tal aliança existe em algum lugar, é nos arsenais dos Estados Unidos que vendem armas de alto poder para esses grupos criminosos, como demonstrou o próprio Departamento de Justiça dos Estados Unidos em janeiro deste ano.”
Já Justin Trudeau, ao ser questionado se acreditava que as tarifas dos EUA estão realmente motivadas pelo desejo de reduzir o fluxo de fentanil para o país, disse que a fronteira EUA-Canadá é “uma das fronteiras mais fortes e seguras do mundo”.
“Menos de 1% do fentanil que entra nos Estados Unidos vem do Canadá. Menos de 1% dos migrantes ilegais que entram nos Estados Unidos vêm do Canadá”, disse, em uma coletiva de imprensa.
Trudeau afirmou ainda que “isso não significa que não haja mais a fazer” sobre o tema, mas acrescentou: “Essa ação comercial contra o Canadá não é a melhor maneira de trabalharmos juntos para salvar vidas”.
Em seu pronunciamento, o porta-voz da embaixada chinesa em Washington disse que os Estados Unidos “precisam encarar e resolver seu próprio problema com o fentanil de forma objetiva e racional, em vez de ameaçar outros países com aumentos arbitrários de tarifas”.
Eles acrescentam que a China é dura contra narcóticos ilegais e que o fentanil “é um problema para os EUA”.
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Lideranças europeias também reagiram ao anúncio de Trump e às respostas provocadas pelas tarifas.
O ministro da indústria da França, Marc Ferracci, disse ao jornal Le Figaro que “está claro que temos que reagir”.
“A resposta, para ser eficaz, deve se concentrar nos produtos que são importantes para o país com o qual você está negociando”, acrescentou.
O ministro das finanças da Itália, Adolfo Urso, disse ao La Stampa que “Trump tem um mandato específico de seu povo: reafirmar a primazia americana, relançar a indústria e os empregos nos Estados Unidos”.
Ele acrescenta que: “A Europa deve fazer o mesmo… com igual velocidade de execução”, mas alerta que “ao mesmo tempo, deve discutir os méritos com os EUA para evitar desencadear uma guerra comercial devastadora”.
Já o ministro das Finanças do Japão, Katsunobu Kato, disse hoje que o país está “profundamente preocupado” sobre como as tarifas podem afetar a economia global.
“O Japão precisa analisar essas políticas e seus efeitos e tomar as medidas apropriadas”, disse Kato na Fuji TV.
O Japão é o quinto maior investidor estrangeiro do mundo no México – na frente até mesmo da China.
*Com reportagem de Jonathan Josephs, repórter de negócios da BBC
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