Cardeal Orani João, Cardeal Tempesta
Prior de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Enviai o vosso Espírito, Senhor e da terreno toda a face renovai! (Sl 103/104)
Celebramos neste domingo a Solenidade de Pentecostes, que significa a vinda do Espírito Santo: Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo e eles saem em missão, inicia-se a Igreja primitiva. Esse mesmo Espírito Santo que Jesus soprou sobre os discípulos há mais de dois milénio anos continua sustentando a missão da Igreja até os dias de hoje. Por isso, que a Igreja apesar dos ventos contrários continue de pé, pois é sustentada pela força do Espírito Santo.
Com a celebração da Solenidade de Pentecostes, encerra-se o tempo litúrgico da Páscoa e na segunda-feira seguinte retoma-se o tempo geral que foi paralisado no início do tempo quaresmal. Será o dia de Maria, Mãe da Igreja. Ao final da última celebração do domingo de Pentecostes o Vela Pascal é sumido e só será aceso nas celebrações de primeira Eucaristia, crisma e batismo. O Vela será sumido, mas a luz de Cristo continuará sendo levada pelos cristãos na missão peregrina pelo mundo.
Através da força do Espírito Santo todos os batizados são chamados a ser testemunhas de Cristo no mundo de hoje, anunciando o Evangelho a todos que precisam, atuando nas pastorais das paróquias, sendo luz de Cristo na vida dos outros. A celebração de Pentecostes acontece cinquenta dias posteriormente a Páscoa, e nessa celebração renovamos em nós a força do Espírito Santo recebida no dia do batismo.
A primeira leitura dessa solenidade é do livro dos atos dos Apóstolos (At 2, 1-11), conforme acompanhamos ao longo de todo o tempo pascal, a primeira leitura é do livro dos Atos dos Apóstolos, ou seja, acompanhamos o início da Igreja primitiva através do envio do Espírito Santo por meio dos apóstolos. No dia de Pentecostes os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar, de repente veio do firmamento um fragor, uma vez que se fosse um vento possante que encheu a vivenda onde eles se encontravam. Isso aconteceu porque Deus os chamava para a missão, eles não deveriam permanecer parados em vivenda, mas através da força Espírito Santo, deveriam transpor para anunciar o Reino de Deus.
O Espírito Santo pairou sobre cada um deles e eles começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes inspirava. O Espírito Santo agiu em cada um deles e o povo os escutava em suas próprias línguas. A fala do Espírito Santo é universal, ou seja, todos podem escutar e entender, porque é a fala do paixão.
O salmo responsorial é o 103 (104), que diz em seu refrão: “Enviai o vosso Espírito, Senhor e da terreno toda a face renovai”! É preciso pedir sempre que Deus envie o Espírito Santo para que mude a atitude das pessoas e tenham mais paixão no coração. A terreno precisa ser renovada pela ação do Espírito Santo fazendo com que as pessoas tenham mais paixão no coração, e ainda, que renove em nós a fé no Cristo ressuscitado.
A segunda leitura dessa solenidade pode ser da missiva aos gálatas ou da primeira aos coríntios. Reflitamos sobre a primeira missiva de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12, 3b-7.12-13), Paulo diz a comunidade que só é provável reconhecer Jesus uma vez que Senhor por intermédio do Espírito Santo. É o Espírito Santo que nos faz reconhecer Jesus na Eucaristia, é por meio do Espírito Santo que temos os nossos pecados perdoados e reconhecemos na pessoa do sacerdote o próprio Cristo. Cristo é a cabeça da Igreja e nós somos os membros, há diversos dons e ministérios na Igreja, mas tudo o que fizermos deve ser em nome de Cristo.
Em seguida a segunda leitura tem a sequência, presente sempre nas grandes solenidades, uma vez que por exemplo: Páscoa, Natal, Pentecostes e outros. Na sequência de Pentecostes de hoje está contida o significado de toda a celebração. Pedimos ao Senhor com fé nesse dia: “A nós descei, divina luz! Em nossas almas acendei o paixão, o paixão de Jesus”. Que o Espírito Santo nos encha com os seus dons e aumente sempre mais a nossa fé.
O Evangelho da solenidade é de João (Jo 20, 19-23) – existe também a opção de Jo 15. Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar que costumavam se reunir com Jesus e estavam todos trancados e com pânico, tinham pânico de que acontecesse com eles o mesmo que aconteceu com o Rabino. O pânico nos aprisiona e não nos deixa transpor do lugar, os discípulos precisavam transpor e anunciar o reino de Deus pregado por Jesus. Mas, somente com a força que vem do Espírito Santo poderiam transpor. O mesmo acontece conosco, não podemos ter pânico de anunciar o Reino de Deus e temos que ir sobretudo nas periferias de nossas cidades anunciar o paixão de Deus.
De repente, o próprio Jesus se colocou no meio deles, sem precisar furar as portas ou janelas, Ele deseja a tranquilidade aos discípulos que é a marca do ressuscitado, posteriormente essas palavras Ele mostra as mãos e o lado, com isso os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Só que Jesus não ficaria com eles, era necessário que Ele voltasse para o Pai, mas eles não deveriam permanecer tristes, pois Ele continuaria sempre junto dos discípulos por meio do Espírito Santo.
Pela segunda vez Jesus lhes deseja a tranquilidade e diz que, do mesmo modo que o Pai o enviou, Ele também os envia. A partir daquele momento, Jesus os envia para que eles iniciassem a Igreja primitiva e lhes dá “poder” para que eles realizassem tudo aquilo que Ele fez. Esse “poder” não é zero mágico, mas é a força do Espírito Santo que os acompanharia. A partir desse momento eles estariam preparados para dar perpetuidade ao que Jesus iniciou, perdoando os pecados, curando os doentes e anunciando o Reino de Deus, dessa forma nasceria a Igreja.
Celebremos com alegria a solenidade de Pentecostes e peçamos que Espírito Santo venha com os seus dons sobre cada um de nós e renove a nossa fé, ao mesmo tempo peçamos que o Espírito Santo renove a vida da Igreja e que ela possa se manter de pé apesar dos ventos contrários. Peçamos sempre o auxílio do Espírito Santo quando tivermos que tomar alguma decisão difícil, Ele nos orientará a tomar a melhor decisão.