Repórter da “Record” é demitida por vazar trecho de entrevista com Lula

A repórter Renata Varandas foi demitida da Record nesta 5ª feira (18.jul.2024) por ter antecipado ao mercado financeiro secção do teor de uma entrevista concedida a ela pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A jornalista fez isso antes de a emissora veicular a reportagem.

Varandas entrevistou Lula por volta das 9h30 no Palácio do Planalto, na 3ª feira (16.jul.2024). A conversa foi gravada e exibida na íntegra no “Jornal da Record”, às 19h55, no mesmo dia. Trechos da entrevista foram publicados pelo portal de notícias da emissora, R7, ao longo do dia. Só que antes disso secção das informações foi distribuída por uma empresa de estudo política da qual a jornalista é sócia.

As informações sobre o que o presidente havia falado a reverência da questão fiscal e da sucessão no Banco Mediano chegaram ao conhecimento de agentes do mercado financeiro muro de uma hora antes da primeira publicação feita pelo R7, às 13h48.

Um transmitido com as informações foi distribuído pela corretora BGC Liquidez DTVM Ltda e atribuído à Capital Advice, dependência de estudo política para investidores e gestores financeiros. Varandas é sócia-administradora da dependência. Outras duas jornalistas dividem o quadro societário: 1) Mariana Londres, do portal UOL (de propriedade da família Frias, que também é dona do jornal Folha de S.Paulo e do PagBank, banco que popularizou as maquininhas amarelas de cartão), e 2) Flávia Torres de Mesquita.

O texto da Capital Advice antecipou a fala de Lula em que o presidente diz que precisa ser convicto sobre a urgência de cortes de gastos (para concordar reduzir as despesas do governo) e que a meta fiscal não necessariamente deve ser cumprida.

Em transmitido divulgado nesta 5ª feira, a Record informou publicamente sobre a exoneração de Varandas, que fazia para a emissora o séquito quotidiano das notícias relacionadas ao Palácio do Planalto:

“A RECORD informa o desligamento da repórter Renata Varandas, que, a partir desta quinta-feira (18/07/2024), não faz mais secção da equipe de jornalismo da emissora.”

O Poder360 procurou a Capital Advice, a BGC Liquidez e a jornalista Renata Varandas para perguntar se gostariam de se manifestar a reverência do vazamento de trechos da entrevista com Lula. Leia aquém o que disseram:

• Capital Advice – não vai comentar;
• BGC Liquidez – informou que está apurando internamente os fatos;
• Renata Varandas – não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma revelação seja enviada a nascente jornal do dedo.

Leia a seguir o transmitido da BGC enviado a seus clientes na 3ª feira antes de a entrevista ser divulgada pela Record e pelo R7:

“BGC Política | Lula e o contingenciamento
_by Capital Advice, 16 de julho de 2024_
“Em entrevista à Record TV, que será veiculada hoje ao longo dia, o presidente Lula disse que é preciso convencê-lo de que será mesmo preciso trinchar entre R$ 15 bi e 20 bi no relatório de 22 de julho. Disse ainda que se precisar modificar a meta, ele não se opõe.
“Questionado sobre a antecipação da indicação do BC ele disse que não vai indicar em agosto o presidente do BC e que ainda não sabe quem será.
“Ao ser perguntado sobre quem ele escuta, o presidente disse inicialmente que todos, de movimentos sociais ao mercado internacional. Mas ao término da entrevista, citou a primeira-dama Janja porquê uma das pessoas que ele escuta
“Estudo: O tom da entrevista mostra que durou pouco a resguardo do fiscal por secção de Lula quando ele fala de forma mais direta com o sufragista. Apesar disso, a Quinta continua trabalhando no convencimento da valimento de o relatório de 22 de julho estar na medida do reverência ao busto e internamente fala de cortes + bloqueio supra de R$ 10 bi. Também ainda tenta convencer o presidente a antecipar a indicação para o BC para agosto. O ministro Padilha também tem trabalhado defendendo os cortes necessários e mais próximos de R$ 20 bi.

