Taperoá, na Paraíba. Você pode não saber onde fica, mas com certeza já ouviu falar. É onde viveu o jornalista Ariano Suassuna. Dez anos posteriormente sua morte, o responsável está onde sempre quis e gostou de estar: na memória popular.
Nas trapalhadas de Chicó e João Grilo; na saga histórica, política e filosófica do Romance da Pedra do Reino; ou mesmo nas famosas “aulas-espetáculo”, disponíveis na internet.
Ariano foi publicado em vários idiomas e fez secção da Ateneu Brasileira de Letras (ABL). Na hora da posse, o jornalista Joaquim Falcão, também membro da ABL, lembra que Suassuna dispensou o fardão, traje tradicional, e estava de alpercatas.
Não dá para somar a personalidade nem o tamanho da obra do jornalista, que nasceu na sede do governo do estado, atual João Pessoa, em 16 de junho de 1927. Ariano passou a viver a juventude em sua pequena Taperoá, posteriormente perder o pai, assassinado por razões políticas.
Esse trajo fez com que ele nunca caísse em críticas generalizantes sobre o tema, segundo Joaquim Falcão, membro da ABL.
“Ele sempre dizia o seguinte: ele tem pena dessa generalização que o Brasil faz por profissão. Isso o Ariano era absolutamente contra. E ele tinha pena dessa generalização, porque essa generalização não reflete o Brasil”, disse em entrevista à Rádio Pátrio.
O Auto da Compadecida
Ariano Suassuna, morto há 10 anos, foi publicado em vários idiomas e fez secção da Ateneu Brasileira de Letras (ABL). Foto: Valter Campanato/Registro/Filial Brasil
Para os palcos, foram as obras O Auto da Compadecida, Uma Mulher Vestida de Sol está em A Farsa da Boa Preguiça. Suassuna tinha carinho pelo que criava e gostava de ver sua obra ganhando adaptações para o cinema e para a televisão. Chegou a participar ativamente dos bastidores de algumas delas.
Joaquim Falcão resume a brasilidade de Ariano, lembrando uma sátira bem-humorada do jornalista sobre a Disney World.
“O que se precisava de Ariano hoje é isso que você está fazendo. É que o Brasil descubra o Brasil. O Brasil não é Disneylândia. O Brasil é Taperoá”.
Neste 23 de julho, quem estiver em Taperoá, no sertão da Paraíba, terá o privilégio de participar de uma exposição itinerante sobre a obra do jornalista, passando pela Lar Museu, repleta de xilogravuras, e o cortejo com músicos e artistas que levam adiante o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna na dez de 1970 com expressões artísticas baseadas na raízes da cultura popular brasileira.
Também tem debate na Câmara Municipal de Taperoá sobre o realismo fantástico das obras de Suassuna, que mistura veras e fantasia. No término da tarde, o concerto Armorial e o Grupo Teatro Oficina irão se apresentar.
Um dia de espetáculos, uma vez que tantos outros que Suassuna levou para o povo.
“Um espetáculo numa cidade chamada Belém de São Francisco, lá no Basta Sertão, na rossio pública. E quando terminou, eu ouvi um dos maiores elogios que eu já ouvi na minha vida, uma velhinha, do povo: ‘Nunca pensei, morrer, antes de morrer, eu ver um espetáculo bonito uma vez que esse’. Aquilo me pagou de tudo quanto foi de canseira que eu vinha tendo. Ver uma coisa dessa…quer expressar, eu sei que eu levei pra ela uma alegria do tamanho daquelas que eu tinha quando eu via o circo quando eu era menino. E levando uma arte e qualidade que o nosso povo merece”, contou Suassuna.