“Eu queria uma cesta básica e um ventilador. Tenho três filhos e um deles é próprio e usa remédios controlados. Não tenho condições para comprar um telefone. ( Por isso) Vou deixar meu endereço. Muito obrigado por tudo. Feliz Natal e Feliz 2024!” A mensagem, escrita em uma folha de caderno por uma mãe de Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, foi deixada na caixa de correios do Papai Noel do Shopping Bangu, também na Zona Oeste, no último dia 8 de dezembro.
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Numa outra cartinha depositada no mesmo sítio, o pedido é de um menino: “Tenho 8 anos e sou autista. Meu grande sonho é lucrar uma bicicleta. Minha mãe está desempregada e recebe o bolsa-família. Ela usa o moeda para remunerar o aluguel para não morarmos na rua”. Para Genuíno José Rodrigues, de 79 anos, que estava trabalhando porquê Papai Noel no shopping no último dia 14, é difícil não se emocionar com o que escuta e lê. Os pedidos, conta, são muitos. E muitas vezes passa longe do que se espera que uma moçoilo pense.
— Uma moça de 10 anos me pediu que ajudasse o pai e a mãe a arrumar trabalho para não faltar comida em vivenda. Falei que eu iria pedir a Deus que isso acontecesse. Na hora tive vontade de chorar. É muito difícil segurar às lágrimas e não se emocionar ao ouvir coisas assim — diz Genuíno que, antes de ser Papai Noel, trabalhou por anos porquê motorista de ônibus.

Papai Noel recebe pedidos inusitados em shopping do Rio
Pedidos feitos por crianças ou adultos que não mencionam brinquedos, telefones de última geração ou presentes caros têm chegado cada vez mais às mãos dos bons velhinhos. Alguns são comoventes porquê as histórias citadas supra. Outros são diferentes e até inusitados. O EXTRA conversou com três Papais Noéis que trabalham em shoppings do Rio e descobriu que, neste natal, pede-se de tudo: desde marido — passando pelo milagre de inferir boas notas na escola e não ter nenhum coleguinha de turma reprovado — até para que o cachorro seja estremecido por toda a família, mesmo que alguns prefiram o gato.
Trabalhando porquê Papai Noel desde 2016, em seguida ter concluído o curso da Escola de Papai Noel do Brasil, Carlos Alberto Patrício, de 71 anos, que bate ponto natalino no Botafogo Praia Shopping, na Zona Sul do Rio, já perdeu a conta das histórias que ouviu. Mesmo assim, muitas vezes é surpreendido, porquê aconteceu no último dia 8, quando recebeu uma moça de 8 anos, que estava segurando um cachorrinho nas mãos:
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— Ela estava com a mãe, o pai e uma mana mais novidade. Depois fazer fotos, ela veio com o cachorrinho no pescoço. Ela afinou a voz e começou a proferir: “Papai Noel, tem que falar com o papai para ele me amar, papai não me governanta”. Eu achei estranho uma moçoilo proferir que o pai não a amava, mas depois entendi que ela estava falando porquê se fosse o cachorro, dizendo que o pai dela não costuma trebelhar com o cãozinho. Pergunte ao pai dela se ele não amava o cachorro. Ele disse que tinha um gato para dar atenção, mas que, a partir daquele momento, prometia que iria amar também o cachorro da mesma maneira que o gatinho. A moçoilo ficou muito feliz.
Já de uma jovem, Patrício recebeu outro tipo de pedido e, para não deixar a moça sem resposta, acabou brincando de “consultor sentimental”.

— Outra história que ouvi, muito dissemelhante, foi de uma jovem que pediu um marido de presente. Sei que ela falou comigo brincado, mas tinha de dar uma resposta para ela. Perguntei se conhecia o Tinder; ela achou engraçado e disse que conhecia sim. Falei que ela deveria buscar uma pessoa com características parecidas coma dela. Ela falou que não frequentava balada e era uma pessoa cristã. Disse, portanto, para que buscasse uma pessoa no grupo social que ela costuma frequentar. Ela ficou satisfeita com o que ouviu — conta o bom velhinho, que nos outros meses do ano vive porquê emérito e ainda é síndico de um prédio na Zona Setentrião.