“Macro Strategy Team
“_BGC Liquidez DTVM Ltda_”

Na 3ª feira, a cotação do dólar sofreu oscilações por volta de 12h20, quando começou a subir.

Às 12h43, a moeda norte-americana passou a registrar subida perante o real. A máxima do dia chegou a R$ 5,462 às 13h41, valorização de 0,32% em relação ao fechamento do dia anterior e de 0,55% em relação à lisura (R$ 5,432). A variação foi atribuída às declarações do presidente na entrevista. No final do dia, a moeda norte-americana fechou em baixa de 0,30%, a R$ 5,429.

Leia o infográfico com a trajetória do dólar em 16.jul.2024:

O texto divulgado pela BGC, entretanto, foi indefinível ao descrever a fala de Lula neste trecho: “O presidente Lula disse que é preciso convencê-lo de que será mesmo preciso trinchar entre R$ 15 bi e 20 bi no relatório de 22 de julho”. O valor mencionado não foi falado diretamente pelo petista, mas mencionado unicamente na pergunta feita pela jornalista. Leia ao final da reportagem a íntegra da pergunta e da resposta sobre o tema.

Reprodução/Instagram @revarandas – 9.jun.2024

Renata Varandas na bancada do “Jornal da Record” em foto compartilhada em seu perfil no Instagram em 9 de junho de 2024

O ministro da Quinta, Fernando Haddad, falou na 3ª feira (16.jun) com repórteres em Brasília e reclamou da forma porquê as declarações do presidente teriam sido divulgadas fora de contexto.

“O problema quando solta uma frase descontextualizada gera, desnecessariamente, uma especulação […] E, quando for ao ar, vão poder constatar, [Lula] dizendo exatamente o que eu disse há algumas semanas, que temos compromissos com o busto fiscal”, afirmou Haddad a jornalistas antes de a íntegra da entrevista ter sido divulgada pela Record.

Na veras, ainda que Haddad tenha reclamado, a resposta de Lula à Record indica que ele não se sente comprometido com a meta de deficit zero que está anunciada para 2024: “Não tem nenhum problema se é deficit zero, se é deficit 0,1%, se é deficit 0,2%”.

O Poder360 apurou que a divulgação antecipada das declarações do presidente irritou outros ministros próximos de Lula, que consideraram o incidente grave. A Record tenta edificar uma relação com o governo Lula depois de ter se aproximado da governo do seu predecessor, Jair Bolsonaro (PL). A emissora é de propriedade de Edir Macedo, sacerdote e principal líder da Igreja Universal do Reino de Deus.

RECORD SÓ SOUBE DEPOIS

O Poder360 havia procurado a Record na 4ª feira (17.jul) por meio de e-mail e telefone para perguntar se a emissora se manifestaria. A empresa informou que só soube da relação entre Varandas e a dependência de estudo política depois da divulgação do caso e que tomaria as “medidas cabíveis”.

“A RECORD esclarece que soube da relação da repórter Renata Varandas com a Capital Advice somente depois a divulgação do release pela dependência. A emissora deixa simples que condena qualquer vazamento de informações, principalmente com recorte parcial do que é escolhido em entrevistas feitas por nossas equipes. Medidas cabíveis serão tomadas com a apuração dos fatos.”

Até o início da tarde desta 5ª feira (18.jul.2024), os perfis de Renata Varandas e de Mariana Londres no LinkedIn indicavam que ambas faziam secção da empresa Capital Advice.

PODER360

O Código de Conduta do Poder360 determina que “os jornalistas e todos os demais profissionais contratados” trabalhem “exclusivamente para nascente jornal do dedo”.

“Nenhum profissional do Poder360 pode ter outra atividade remunerada. A exceção são ações ligadas à espaço acadêmica (aulas em uma universidade ou proferir uma palestra para entidade do setor de ensino, por exemplo)”, diz o Código de Conduta.

Todos os profissionais deste jornal do dedo, ao serem contratados, devem assumir o compromisso de seguir as regras do Código de Conduta, muito porquê os Princípios Editorais.

