Abril 20, 2025
“Ultra violeta”, a queima do sucesso segundo Margaux Cassan – rts.ch
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Uma história pessoal e ensaio filosófico, “Ultra violeta”, de Margaux Cassan, disseca o bronzeamento como um “fato social total”, reconstituindo a história de sua mãe. Com este livro, o autor realiza uma releitura sociológica, religiosa e mitológica da exposição ao sol, revisitando o mito de Ícaro.

Quando “uma pequena mancha roxa, levemente arredondada” aparece no alto da testa de Gabrielle, mãe da autora, é a morte batendo à porta dessa entusiasta do bronzeamento. Na década de 1980, os “Rastignac do sol” eram os donos do mundo, tinham o vento nas velas, tudo dava certo para eles. Gabrielle também quer fazer parte disso.

Aos cinquenta anos, a mãe não escapou. Ela estava assada, ela estava pronta. Foi o culminar lógico de uma vida inteira perseguindo raios.

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Trecho de “Ultra violeta” de Margaux Cassan

Para reconstituir a história da mãe e da sua obsessão, a autora mergulha na sua própria história, mas também na da exposição ao sol, da qual realiza uma releitura sociológica, religiosa e mitológica. É o mito de Ícaro e a associação íntima com a bola de fogo, até à fusão e desaparecimento, que ela revisita. Ela também não deixa de lembrar como os banhos de sol e os sanatórios eram práticas médicas terapêuticas comuns que tiveram, em parte, suas origens na Suíça.

O sol bactericida, sol sinônimo de vida, força e saúde plena, confere superpoderes. Antes de se tornar um agente acelerador do envelhecimento e de graves perigos para a saúde agora reconhecidos. Mas nada acalma os filhos do sol: bronzear-se é passar por uma mudança, inclusive social, ao mesmo tempo que uma busca por identidade.

O mito do homem bronzeado

Para compreender a sua mãe, Margaux Cassan também explora a sua genealogia. Ela atravessa o anel viário e vai interrogar Jeanne, sua avó, em Val-de-Marne. Esta recomposição da linhagem materna permite à neta captar a intensidade da vontade com que a mãe quis romper com o seu ambiente original.

Saia dos subúrbios, torne-se um verdadeiro parisiense, intramuros, participe em festivais literários onde conhece Jean-Paul Enthoven, Jack Lang, Jacques Séguéla e outras estrelas com uma tez semelhante à sua, ou mesmo vá à Cidade Vermelha na África do Norte, onde se encontram estes “Rastignac du soleil”, como o autor os chama.

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Este abandono total ao raio da estrela suprema é sinônimo de uma forma de onipotência e liberdade para se libertar dos fracos e dos fracos. Filosófica e fisicamente, o super-homem é um homem bronzeado, é discípulo do moreno Nietzsche e relega o pálido Kant.

Ultravioleta ultra violento

O vício está aí. Quando o sol se põe, a máquina de bronzeamento assume o controle. Escurecer a pele torna-se uma obsessão que resulta nesta frase inócua que a mãe da autora repete para a filha sempre que a visita: “Minha querida, você ainda conseguiu aproveitar o sol?” Será que a autora conseguirá escapar ou se tornará também uma tanoréxica, nome dado a quem desenvolve uma forma de dependência patológica do bronzeamento, a ponto de adotar comportamentos de risco?

Batemos numa criança, insultámo-la, mas quando lhe damos sol, fazemos-lhe mal?

Margaux Cassan, autora de “Ultra Violeta”

Finalmente, se Margaux Cassan opta por escrever o seu título “Ultra violeta” em duas palavras, é para enfatizar a proximidade com a ultraviolência. Durante sua primeira sessão de UV na máquina de bronzeamento, a autora, então adolescente, chega a se perguntar se forçar o bronzeamento de uma criança não é uma forma de abuso.

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Com “Ultra Violet”, aprendemos tanto sobre a intimidade e história familiar do autor como sobre a nossa relação como filhos de Ícaro com a estrela que, por assim dizer, simboliza tanto o nosso início como o nosso fim.

Céline O’Clin/ld

Margaux Cassan, “Ultra violeta”, edições Grasset, outubro de 2024.

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