Histórias inusitadas também fazem secção da vida natalina de Paulo Roberto dos Santos, de 63 anos, que há dois dá expediente porquê Papai Noel em dezembro — nos outros 11 meses do calendário, vive porquê ator e figurante. Atualmente, ele dá expediente porquê o bom velhinho do Madureira Shopping, na Zona Setentrião, e conta que, diariamente, fica emocionado com os pedidos que ouve de crianças e adultos.
— No último dia 12, uma moça de uns 7 ou 8 anos chegou para fazer um pedido. Ela me pediu para que as amigas da sala de lição tirassem boas notas para que não ficassem reprovadas. Perguntei: “mas você não quer presente?” Ela respondeu que só queria mesmo que todas passassem. Eu disse que iria rezar a Deus pedindo que todas as amiguinhas conseguissem ser aprovadas — lembra. Também teve um menino de 9 anos que me marcou muito. Ela aparentava estar muito triste. Chegou e me contou que a mãe havia se separado recentemente e pediu para que eu falasse com papai do firmamento para que ela ficasse feliz. Fiquei muito tocado e disse para o menino que iria pedir para papai do firmamento para fazer a mãe dele feliz.
Mas não tem sido fácil ouvir pedidos vestido porquê Papai Noel numa cidade onde, no dia 18 de novembro, faltando mais de um mês para o verão chegar, a temperatura bateu incríveis 42,5ºC. Segundo Limachem Cherem, fundador da Escola de Papai Noel do Brasil, os bons velhinhos têm recusado trabalho em espaços simples ou sem climatização por conta do potente calor. O próprio Limachem chegou a sentir na pele o problema de vestir uma roupa de tapume de oito quilos em meio a temperaturas altas na Região Metropolitana do Rio.
— Aparecem muitos pedidos na escola, por exemplo, para permanecer andando em supermercado, fazer porta de loja, sarau de confraternização em campos de futebol. Zero disso estamos aceitando. Eu, por exemplo, porquê Papai Noel, passei por um aperto na semana passada. Fui atender a uma cliente em Itaguaí e era uma escola. Durante 40 minutos fiquei no ginásio, numa quadra de esporte com telhado de zinco. Tinha mais de 200 crianças e eu não querendo deixar de atender a todas. Suava demais, bebi chuva, mas não aguentei. Chegou uma hora que pedi e disse que não dava mais, pois eu ia rematar passando mal — afirma.
Para evitar que os bons velhinhos passem mal, Limachem sugere a colocação de um aparelho de ar-condicionado portátil ao lado dos tronos dos Papais Nóeis e uso de um figurino mais ligeiro, com uma roupa adaptada.
— Estamos passando muita dificuldade. Nós da Escola de Papai Noel já tivemos pelo menos uma meia dúzia de Papais Noéis que estão trabalhando em shopping, trabalhando no trono, e o ar-condicionado não consegue ajudar. Porque a roupa é pesada, a roupa do Papai Noel é de veludo; ou por outra, ainda há ainda outra roupa por reles, feita de algodão, para não deixar passar o suor. Porquê está muito calor, fica difícil. Tem Papai Noel baixando na enfermaria interna do shopping para tomar soro. Já tive Papai Noel que abandonou o trono por não conseguir trabalhar assim — relata ele. — A Escola de Papai Noel vem conversando com o pessoal de marketing dos shoppings para, além do ar-condicionado do próprio shopping, colocar um ar-condicionado portátil ao lado de cada trono. Em um dos shoppings, por conta do calor, houve a sugestão de uma roupa adaptada, mais ligeiro, para o Papai Noel usar. Fizemos, portanto, uma camisa branca fininha, suspensórios e uma calça vermelha mais ligeiro.