DECLARAÇÃO SOBRE QUESTÃO FISCAL

Leia aquém a íntegra da pergunta e da resposta em que Lula falou sobre economia durante a entrevista:

Pergunta: Eu queria inaugurar perguntando sobre Dona Lindu. Eu sei que Dona Lindu ensinou que a gente não pode gastar mais do que a gente ganha. O senhor aprendeu isso desde pequeno. E a gente vê economistas dizendo que, para a gente manter o busto, a gente precisa trinchar entre R$ 15 [bilhões] e R$ 20 bilhões, que é o cômputo que eles fazem. Eu lhe pergunto: o senhor está disposto a contingenciar esse valor para manter a credibilidade do busto e do ministro Fernando Haddad [Fazenda] também?

Resposta: Primeiro eu tenho que estar convicto se há urgência ou não de trinchar. Você sabe que eu tenho uma divergência histórica e de concepção com o pessoal do mercado. É que nem tudo que eles tratam porquê gasto eu trato porquê gasto. Outro dia eu estava em uma entrevista coletiva com jornalistas e perguntei: ‘quando o empresário de vocês dá um aumento de salário para vocês, é gasto ou investimento?’ Porque é isso que está em jogo, na verdade.

Por que eu falo muito da dona Lindu? Éramos 8 irmãos. Trabalhávamos e no final do mês colocávamos o envelope com o verba na mesa. Minha mãe, que era analfabeta e não sabia fazer o 0 com o copo, começava a recontar e separava para remunerar a panificação, o arrecadação e se sobrasse ela dividia para nós, mais o verba do transporte. A gente nunca pode gastar mais do que a gente ganha. Se tivermos que fazer uma dívida, temos que fazer uma dívida em alguma coisa que aumenta o nosso patrimônio, para você ter uma ativo a mais. É isso que balizou o meu comportamento na economia.

Às vezes eu fico irritado porque eu não sou um navegador de 1ª viagem. Eu sou o presidente da República mais longevo desse país depois de Getúlio Vargas e Dom Pedro II. Eu tenho experiência de governo muito sucedida. O que aconteceu no país de 2003 a 2010? Esse país cresceu, em média, 4% –foi o maior incremento dos últimos anos. Quando eu deixei a presidência, esse país crescia 7,5%, o varejo crescia 13% e o PIB [Produto Interno Bruto] crescia 7,5%, com a inflação controlada. É esse o país que eu estou construindo. Se você pegar os dados de hoje, você vai perceber que não tem 1 único número que diga que o Brasil tem qualquer problema. Estamos crescendo mais do que a previsão do mercado. O mercado previa 0,8% e nós crescemos 3%. O mercado previa inflação descontrolada e a inflação está totalmente controlada. A única coisa que não está controlada é a taxa de juros. O Brasil está gerando 2,55 milhões de empregos em 1 ano e 7 meses, a volume salarial crescendo 11,7%, o salário mínimo reajustado duas vezes supra da inflação, isenção do imposto de renda para quem ganha 2 salários mínimos, e eu pretendo chegar a R$ 5.000 ano desconto do imposto de renda, tiramos 24 milhões de pessoas da lazeira.

Eu posso te manifestar com a experiência que eu tenho de gerenciar esse país: nós estamos vivendo um bom momento. Ainda vou manifestar: eu vivo o meu melhor momento político. Estou muito tranquilo, consciente do que tenho que fazer, do que nós encontramos, do que nós preparamos. É porquê se você tivesse chegado na Filete de Gaza: tudo destruído. Não tinha ministério da Cultura, da Paridade Racial, das Mulheres. Nós fomos criando, recuperando. Até a merenda escolar fazia 7 anos que não aumentava, bolsa de estudante da CAPES também não aumentava há 7 anos. Nós recompusemos tudo isso. Mais verba para as universidades, para a ensino. O país está vivendo um momento muito fenomenal. Um oferecido para você ter em conta, Renata: quando eu deixei a Presidência em 2010, esse país vendia 3,8 milhões de carros por ano. Quando eu voltei em 2023, esse país vendia só 1,8 milhão por ano. Metado do que vendíamos em 2010. Agora estamos nos recuperando. Eu já conversei duas vezes com a indústria automobilística, eles já me anunciaram investimento de R$ 130 bilhões até 2028 –o que é o maior investimento feito nesses últimos 10 anos. A indústria de provisões está investindo R$ 120 bilhões, a siderúrgica R$ 100 bilhões. Nós estamos vivendo um momento riquíssimo de transição energética, climática, que é uma coisa extrordinária, uma oportunidade para esse país crescer.

