O ex-ministro do Consumo e até dezembro superintendente da Izquierda Unida, Alberto Garzón, anunciou esta quarta-feira que se demite da consultoria Acento, fundada pelo socialista José Blanco e presidida pelo ex-ministro do PP Alfonso Alonso. “Não quero que a minha decisão pessoal prejudique os meus antigos colegas”, afirma o ex-líder da IU, que reconhece numa epístola publicada na madrugada desta quarta-feira nas redes que a notícia, conhecida na véspera, “despertou uma enorme perturbação na esquerda- ecossistema de asa”, incluindo as formações e espaços políticos aos quais “dedicou todas” as suas “energias” durante os últimos 12 anos. “A sensação universal, que me foi confirmada por diversos dirigentes políticos, foi a de que se tratava de uma decisão que afetaria negativamente as expectativas eleitorais do espaço político”, justifica.
Depois da incompreensão que tem surgido no espaço político, e com a intenção expressa de não prejudicar as organizações às quais dediquei tanto tempo e virilidade da minha vida, anuncio a minha exoneração de aderir uma vez que tinha planeado.
Esta é a minha notícia sobre isso: pic.twitter.com/OLZutzBQkG
— Alberto Garzón🔻 (@agarzon) 14 de fevereiro de 2024
Dada a reação que a notícia da sua contratação provocou, Garzón levanta algumas críticas. “Acho que a esquerda tem que refletir sobre uma vez que trata os homens e as mulheres que dedicam o seu tempo, a sua virilidade e a sua vida, enfim – o que temos de mais valioso – a projetos coletivos. Disse isso quando saí da traço de frente da política e penso ainda mais num dia uma vez que hoje: se aprendi alguma coisa é que a política é um esmagador de gente”, afirma. “A esquerda em que acredito não deveria reproduzir aquelas práticas que expulsam mais pessoas do que integram. O debate é sempre bem-vindo, mas ninguém sabe que esta polémica teria sido muito dissemelhante se a esquerda não tivesse sido atormentada por múltiplas batalhas internas”, resume depois, entre outros, do velho secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, ter escrito no último noite um editorial muito duro no meio que dirige, Quotidiano de Redecom sua decisão de trabalhar para a consultoria.
“A esquerda em que acredito é menos preconceituosa e inquisitorial, é mais heterodoxa e humana e, supra de tudo, tem uma concepção de Estado e de política onde o importante não é o clarão pessoal em termos de pureza esquerdista, mas sim ter mais influência em todos os espaços possíveis”, acrescenta.
“Perante esta incompreensão e antes de chegar a um ponto em que possa prejudicar o espaço político pelo qual tanto trabalhei, anuncio com esta mensagem que desisti de ingressar na Acento uma vez que tinha planeado”, afirma num texto em que explica que o trabalho que planeava realizar na consultora “se encaixou muito muito” no propósito de prestar aconselhamento profissional em assuntos em que tem conhecimentos “suficientes”. O ex-ministro destaca que o CEO e a equipa têm se comportado “magnificamente muito” com ele e que para eles a situação é “particularmente injusta”.
“Sempre coloquei o interesse coletivo adiante do interesse pessoal e acredito que assim deve continuar”, continua Garzón no final da epístola, reconhecendo “um ponto de frustração” nas suas palavras. “Admito que é logo que me sinto. Dói que depois de tantos anos abrindo mão da saúde por um projeto coletivo, e passando tantas horas em exaustivas disputas internas, sinta que as dinâmicas tóxicas que nunca compartilhei ainda me assombram, mesmo agora que estou fora da política formal. Mas nascente é o estado político e emocional em que a esquerda se encontra”, questiona o ex-ministro. “Lamento se contribuí de uma forma ou de outra para cevar a perturbação colectiva. Desde o início, as minhas decisões e as minhas ações sempre foram no sentido de proteger o espaço e o projeto coletivo. Vai continuar assim e por isso esta exoneração”, conclui.
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