A Pepa Flores Teria levado quinze minutos para transpor de sua mansão num prédio de apartamentos no Paseo de la Farola, em La Malagueta, galgar o parque e entrar para ver o documentário sobre ela que neste domingo estreou no Festival de Málaga na seção solene fora de competição. Sua mana Vicky, que aparece no filme, já assistiu, assim uma vez que suas três filhas, María, Celia e Tamara. Seu último sócio nos últimos 35 anos, Massimo Stecchini, também colaborou e acolheu ‘Marisol, me chame de Pepa. Processo para um mito’, o filme definitivo sobre a atriz e cantora, que apareceu pela última vez em evento público no Festival de San Sebastián de 1985.
Ninguém sai incólume de uma vida uma vez que a que teve. uma mulher que queria desvanecer e conseguiu fazê-lo nos últimos quarenta anos. Marisol tinha saudades da puerícia que não teve numa corrala sem chuva nem luz no bairro dos Capuchinos, em Málaga. Era uma rapariga que não parecia espanhola, loira e com olhos muito azuis. Pizpireta, divertida, inteligente e gentil, “nos trouxe alegria e felicidade em nossas vidas, não havia mais zero”, lembra o produtor Enrique Cerezo, possuidor dos direitos de muitos de seus filmes. “A Marisol era a luz e a cor daquela Espanha”, resume Elvira Lindo.
A menininha flamenca que dançou para Franco entre os Coros e Danças da Seção Feminina em 1959 cativou um país pacífico e fechado com sua aura angelical.. Blanca Torres, diretora do documentário, teve aproximação a imagens inéditas em arquivos no exterior, além de seus longas-metragens e bastidores. Duas atrizes dão voz ao pensamento da protagonista, quando párvulo e quando adulta. Hoje é difícil imaginar o impacto da Marisol em Espanha e em metade do mundo. O fenômeno dos fãs, o merchandising -inusitado naquela época-, as revistas e os bonecos… Da América Hispânica ao Japão, passando pelo ‘The Ed Sullivan Show’ com Harpo Marx.
“Até agora a abordagem da Marisol tem sido sensacional, com documentários e séries de baixa qualidade”, lamenta a produtora Chema de la Peña. “Fizemos um trabalho sério e profundo para estar à profundidade do personagem”. Sua protagonista sempre soube que estava sendo feito um filme sobre ela. “Sentimos o seu pedestal desde o início. Massimo ajudou-nos o tempo todo”, afirma Blanca Torres. “Todos que aparecem no documentário mantêm um fascínio pelo mito.”
COMUNISTA E SEXISTA
Chema de la Peña acredita que Qualquer outra pessoa com a biografia de Marisol teria completo se suicidando ou se viciando em drogas.: “Ele reconstruiu sua vida dissemelhante do que era e tudo acabou muito.” E o diretor acrescenta: “Seu dom e sua cruz foram negar seu papel de artista”. Marisol não teve sorte com o cinema quando cresceu. Ele queria trabalhar com Polanski e Losey e conseguiu dois dos piores filmes de Bardem. Eram tempos de mulheres-objeto na tela. Depois de um primeiro conúbio com Carlos Goyanes, fruto do seu inventor, chegou Antonio Gades, comunista mas sexista, uma vez que revela o documentário.
A sua reforma em Altea, localidade de Alicante onde pôde levar uma vida normal, não impediu Pepa Flores de se tornar a imagem da Transição na capote do ‘Interviú’ com um nu histórico ou de erguer o punho nas manifestações contra a NATO . Fidel Castro e a dançarina Alicia Alonso foram seus padrinhos de conúbio em Cuba. ‘A Pequena de Moscou’, uma vez que ‘Change 16’ a batizou, começava a se cansar de tudo, inclusive das infidelidades de Gades. “Deixe que se esqueçam de mim, uma vez que se eu nunca tivesse existido”, chegou a expor.
A Espanha que nunca distinguiu totalmente o que era verdade e ficção nos filmes da rapariga Marisol, quase sempre órfã em procura de afeto, nunca a perdoou enquanto crescia. “O mundo de hoje entende Pepa Flores melhor do que antes”, observa o diretor. “Ela estava adiante do seu tempo e, uma vez que qualquer mulher daquela estação, era difícil para ela ser tratada uma vez que adulta. Ela era um ícone coletivo; para muitas mulheres era muito importante que ela dissesse ‘Eu sou Pepa Flores e não Marisol.'”
O documentário, que será lançado nos cinemas antes de ser veiculado nas plataformas (TVE e Conduto Sur participam de sua produção), reivindica o feminismo da autora da ‘Galería de perpetuas’, que se considerava uma trabalhadora cultural e que viu sua identidade perdida quando ela interpretou Mariana Pineda na televisão. “O regime de Franco usou-a para fabricar um tipo de mulher e na Transição ela antecipou durante quarenta anos o que as feministas exigem hoje.”
O retorno a Málaga significou um retorno às origens e a um paraíso perdido. E a reivindicação do orgulho de classe. O filme aponta uma certa sordidez no vestuário de uma rapariga conviver com seu inventor. “Declaramos o quão estranho e inapropriado era uma rapariga viajar sozinha num mundo exclusivamente de homens adultos. E isso é tudo o que lemos. Pepa Flores foi muito sincera nas suas entrevistas nos anos 70. Devemos respeitá-la”, justifica. o diretor, que pixeliza a famosa capote de ‘Interviú’. “Ela não consentiu com essa nudez.”
– O que você perguntaria à Pepa Flores se ela tivesse concordado em ser entrevistada para o documentário?
Que, uma vez que esta. Espero que ela seja uma mulher feliz depois de tudo o que aconteceu. E eu diria a ela que na sociedade atual ela é muito apoiada por muitas mulheres de diferentes gerações, que a compreendem e a amam. Espero que você sinta e obtenha essa força.