E ou por outra, nós recuperamos esse país para o mundo. Eu voltei a viajar o Brasil e agora o mundo vem para o Brasil no G20, nos BRICS e na COP30. É esse país que eu tenho certeza absoluta que vai dar perceptível. Eu digo para o Haddad, que às vezes fica nervoso, irritado com alguma coisa que está demorando na Câmara, eu falo ‘Haddad, fica tranquilo, porque se tudo der inverídico, ainda assim vai dar perceptível’.

Pergunta: Presidente, portanto se o governo conseguir manter a meta, diante desse cenário, o senhor não vê problema de mudá-la para não permanecer refém dela?

Resposta: É unicamente uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Esse país é muito grande, esse país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes desse país e a cabeça de alguns especuladores. Não tem nenhum problema se é deficit zero, se é deficit 0,1%, se é deficit 0,2%. O que é importante é que esse país esteja crescendo, que a economia esteja crescendo, que o serviço esteja crescendo, que o salário esteja crescendo.

Por exemplo, quando alguém fala o seguinte: ‘Ah, o presidente Lula precisava desvincular o salário mínimo da previdência social’. O mínimo já diz, é o mínimo. Não tem zero mais plebeu do que o mínimo. Eu não posso trinchar o mínimo, porque ele já é o mais plebeu de tudo. O que eu estou fazendo? Quando você tem que dar aumento de salário mínimo, você faz a reposição inflacionária. Se a inflação foi 3%, você repõe 3%. O que estamos fazendo? A média do incremento do PIB dos últimos 2 anos, damos de aumento de salário mínimo. Logo, se durante 2 anos o PIB cresceu 6%, a gente, além da inflação, dá 6% de aumento –o que é social e humanamente justo, porque o incremento da riqueza do país, que é o resultado da produção de 203 milhões de brasileiros tem que ser distribuído de forma equitativa para todo mundo.

Pergunta: Ou seja, essa meta de deficit zero não está engessada?

Resposta: Ela não está rejeitada. Nós vamos fazer o que for necessário para satisfazer o busto fiscal. Eu dizia na campanha: ‘vamos gerar um país com firmeza política, jurídica, fiscal, econômica e social’. E eu ainda dizia ‘esse país terá previsibilidade, ninguém será pego de surpresa com as coisas que nós vamos fazer, porque eu quero fazer ao meio-dia e não à meia-noite, com todo mundo assistindo. Temos que levar em conta o que já alcançamos até agora. Eu comecei a governar o país sem orçamento. Pela 1ª vez a gente teve que fazer uma PEC [Proposta de Emenda à Constituição] de transição para permitir que a gente pudesse chegar ao final do ano, governar, ajustar o Bolsa-Família, que já tirou 24,5 milhões de pessoas da lazeira.

Logo, essa responsabilidade, esse compromisso, posso manifestar para você, porquê se tivesse dizendo para um fruto meu, para a minha mulher, responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do rudimento, dos conselhos da dona Lindu, não gaste o que você não tem, não faça dívidas que não pode remunerar. É por isso que em 2005 eu chamei o FMI [Fundo Monetário Internacional] e disse ‘eu quero remunerar’. E o FMI disse ‘não, Lula, nós não precisamos receber’. Mas eu queria remunerar, porque eu não queria obrigação. E pagamos R$ 30 bilhões que devíamos e ainda emprestamos 15 pro FMI depois da crise de 2008. Seriedade fiscal eu tenho mais do que quem dá presciência fiscal nesse Brasil.