Novembro 19, 2024
Miguel Ríos completa 80 anos: “Minha maior conquista é a sensação de não ter desistido de mim mesmo”

Miguel Ríos completa 80 anos: “Minha maior conquista é a sensação de não ter desistido de mim mesmo”

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Joana Lopez

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Neste dia 7 de junho, Miguel Ríos completa 80 anos em plena forma. Por ocasião desta data tão redonda e da celebração em grande estilo no dia seguinte ao
Granada All Stars, um concerto muito aguardado na rossio de touros de Granada, convocámos o emblemático cantor para relembrar alguns dos seus momentos pessoais e profissionais mais relevantes. Com muita gentileza, o artista nos atende depois uma sessão de fisioterapia e nos dá uma notícia muito boa.

«Estou a restabelecer do supraespinal que foi rompido e já estou a terminar a reparação, felizmente. Eles fornecem muitas correntes que regeneram seus tecidos. “Já tenho jeito para trovar”, conta-nos o artista sobre o emocionante concerto em que irá partilhar o palco, entre outros, com outras das mais emblemáticas bandas locais porquê
Los Angeles, 091, Nick Lizard e Crianças Mutantes. O Miguel, a quem vos dirigimos, deixa-nos simples que se sente mais confortável em ser espargido, e é muito generoso nas suas declarações, que nos mostram mais uma vez porquê ocupa o seu lugar no mundo.

Miguel, no seu caso pode ser aplicado melhor do que com qualquer pessoa que tenha sido vidente na sua terreno.

Se a verdade. Fui até nomeado Doutor Honorário da Universidade. É uma honra imensa, assim porquê a medalha da cidade, da província… Quando comecei a trabalhar o objetivo principal era que as pessoas me amassem, que tivessem uma boa vibração comigo, e eu consegui. Desde que fiz ‘Vuelvo a Granada’ notei porquê aumentou o carinho dos meus compatriotas. “Quando entreguei os direitos autorais à cidade senti ainda mais”, conta-nos sobre esta música que lançou em 1968.

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Estou muito envolvido em Granada, embora tenha vivido mais na periferia, porque estive quase sempre em Madrid. De certa forma, tive uma perspectiva de Granada que os granadinos talvez não tenham ladino. Vi a cidade crescer, porquê ela foi se modernizando, porquê naquelas demonstrações que se fazem quando um prédio está sendo construído e você vê porquê todas as vegetação crescem a todo vapor. Eu tenho esse sentimento. Conheci-a intermitentemente nas viagens que fiz para ver minha mãe e minha família. Depois, quando eu tinha uma lar lá eu estava mais presente.

Os efeitos das memórias na perspectiva das coisas

Em entrevista recente você destacou que, ao retornar para sua lar e para o bairro de sua puerícia, o que mais lhe chamou a atenção foi que havia carros porque antigamente não era assim.

Não havia carros, não porque os meus vizinhos não quisessem ter carros, mas porque não podiam tê-los. Morei no bairro da Cartuja até os 17 anos. Foi quando cheguei a Madrid. Saí de lá em 61, mas porquê não podia permanecer na capital, tive que voltar por períodos de dois ou três meses, enquanto se preparava o próximo álbum. Quando voltei para o meu bairro tive a sensação de que tudo era muito menor do que eu pensava. O espaço foi ocupado por outros elementos que logo não existiam, mas também ocorreu a sensação de déjà vu. É uma imagem muito cativante para mim.

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Você era o caçula de nove irmãos de uma família muito humilde. Você nunca perdeu sua consciência de classe, não é?

Quando nasci, já éramos sete. Dois morreram. A mais velha teria agora 96 ​​anos, mas morreu. O próximo, meu irmão, tem 93 anos. Nossa família era da classe trabalhadora e sempre tive aquela sensação de que com as pessoas com quem me senti mais confortável, com quem não tive que forçar nenhuma posição, são aquelas que me cercou de pequenos, das pessoas do meu bairro e das pessoas da minha classe social. Nesse sentido, tenho consciência de classe. Nunca gostei do que não tive. Por exemplo, não gostei de ser muito rico, mas não me importo porque não fui.

Quando você iniciou sua curso porquê Mike Ríos, nome artístico que lhe foi oferecido, você priorizou sua personalidade e recuperou seu nome verdadeiro, Miguel Ríos.

Isso é um truque. Americanizaram meu nome. Nós, Kirk Douglas, não pronunciamos ‘daglas’, mas ‘duglas’. Em Granada, Mike é pronunciado “mique” e não “maik”. Em Granada “mique” é um acrónimo de “mira que” e é muito utilizado. Da mesma forma, a termo “galo” está intimamente ligada à língua granadana. É muito generalidade ouvir coisas porquê “que pau você faz”, “que pau você quer”, para que pudessem me expor “que pau esse rostro quer”, por exemplo – ele nos conta com humor -. Aquilo me assustou. Contei ao diretor artístico, Rafael, porquê ele tinha feito isso comigo, porquê eu iria para Granada com esse nome. Imaginei as piadas e as tretas ruins sobre meu nome.

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Imagem promocional do concerto Granada All Stars. /

FACEBOOK MIGUEL RIOS

A figura de Elvis Presley foi crucial para você naquela idade.

