Em Trasmoz, a bruxaria acontece o ano todo. Sendo a única cidade tecnicamente amaldiçoada e excomungada de Espanha, nas suas ruas tranquilas ao pé de Moncayo é geral ver vassouras penduradas nas grades ou cartazes anunciando que a feitiçeira do ano vive nesta ou naquela vivenda. Mas nestes dias marcados pelo Halloween, a vila destaca o seu regime de non grata no Reino dos Céus, ao qual deve a sua renome e o maná do turismo curioso pelo oculto e mágico que atrai.
“Somos os abençoados e condenados”, diz Lola Ruiz, porta-voz não solene dos 40 moradores que residem cá no inverno. Segundo diz, o grande dia aconteceu no sábado pretérito com a celebração da sarau ‘La Luz de las Ánimas’, que combina o piedoso – procissão incluída ao cemitério – com o pagão: mercado aterrorizante, abóboras com velas, passagem de terror ou queimada popular com manipanço próprio. “Tapume de 6 milénio pessoas compareceram, foi uma ótima experiência”, diz ele.
Para entender a história do lugar é preciso voltar à Idade Média. Naquela era, Trasmoz era a única localidade da zona que escapava ao controlo direto do vizinho Monasterio de Veruela, incluindo o pagamento de impostos, natividade de ressentimentos e desentendimentos. Em 1255, o conflito entre os dois agravou-se devido à luta pela lenha de uma serra próxima onde todos vinham abastecer-se. O abade da era, Andrés de Tudela, cansou-se de que a sua mando não fosse respeitada e tomou a drástica decisão de excomungar o povo.
Três séculos depois, a chuva era a novidade natividade de confronto. O senhor de Trasmoz em 1511, Pedro Manuel Ximénez de Urrea, pegou em armas contra o abade do mosteiro porque os clérigos tinham desviado um via procedente que impedia a chegada de chuva à vila. O rei Fernando II de Aragão interveio para fazer a silêncio em prol do senhor de Trasmoz, decisão que não agradou ao abade, que acabou por pragar o povo.
cidade amaldiçoada
O primeiro conflito com o Mosteiro de Veruela foi pela lenha e o segundo pela chuva.
Para torná-la efetiva com maior solenidade, as supostas crônicas da era incluem uma encenação macabra no meio da noite. Depois de deter o crucifixo do altar com um véu preto, o abade recitou o Salmo 108 da Bíblia em que Deus amaldiçoa os seus inimigos – “Ó Deus do meu louvor, não te cales. Bocas de ímpios e traidores estão abertas contra mim” – enquanto ele acompanha suas canções com o toque vigoroso da chocalho. Trasmoz foi precito pela noite e pela traição.
Desde portanto, a mito marcou a cidade com letras sombrias. Bruxas, covens, necromancia… Dizia-se que todas as atividades prejudiciais à espírito humana aconteciam dentro dos limites desta povoação que era desconfortável para os vizinhos habituados que viviam a poucos quilômetros de intervalo.
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Retrato de Gustavo Adolfo Bécquer
Mas o que assusta uns, atrai outros. Entre aqueles que curiosamente se renderam aos seus encantos estão figuras porquê Gustavo Adolfo Bécquer. Em 1863, o poeta e redactor sevilhano mudou-se por um período para o Mosteiro de Veruela para respirar o ar puro que curaria a sua tuberculose. Essa estadia foi inspiradora e ajudou-o a desenvolver o seu trabalho epistolar. do meu celularpublicado no jornal O Contemporâneo ao longo de 1864.
Em três destas cartas deu conta de algumas lendas da zona, porquê a que dedicou à famosa construção do forte de Trasmoz numa única noite – naquela era, a fortaleza era uma ruinoso que guardava a vila do no elevado do morro – ou outro em que narrou a morte da tia Casca, uma feitiçeira de Trasmoz que foi morta atirada de um barranco pelos vizinhos. “Somos a cidade a que ele mais dedica linhas, Bécquer é o nosso melhor emissário”, alegra-se Ruiz.
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Apesar da excomunhão e subsequente maldição, os residentes de Trasmoz continuaram a praticar as suas práticas religiosas sem, tanto quanto sabemos, entrar em conflito com o Todo-Poderoso ou com a jerarquia eclesiástica. “As missas ou os casamentos são celebrados normalmente, não há conflitos”, sublinha a vizinha. Mesmo assim, tecnicamente a sentença permanece firme, uma vez que unicamente o Papa de Roma tem o poder de revogar essas sentenças, alguma coisa que ainda não fez.
“Continuamos amaldiçoados, mas não nos importamos, aproveitamos para que a cidade e seus atrativos sejam conhecidos”, diz Ruiz, que cita a feira de bruxaria e vegetais mágicas que cá acontece todo verão ou o Museu de Bruxaria, por onde passam tapume de 10 milénio pessoas por ano.
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