Março 26, 2025
Sonhos de Natal esquecidos em uma ocupação no Recife

Sonhos de Natal esquecidos em uma ocupação no Recife

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Júlio Gomes/LeiaJá

Barraco número 28 da ocupação Maria Firmina dos Reis, no Recife, decorado para o Natal
Júlio Gomes/LeiaJá

O déficit habitacional do Recife, capital pernambucana, é uma das principais preocupações na redução das desigualdades sociais da cidade. Com mais de 71 milénio pessoas sem um teto guardado, a cidade, há décadas, omissão em conciliar indicadores de empregabilidade, moradia e segurança fomentar, frente a uma urbanização desenfreada que aconteceu nos anos recentes. Desta forma, sem ter o recta à habitação guardado, pessoas sem-teto no Recife viram ano em seguida ano trocando as preocupações de uma família geral, por um manual de sobrevivência.

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Essa resistência às adversidades acontece nos habitacionais, moradias provisórias e principalmente nas ruas. Apesar de “resistir” ser um verbo bonito e inspirar resiliência, neste caso, se trata unicamente sobre a forma porquê pessoas pobres e sem aproximação à moradia têm driblado a inópia, o desemprego e a violência. Um dos equipamentos independentes que ajudam a desapoquentar o déficit é a ocupação.

Pelo Meio da cidade, diversas ocupações foram escopo de ordens de lixo, adiadas exclusivamente em seguida uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federalista, através da Campanha Detrito Zero. A capital tem murado de 45 prédios desocupados, sem manutenção e sem cumprimento do uso social, de harmonia com o Ministério Público de Pernambuco. A maioria desses imóveis está sob disputa judicial entre a União, o Estado e empresas privadas.

Esse também é o caso da ocupação Maria Firmina dos Reis, que existe desde 8 de março de 2022, no prédio onde funcionava a sede do Instituto Brasílico de Geografia e Estatística (IBGE), na Rua do Sanatório, bairro da Boa Vista. O prédio é propriedade do Governo Federalista e era protegido por segurança privada antes de ser ocupado.

As histórias nos barracos do Maria Firmina

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Na ocupação do velho IBGE, há 190 famílias, acompanhadas por 58 crianças. As instalações do prédio são antigas e ele está deteriorado, com placas de cerâmica em falta do piso ao teto, fiação exposta e itens porquê janelas, fechaduras e pias arrancados. Quem faz a manutenção do imóvel, atualmente, é a própria coordenação da ocupação. O mobilizador Denety Ferreira, de 43 anos, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), dá conta de gerenciar todas as famílias sozinho. Eletricista, ele treina outros moradores para o entendimento de elétrica e construção, e assim os próprios ocupantes vão recuperando o prédio aos poucos. Os barracos são identificados por números e controlados através de assinaturas.

Em seguida um trabalho de meses, a ocupação está prestes a inaugurar novos espaços no prédio, em seguida uma reforma no quadro elétrico, construção de banheiros coletivos separados por gênero, e também sistema de monitoramento por câmeras e detectores de presença. Os moradores têm luz elétrica em todos os cômodos, o que antes não era uma veras. Tudo foi obtido através de doações, em privativo uma da Organização Habitacional do Brasil (Habitat) em Pernambuco, que doou murado de R$ 30 milénio em materiais para a reforma do Maria Firmina.

“No primórdio foi difícil tirar o pessoal das ruas e trazer para a ocupação. O maior duelo é conseguir parar o uso de bebidas e entorpecentes, agora a gente consegue. Aliás, a rua ficou menos esquisita. O próprio batalhão que cuida da região falou com a gente que o número de furtos e roubos da rua caiu depois da ocupação, porque o problema do Meio é muito prédio vazio, transacção fecha cedo, não tem ninguém na rua a partir do termo da tarde. Tem gente que usava a outra rua para poder passar, e hoje já passa por cá, porque tem movimentação”, disse Denety.

A ocupação Maria Firmina dos Reis não permite o uso de drogas dentro da propriedade; bebidas alcoólicas também não são aceitas. Assim, porquê driblar o duelo de distanciar os moradores do uso e incentivá-los ao tratamento regular? De harmonia com Denety, o controle é uma forma de evitar crises, tumultos e até mesmo episódios de violência, além de problemas com a lei, já que a ocupação é bastante visada pela polícia e por vizinhos. A ocupação, no universal, gera incômodo naqueles que não a conhecem.

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Mônica e Gutemberg são dois dos 190 moradores do Maria Firmina, e ocupam os barracos de número 67 e 57, respectivamente. Mônica Maria Farias, de 52 anos, está no lugar há seis meses e precisou iniciar tratamento para livrar-se do crack. Já Gutemberg Felipe, de 41 anos, está na ocupação desde a lisura – há um ano e nove meses – e precisou largar o álcool e as drogas para conseguir o seu lugar no lugar.

Ambos eram pessoas em situação de rua quando conheceram o trabalho de Denety. Segundo Mônica, ela conheceu o crack aos 40 anos e saiu de vivenda por consequência dele. A relação com a família tornou-se insustentável e, em seguida diversos episódios em que ela se viu roubando da própria vivenda para conseguir comprar entorpecentes, a rua começou a parecer a última opção. Antes disso, morava com a família na Ilhéu de Joaneiro, uma comunidade às margens da avenida Agamenon Magalhães.

