No Olimpo dos pioneiros espanhóis de todos os tempos, uma longa lista tão desconhecida quanto silenciada pelo patriarcado dominante, juntamente com Clara Campoamor, Emilia Pardo Bazán, Rosalía de Castro, Elena Maseras ou Federica Montseny (entre muitas outras), tem instalou Carmen Valero: o nome próprio das Olimpíadas femininas espanholas.

Carmen Valero (número 9) durante a competição, que terminou com o tempo de 15.00.2, numa intervalo de 4.410 metros, proclamando-se campeã espanhola de Cross Country Feminino Sénior.
Seu sobrenome não aparecerá no imaginário dos grandes nomes do esporte vernáculo – os Santanas, Martín Bahamontes, Ballesteros, Nieto ou Fernández Ochoa –, mas Carmen Valero (Castelserás, 1955 – Sabadell, 2024) foi a primeira a romper a fronteira do presença feminina nos Jogos Olímpicos. Naquela Espanha negra e branca e rançosa dos anos 70, morrendo a ditadura, o desportista de Teruel – depois radicado em Sabadell – desafiou as autoridades do regime, da Igreja e do establishment federativo correndo pelas pistas de atletismo de calções e suspensórios. e os caminhos do cross country para invadir um lugar na escol europeia e mundial.

O Campeonato Espanhol de Clubes, troféu José Antonio Elola, foi disputado no rotação Moradia de Campo. Na categoria feminina, Carmen Valero da JA Sabadell revalidou o título, na intervalo de 3.500 metros.
Valero conquistou 24 campeonatos espanhóis nas décadas de 70 e 80: oito campeonatos de cross country, dois nos 1.500 metros indoor e outdoor, três nos 800 metros, sete nos 1.500 metros e quatro nos 3.000 metros, além de ser o recordista espanhol no 800, 1.500 e 3.000. Ele ganhou destaque no cenário internacional com dois títulos mundiais de cross country em 1976, em Chepstow, e em 1977, em Düsseldorf. Embora seu grande feito de todos os tempos tenha sido conseguir a passagem olímpica para ser a primeira espanhola a participar dos Jogos, os de Montreal em 1976.

LXVI CAMPEONATO ESPANHOL DE ATLETISMO: Madrid, 2-8-1986.- Carmen Valero lidera um grupo de corredoras na final dos 5.000 metros femininos, Valero conquistou a vitória com o tempo de 16m48s95.

Carmen Valero, com o número 135, rumo ao segundo título mundial, em Düsseldorf.
Foi a melhor recompensa para uma curso desportiva em que teve que somar esforço e sacrifício para treinar a persistência e a obstinação para invadir um lugar entre os homens, contra todas as probabilidades. Desde os 15 anos foi cândido de insultos na rua quando treinava de bermuda, até que, já consolidada pelos seus resultados, viveu o desdém e o desprezo da Federação Espanhola, que a excluía das reuniões técnicas. “Eles eram praticamente só para os meninos, porque nos mandaram fazer o que podíamos e nos mandaram embora em cinco minutos”, explicou o desportista em entrevista em 2019.

Carmen Valeron posa com o prêmio de ouro “Ya” em 1978
Uma falta de saudação institucional que ficou evidente às vésperas do primeiro título mundial em 1976, no País de Gales. Um membro da federação espanhola dirigiu-se ao pequeno grupo de mulheres participantes no campeonato:
–Você é bunda grande e peituda. Você não tem chance de fazer zero relevante.
Foi retratado. Valero, portanto com exclusivamente 20 anos, antes de entrar no gol vitorioso, aproximou-se da arquibancada e com os braços na cintura se dirigiu ao diretor, que, aí sim, subiu no coche dourado lhe dando incentivo.

Carmen Valero, de JA Sabadell (c), Carmen Alonso (2º) e N,Roguero (3º) no pódio da prova, juniores e seniores, dos 2.350 metros.
–Portanto os atletas espanhóis são bunda grande e peituda, evidente? –ele retrucou para o machista.
Valero, 68 anos, morreu ontem em consequência de um acidente vascular cerebral sofrido na semana passada e que o levou aos cuidados intensivos, segundo a Real Federação Espanhola de Atletismo.