Setembro 28, 2024
Uma vez que o filme ‘Divertida Mente 2’ encarou a impaciência – e saiu vitorioso

Uma vez que o filme ‘Divertida Mente 2’ encarou a impaciência – e saiu vitorioso

Do cima da sala de controle que fica dentro da mente de Riley, uma pequena de 13 anos, as emoções Alegria, Tristeza, Raiva, Temor e Nojinho observam a evolução das chamadas “ilhas” — centros coloridos e em permanente movimento que reúnem o que há de mais importante na vida da moça. Uma das ilhas é voltada só para o hóquei, esporte que ela pratica. Outra, a maior delas, é a da amizade. Ali perto, um tanto menorzinha, está o esquina da família. A calmaria chega ao termo quando, de um dia para outro, o rebate da puberdade dispara, trazendo para o sítio novas emoções prontas para bagunçar a cabeça da jovem. A animação Mente Engraçada 2 (De dentro para fora 2Estados Unidos, 2024), já em papeleta nos cinemas, secção do desfecho do longa anterior, de 2015, no qual Riley, logo aos 11, entra na pré-adolescência — período pequeno e de rápidas mudanças que culminam agora no caos da período que a tira de vez da puerícia. Chegam de mala e cuia à sala de controle o grandão rosado Vergonha, a observadora Inveja, o recostado Tédio e a alaranjada Sofreguidão — o qual se impõe uma vez que protagonista da trama, em um revérbero incômodo da vida real.

Mente engraçada [Blu-ray]

Riley não está sozinha: estima-se que 300 milhões de pessoas no mundo sofram de impaciência — e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o triste líder desse ranking. Também padece do mesmo mal o americano Kelsey Mann, diretor do filme. “Aprendi que a melhor maneira de mourejar com qualquer problema é falando sobre ele”, disse Mann em entrevista a VEJA. “Assim uma vez que o primeiro filme deu ferramentas para os adultos conversarem com as crianças sobre a tristeza, espero que desta vez as famílias possam falar claramente sobre a impaciência.”

AMADURECIMENTO - Riley: emoções disparadas pelo alarme da puberdade
AMADURECIMENTO - Riley: emoções disparadas pelo rebate da puberdade (Disney Pixar/.)

Sofreguidão – Augusto Cury

Ousados e originais, os dois filmes são exemplos notáveis do poder criativo da Pixar, o estúdio fundado por Steve Jobs e hoje pertencente à Disney que, nos melhores momentos, é hábil em transcrever temas espinhosos do mundo adulto para as crianças. A usina americana de animações não nega a nascente de onde extraiu tal marca: o trabalho dos japoneses do Studio Ghibli, que embalam seus desenhos de traços delicados em roteiros profundos. Luto, terror, impaciência, frustração e transtornos mentais são assuntos que ambos já exploraram com conhecimento, reforçando um histórico relevante no gênero. Ao longo de sua história, as animações têm sido capazes de transformar agruras da vida em seres coloridos, trazendo conforto, identificação e pitacos sobre superação e sazão (leia aquém).

Museu Pixar: Histórias e arte do estúdio de animação

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De mãos dadas com a ciência, Mente Engraçada 2 contou com consultores renomados. São eles o psicólogo e professor universitário americano Dacher Keltner, que estuda as emoções e seus efeitos no convívio social e nos julgamentos morais; e a também psicóloga Lisa Damour, especializada nas mudanças mentais de meninas. A dupla foi precípuo na seleção das novas emoções da trama — que costumam surgir quando o quidam passa a dar mais valor a seu entorno social e ao modo uma vez que ele é visto pelos outros. “O cérebro fica mais sofisticado ao transpor da puerícia, desenvolvendo a autoconsciência e a capacidade de enxergar diferentes perspectivas sobre um matéria”, diz Damour, que explora o tema no livro A vida emocional dos adolescentes (As Vidas Emocionais dos Adolescentes), de 2023, ainda sem edição no Brasil. O processo de fazer Mente engraçadaaliás, é seivoso. “Temos muro de 500 pessoas envolvidas no desenvolvimento, que durou quatro anos”, conta o produtor Mark Nielsen. Ao longo desse período, os rascunhos e o roteiro foram feitos e refeitos diversas vezes, e apresentados aos demais funcionários da Pixar antes de chegar ao público-alvo, com exibições experimentais para famílias — e, evidente, garotas de 13 anos.

A vida emocional dos adolescentes – Lisa Damour

Se o primeiro filme surpreendeu pela originalidade ao explorar a mente humana, o novo se aprofunda em detalhes subjetivos, uma vez que o desenvolvimento das convicções e do tino de si. Riley está crescendo e, assim, descobrindo quem é, quais são suas prioridades e qual porvir ela gostaria de ter. É nesse último substrato que a Sofreguidão deita e rola. Ao se apresentar para as novas emoções, o ser laranjinha abre um laptop para mostrar todos os possíveis cenários tenebrosos que podem ocorrer se Riley for ruim no hóquei ou não fizer amigos no ensino médio — sempre com desfechos horríveis e irreparáveis. A Sofreguidão domina a mente da jovem, jogando as demais emoções para longe da sala de controle. Enquanto elas tentam voltar ao seus devidos lugares, a trupe liderada pela Alegria passa por novas construções mentais: do barranco do sarcasmo aos segredos ocultos, até o meio da imaginação — antes uma oficina de pensamentos joviais e criativos, leste agora se vê sob domínio da Sofreguidão. Mas uma vez que vencê-la? Eis a pergunta que vale uma vida — e que Mente engraçada consegue, a seu modo, resolver. Haja emoção!

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‘Bambi’ (./Disney)

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‘A Viagem de Chihiro’ (Estúdio Ghibli/.)

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Em A Viagem de Chihirouma pequena sem gosto vê os pais virarem porcos. O filme é do Studio Ghibli, afeito a tramas psicológicas

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Publicado em VEJA de 21 de junho de 2024, edição nº 2898

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