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A temporada de balanços do quarto trimestre de 2024 deixou um recado claro para o investidor da bolsa brasileira: quer insistir na renda variável? Então foque nas ações de empresas consolidadas no mercado e com baixo endividamento. Um estudo da PWC Brasil com 348 companhias de capital aberto na B3 mostra que as que fecharam o ano com caixa fortalecido e dívida controlada já saíram na frente em 2025.
O cenário de juros altos e economia andando de lado no Brasil derrubaram as expectativas de analistas e investidores para os resultados do período de fim de ano. A boa notícia é que a maioria conseguiu surpreender positivamente, mas alguns setores realmente viraram o jogo e mostram potencial de valorização – se o cenário externo permitir. Outros, nem assim.
Ajustando expectativas aqui: no quadro geral, os resultados das empresas brasileiras não foram nada de cair o queixo. A receita líquida anual das empresas avaliadas (excluídas as do setor financeiro) aumentou, em média, 7,7% na comparação com o ano anterior. Em termos reais, a receita líquida das empresas aumentou, em média, apenas 2,8% acima da inflação oficial (IPCA) para o ano de 2024.
Já no setor financeiroque inclui grandes bancos e instituições desse segmento, o retrato é ainda mais positivo: a receita de intermediação financeira cresceu, em média, 11,6% na base anual.
- Já o lucro operacional avançou 16,7% no setor financeiro em 2024, enquanto o do restante das empresas avaliadas ficou praticamente estável entre um ano e outro. Então aqui vai o primeiro recado: dificilmente investir em grandes bancos no Brasil é uma aposta errada. Mas uma margem de desvio, neste caso, existe de acordo com o prazo que o investidor tem para recuperar seu investimento. Em um cenário macroeconômico de aversão ao risco, como o atual, até mesmo os papéis desse setor podem apanhar na bolsa.
A decisão de não agregar os dados vem das diferenças nos negócios. “Como as estruturas do setor financeiro não têm receita de vendas, suas linhas operacionais não conversam com os outros setores, o que traria distorções para o levantamento”, explica Alessandro Marchesinosócio e líder de mercado de capitais da PWC Brasilsobre a decisão de trazer os dados separadamente.
Já o lucro, além de não ter trazido informações expressivas, tem menos relevância na análise como critério de avaliação do desempenho dos negócios. Isso porque, de acordo com o especialista, o lucro das empresas traz características setoriais de tributação e efeitos não recorrentes, que criam uma assimetria nos números.
- Agora, brilha os olhos mesmo a estabilização da capacidade das companhias de pagarem suas dívidas de curto prazo. Em um ano que a Selic, prometida para descer até os 9% ao ano, inverteu o rumo e foi dos 11,75% para (entre quedas e altas) voltar aos 12,25% no fim de 2024.
Para essa análise, a PwC relacionou o ativo circulante e o passivo circulante (são, nesta ordem, os bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro no curto prazo, e as dívidas que devem ser liquidadas no curto prazo – geralmente, até 12 meses). Quanto mais alto esse índice, portanto, mais capacidade a companhia tem de honrar seus compromissos financeiros que estão para vencer.
Na média geral, o índice permaneceu praticamente estável entre 2023 e 2024, mas subiu de 1,6 vez para 2,2 vezes no setor de comércio, e de 1,9 vez para 2,2 vezes nas empresas do setor de exploração de imóveis.
Justamente aqueles que, teoricamente, mais sofrem com a escalada dos juros, já que esses setores costumam ser mais endividados e os juros mais altos encarecem o custo da dívida.
“Vimos um nível de disciplina e seriedade das empresas no controle da situação do endividamento que trouxe um tom muito positivo. Existe a máxima de que o Brasil não é para iniciantes, e as empresas brasileiras provam isso nesses momentos mais críticos”, pondera Marchesino.
O executivo ainda destaca que as empresas do setor de comércio e telecomunicações se sobressaíram ainda mais com a gestão estratégica da redução de alavancagemAssim, isto é, da relação entre a dívida (que pode ter caído) e o resultado operacional da companhia (que pode ter subido, e a dívida se manteve estável).
Nesse aspecto, nem todos os setores se saíram bem, porque a capacidade de as empresas honrarem os pagamentos de curto prazo não necessariamente têm relação com a redução da alavancagem, ressalta o sócio da PwC.
E, por isso, o setor de construção e engenharia não aparece entre os destaques positivos. Os resultados corporativos no último ano são marcados pelo alongamento do perfil da dívida. Isso significa que as empresas conseguiram renegociar prazos com credores, por isso, as dívidas de curto prazo caíram, em média, de 3 a 4 pontos percentuais.