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“Tá com seis meses que eu consegui parar o crack. Já me internei antes, mas nunca consegui parar por quatro, seis meses, consegui só cá na ocupação. (O crack) Prejudicou muito a minha saúde. Ficava muito cansada, internada direto, com problema de pulmão. Ainda tomo medicamento para passar esse cansaço, mas vivia internada na Barros Lima e, mesmo assim, nunca parava, continuava o uso. Eu catava lixo pra consumir. Pra conseguir verba, passei um tempo me prostituindo ali na Maré (à cercadura rio, em Santo Amaro), e depois parei e fiquei me virando na Ceasa, até hoje”, compartilha Mônica.

Já a sujeição de Gutemberg se acentuou em seguida o catador de recicláveis suportar perdas familiares, a estrear pela da própria mãe, em 2016. Ele também perdeu a tia e a avó logo em seguida. Quando a mãe dele morreu, ele estava prestes a deixar a Penitenciária Agro Industrial São João (PAISJ), na Ilhéu de Itamaracá. Em 2005, o varão foi recluso e passou 12 anos em reclusão.

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Na PAI (porquê chamam a PAISJ), ele aprendeu a tocar bateria, passava o tempo compondo e frequentando cultos evangélicos. Muito religioso, Gutemberg sempre fala em “Deus” ao referir qualquer projecto de sua vida e se diz feliz, mas contrito do pretérito e positivo de que o porvir será melhor, com mais oportunidades. Quando relembra o alcoolismo, começa a chorar, pois lembra que o vício só começou com o luto pela falecida mãe.

“A melhor coisa em nossa vida é quando a gente tem um lar, um cantinho para botar a cabeça. Morar na rua não é bom, a gente passa dificuldade pra consumir e pra dormir. A gente não dorme lá. Quem vive na rua não dorme, vegeta. Hoje, eu sou feliz, só não sou mais feliz por culpa do que aconteceu com a minha mãe. Olho e nem acredito que estou por baixo de um teto. Cheguei cá, não tinha zero; uma leito, um sofá, uma mesa, e olho agora, tenho uma televisão grandona, um ventilador, e esse esquina venturoso. Hoje posso proferir que estou vivendo um verdadeiro sonho, o sonho da minha moradia, mas o meu libido de Natal mesmo, libido da vida, é ter uma vivenda própria”, disse o morador.

A vida de Ednilda

Durante a visitante à ocupação, o LeiaJá conheceu também a história de Ednilda Josefa Herculano, de 47 anos. Ela havia feito natalício dias antes da entrevista, no último dia 15 de dezembro, mas sequer sabia que o dia era de celebração de sua vida. Foi avisada pelo companheiro, Paulo, que lembrou casualmente da data. Ednilda não sabe ler e nem grafar, e foi abandonada pela mãe aos 10 anos de idade. O pai, ela nunca conheceu. Atualmente, faz bicos porquê doméstica e lavadeira para fazer renda além do Bolsa Família que recebe. Quando as contas não fecham, recorre ao trabalho que teve aproximação ainda aos 10 anos: a prostituição.

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Se as histórias de Mônica e Gutemberg revelam porquê a pobreza e a falta de oportunidades e de planejamento familiar podem afetar a vida de pessoas em vulnerabilidade, a de Ednilda mostra falhas ocorridas ainda numa tempo muito precoce. Menino, ela foi privada do lazer, da instrução, da segurança e do zelo dos genitores.

Em seu prova, ela conta que seu padrasto tentou desmandar sexualmente dela, mas a mãe não acreditou no relato da filha e expulsou Ednilda de vivenda. Aos 10 anos, ela foi morar com uma tia, mas a situação de predatismo e pedofilia se repetiu com o marido da mulher. “Descobri, ali, que meu sorte era rua, que família não era pra mim”, disse ela em entrevista. Aos 15 anos, ela se tornou sem-teto.

“Eu não tive família. Foi só pra me botar no mundo, mas nunca tive pai e mãe. Logo fiquei assim, trabalhava na vivenda dos outros pela comida, pela dormida, e chegou o dia que eu disse ‘é, vai no sorte’. Às vezes arrumo um varão, não dá perceptível, vou, volto de novo. Tinha 15 anos (quando fui morar na rua). Dormi muito na rodoviária, prefeitura, sempre procurei um esquina pra ninguém mexer comigo. Porquê eu já ‘tô’ na vida de fazer programa mesmo, é quase porquê estar na rua. Quando não tem o que consumir, tem que estar pedindo aos outros. Se eu disser que, todo dia que saio pra rua, lucro verba, é pataratice. Se remunerar o meu preço, que eu peço, vou por R$ 20, R$ 30, R$ 40 ou R$ 50”, relatou.

Ednilda não tem porquê ignorar o sonho da moradia. Mais do que uma vontade, é uma premência antiga oriunda de um recta recusado a ela ainda muito jovem. No entanto, o libido de Natal dela mora um pouco mais longe. Ela, que sabe que a mãe mora no Rio de Janeiro com o padrasto hoje, sonha que a mulher esqueça do pretérito e a procure. A mãe de Ednilda, que se labareda Dulcelina, nunca a procurou. A exiguidade já dura 37 anos. Conheça mais da história da moradora:

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