Março 19, 2025
‘Gladiador 2’, o filme que Mary Beard não vai gostar nada
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Denzel Washington interpreta o lanista Macrinus, o verdadeiro protagonista do filme, mas sua filosofia nada tem a ver com a filosofia estóica e marcial que motivou as lutas de gladiadores. O fato de se referirem a “escola de gladiadores” me incomoda, há muito defendo que esses locais deveriam ser chamados de “quartel de gladiadores” porque se assemelham mais a um local de treinamento militar do que a um centro de educação. Não, Ódio, vingança e violência visceral não foram o que moveu um gladiador a lutar na arena. Coragem, coragem e aceitação da morte com honra foram. Um Jano na Roma antiga não teria tido sucesso como gladiador em diversas cenas ele pula a exaltação da honra e luta como um malandro; O público nunca teria aceitado algo assim numa arena do Coliseu.

Ódio, vingança e violência visceral não foram o que moveu um gladiador a lutar na arena.

Gladiadores sem capacete, com trajes mais adequados ao mundo militar do que ao do ludus romano. ‘Gladiador 2’ não divaga tanto quanto seu antecessor, mas ainda tem um longo caminho a percorrer para ver os atores vestidos como um verdadeiro gladiador. Foi um prazer, sim, poder ver alguns capacetes que são cópias dos originais pompeianos, mas pouco mais. Mais uma oportunidade perdida. Neste ponto, existem muitos livros especializados e conselheiros com grande conhecimento sobre o assunto. Scott, penso eu, erra ao pensar que o público precisa ver as mesmas coisas na iconografia cinematográfica para compreender um filme. Nós, especialistas, estamos mais que cansados ​​de ver tantos erros e há muitos historiadores que não entendem que os temas já utilizados em outros filmes e em pinturas historicistas são uma solução para manter o espectador parado, porque reafirmam o que já sabe. É mais fácil do que contar a realidade da gladiatura romana.

Brigas com animais

‘Gladiador 2’ tem muitos outros espetáculos romanos, o filme não trata apenas de gladiadores, embora o título já diga isso. Temos “venationes” (brigas com animais), por exemplo, totalmente fora do personagem com animais irreais (demasiado retocados por computador, sangrentos e violentos) numa “damnatio ad bestias” que Scott usa como prova para comprar gladiadores. Uma “damnatio” para animais era uma execução completa. Ninguém saiu vivo da areia.. A seleção dos gladiadores foi feita de forma diferenciada. A seu favor direi que, de facto, muitos dos gladiadores que lutaram nos anfiteatros de todo o império vieram de soldados capturados em batalhas.

E se esses babuínos são um horror antinatural, o que dizer dos tubarões que acompanham a naumaquia, a batalha naval no anfiteatro. Sabemos que em Roma havia animais de água salgada participando de exposições. Como essa água chegou à “Urbs”? Talvez o diretor tenha encontrado a solução graças à Inteligência Artificial. A favor deste espetáculo imaginado por Scott, devo dizer que ele tentou sair da confusão de colocar dois navios dentro do Coliseu, algo que nós, especialistas, ainda estamos debatendo. Não sabemos como os antigos romanos conseguiram fazer isso. Scott realiza uma hipótese corajosa. Embora, mais uma vez, cometa o erro, Janus, gladiador, jamais teria participado de um deles. As naumaquias sempre foram executadas por pessoas condenadas à morte que jamais poderiam sair vivas do espetáculo.

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Os babuínos são um horror, e o que podemos dizer dos tubarões que acompanham os naumaquia…

E agora que vamos exagerar e levar o espetáculo ao limite do inesperado, vamos acrescentar um rinoceronte montado, não como se fosse um cavalo. Vamos tornar “ainda mais difícil” que o gladiador suba em pé. Não há necessidade de equilíbrio. Um animal impossível de montarObviamente, mas a questão é que o cinema, quando se torna espetáculo, não entende as realidades. Animais e gladiadores nunca estiveram juntos em uma arena de entretenimento. Vamos relembrar, e se você não sabia, convido você a ler nosso livro ‘Gladiadores. Coragem diante da morte’ (Desperta Ferro), que pela manhã, em dia de espetáculos, aconteciam as “venationes” onde os homens (“venatores”) lutavam contra animais ferozes e os caçavam; ao meio-dia ocorreram as execuções dos condenados à morte; e à tarde o gladiador luta. Um gladiador nunca teria lutado contra um animal. O treinamento de “venatores” (caçadores) e gladiadores era realizado em diferentes quartéis (“ludus”) porque as necessidades de cada um desses especialistas eram totalmente diferentes.

Por fim, a cena da execução de Lucila (e não gostaria de dar spoilers, mas não posso falar de outra forma). É uma fantasia que nem é do próprio Scott. Isso nos lembra muito uma das cenas de ‘O Sinal da Cruz’, com aquelas guirlandas de flores. Amarrada a um poste, digna como deveria ser uma romana de longa linhagem, filha do imperador Marco Aurélio, ela espera ser executada por ter atacado o Estado. Até agora tudo bem. Mas nunca teria sido exposto dessa forma. A sua execução não teria acarretado vergonha, embora nos lembremos que por ser mulher as fontes não nos teriam deixado nenhuma história a respeito. Ela provavelmente teria sido exilada para uma ilha deserta, onde teria morrido no esquecimento, ou morta à espada, sem dar explicações após um julgamento sumário.

‘Gladiador 2’ é uma fantasia que nada tem a ver com a realidade, nem historicamente nem com relação aos espetáculos romanos. Puro entretenimento sem nenhuma didática. Um grotesco que duvido muito que até os romanos, aqueles que “eram loucos”, como dizia Asterix, teriam gostado.. Lembre-se, leitor, para conhecer a Roma Antiga é preciso ler ensaios, o cinema é simplesmente espetáculo.

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*María Engracia Muñoz-Santos é doutora em Arqueologia Clássica e coautora, juntamente com Fernando Lillo Redonet, do livro ‘Gladiadores. Coragem diante da morte

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'Gladiadores. Coragem diante da morte', Fernando Lillo Redonet - María Engracia Muñoz-Santos
Capa do livro que María Engracia Muñoz-Santos assina com Fernando Lillo RedonetEdições Wake up Ferro

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