Não necessariamente todas as companhias amortizaram ou pagaram suas dívidas em 2024. Esse aspecto se torna um ponto frágil na tese de investimento, considerando que o ano de 2025 deve ser marcado por Selic ainda mais alta e pela desaceleração mais brusca da economia brasileira.
Em quais setores investir e de quais fugir?
A última temporada de resultados sinaliza, com nuances por setor, um ambiente de gestão mais disciplinada e pede que o investidor pessoa física esteja atento aos fundamentos. Nesses casos, mesmo setores que não são tradicionalmente defensivos, podem entrar nas carteiras de ações caso se aposte numa melhora de cenário para a companhia.
O que a pessoa precisa observar, na avaliação de setores mais sensíveis ao ambiente econômico, são os nomes de qualidade. Isso significa priorizar as empresas que são consolidadas e lideram no seu segmento, aquelas com gestão mais conservadora de caixa – pode ou não ser focada na distribuição de dividendos – e que têm compromisso com a redução do endividamento.
No levantamento da PwC, entre os destaques de 2024, aparecem:
- O varejo aparece pela “faxina nos balanços”. Empresas do setor conseguiram cortar quase pela metade a dívida bruta, melhoraram em 6,4 pontos percentuais seus níveis de liquidez e alongaram os vencimentos de curto prazoprovando sua capacidade de adaptação num ambiente hostil. A desalavancagem ajuda a reforçar a confiança do mercado e um apoio robusto dos investidores controladores em empresas que pareciam fragilizadas. Para quem busca papéis descontados com perspectiva de recuperação no médio a longo prazo, esse pode ser um bom ponto de entrada. Mas, claro, é preciso separar o joio do trigo: empresas que se anteciparam no ajuste de rota são as que merecem atenção.
Como estão as ações de varejo na bolsa neste começo de ano: as ações do varejo tiveram uma descompressão relevante nesse começo de ano com o ajuste nas apostas para a Selic, tendo subido, em média, 32% neste ano até o dia 10 de abril.
- O setor de alimentos processadosque abrange gigantes da indústria, teve um ano sólido. Crescimento de receita, aumento de margem e melhora na capacidade de cobrir despesas financeiras apontam para uma gestão eficientemesmo com o peso da inflação nos custos. Como são empresas com perfil mais defensivo — ou seja, sofrem menos em momentos de instabilidade —, seguem como boa alternativa para quem busca estabilidade com algum ganho no médio prazo.
Como estão as ações da indústria de alimentos na bolsa neste começo de ano: nesse grupo, entram companhias como as produtoras de proteínas, casos de JBS, Marfrig e Minerva, que tiveram um começo de ano excepcional no embalo dos resultados de 2024, tendo subido, em média, neste ano 11% até o dia 10 de abril.
- As empresas de agropecuáriaapesar de representarem uma fatia pequena das companhias listadas, ganham os holofotes pela melhora de rentabilidade. Mesmo com o clima jogando contra, a valorização de commodities e o dólar ajudaram no resultado. É um setor para ficar no radar, especialmente as exportadoras. Mas atenção: o desempenho em bolsa pode ser mais volátil, já que depende de fatores externoscomo clima e mercado global.
Como estão as ações do agro na bolsa neste começo de ano: as empresas do agro são poucas e algumas estão em recuperação judicial, o que cria uma dinâmica própria para os ativos. Investidores especializados em companhias em reestruturação entram na jogada, junto com especuladores, que tendem a montar posições vendidas (que apostam na desvalorização do ativo), o que cria distorções. Não é um grupo de empresas recomendado ao pequeno investidor pouco instruído sobre essas estratégias. Essas empresas valorizaram, em média, 10% neste ano até o dia 10 de abril.
Acontece que há também setores que merecem muito cuidadopara os quais a situação neste começo de ano parece pior.
- O segmento de construção e engenhariapor exemplo, mostrou números operacionais fortesmas a performance das ações muitas vezes andou na direção contrária. O motivo? Expectativas infladas do mercado e um cenário de juros ainda alto, que pressionam empresas com financiamento pesado. É um daqueles casos em que os números enganam: na prática, o risco ainda pesa mais que o potencial de retorno no curto prazo.
As ações de construtoras na carteira do Ibovespa dispararam, em média, 25% no começo deste ano até o dia 10 de abril. Acontece que são ativos muito voláteis e, assim como as ações de varejo, tiveram um respiro no começo deste ano por conta do alívio no horizonte para a Selic.
E mesmo isso tende a mudar – ou, ao menos, passar por muitos sobressaltos este ano -, graças à escalada da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China.
Pois é, tem certeza de que vai encarar a bolsa nessa situação? Então prepare o estômago e foque no longo prazo.
Se 2024 foi o ano da adaptação, 2025 será o teste de fogo desta década para as companhias brasileira.
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