Adotei a fé no rock’n’roll sem saber muito o que era, simplesmente pela emoção que ouvi-lo me deu. A literatura gerada em torno do gênero não existia na Espanha. Estávamos numa autonomia, longe de tudo… Passaram-se vários anos até vermos revistas inglesas ou Salut les copains (famosa publicação francesa). Senti que o que Elvis Presley disse ele estava me dizendo, embora eu não entendesse. O meu foi um ato de fé. Havia um tanto de religioso nisso, substituindo a missa escolar pelo dança na piscina.

Qualquer um teria se inscrito nesse projecto…

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Tive muita sorte com isso. Para que isso acontecesse, primeiro tive que me tornar novato em uma loja de departamentos. Essas lojas de departamentos tinham uma seção de discos e me designaram para lá. Percebi que as vozes que vinham de fora tinham um rosto, um registro, uma idade… Mudou minha vida e a percepção da profissão. Não foi só uma emoção, teve gente que ganhava a vida com isso. Não era somente um hobby, mas uma vocação e um trabalho.

Um grande leitor, um livro de memórias e um romance incompleto

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Há 15 anos você queria se reformar, mas não deixaram. Suponho que o rei do rock na Espanha não pode resignar, terá que estar ativo até o último suspiro.

Não posso me reformar novamente, porquê você ressalta, estarei cá até o último suspiro, porquê Buñuel. Isto tem sido incrível. Não é que eu disse que iria me reformar. Há 15 anos, quando eu tinha 65 anos, eu realmente achava que a originalidade estava um pouco diminuída, era difícil para mim encontrar músicas, porque sou mais cantor do que compositor ad hoc. Escrevi muitas músicas porque ninguém me ofereceu o que eu precisava para o meu repertório. Estava ficando muito difícil e pensei que não precisava esticar mais o chiclete.

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Sou um grande leitor e o que não aprendi na escola aprendi nos livros e na universidade na rua. Naquela idade, o Planeta me contratou para ortografar um livro de memórias. Não me pareceu estranho porque conhecia o enredo, que é o mais difícil. Eu me senti positivo sobre os passos que iria dar e para onde deveria ir. Comecei a utilizar o conhecimento que adquiri com a leitura para relatar minha história. Levei alguns anos para terminá-los. Gostei tanto de fazer isso que pensei que ortografar poderia ser uma saída. Na verdade, comecei a ortografar um romance e ele tinha até título,
‘The Young Ones’, porquê a música de Cliff Richard. Quando percebi que não tinha espeque para o que estava acontecendo com os personagens, tive que ceder. Ele não me deu o que eu tinha lido para poder montar a história do que eu queria relatar.

O sigilo era estar em forma e ansioso…

Sempre tive uma voz muito boa. Eu me cuidei e me exercitei. Posteriormente anunciar minha aposentadoria, muitas pessoas me chamaram para trovar com elas e participei de todas as causas beneficentes para as quais fui requisitado. Quando me pediram para fazer uma turnê pelos 20 anos de ‘O sabor é nosso’ eu adorei, não pude recusar. Foi porquê uma tábua de salvação para um náufrago. Tive a desculpa perfeita para voltar. Depois vieram muitas outras coisas e eu nem tive tempo de pensar.

Miguel Ríos, num concerto recente. /

GTRES

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O promotor músico Gay Mercader me contou recentemente que seu camarada Mick Jagger leva uma vida muito ordenada e estruturada, que a imagem que temos dos roqueiros e dos excessos nem sempre corresponde à verdade.

Os excessos são cometidos no momento específico em que o corpo responde. Mick Jagger fez tudo o que tinha que fazer na idade certa para poder fazê-lo, porque todos sabemos porquê nos recuperamos aos 30 ou 40 anos, mas aos 60 ou 70 as coisas mudam. Tem gente que não se cuida de jeito nenhum. A voz, que é o grupo muscular que mais resiste, que mais lentidão a envelhecer, precisa de cuidados. MIck Jagger foi e continua sendo um desportista.

Um dos capítulos da sua vida que muitas pessoas talvez não saibam é que você foi impedido por quase um mês por consumir maconha.

Narrativa isso em minha biografia de forma muito explícita. Houve um tempo, estamos falando do início dos anos 70, em que começamos a fumar baseados porquê se a repressão não existisse. De repente, San Pedro chegou com as vendas e muita gente começou a tombar. Entre outros, eu. Foi a experiência mais repugnante da minha vida e que ainda não superei. Passei três noites nas masmorras da Direção-Universal de Segurança e ouvi porquê as pessoas eram torturadas.

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Eram masmorras infames, quase medievais, e vi pessoas muito danificadas passarem. Aí fui a um tribunal onde nem me deixaram ir com meu jurisconsulto. Depois levaram-me para o que se chamava “meio de temperança”, o hospital Carabanchel. 27 dias em Carabanchel, por mais hospitalar que fosse, foi muito difícil de assimilar. Eles aplicaram a você a Lei dos Vagabundos e Criminosos e estragaram sua vida.

Tive susto que minha mãe descobrisse e tivemos que isolá-la um pouco, até dos vizinhos e da vizinhança, porque era uma coisa muito destacada naquela idade, saíam coisas muito duras na prensa. Eu já era uma figura conhecida. Tive o chinês e passou, mas é um incidente que a memória não consegue erradicar completamente, devido ao sentimento de culpa com que fui criado. A culpa foi a pior conselheira que tive naqueles momentos, senti que realmente tinha feito um tanto incorrecto e não fiz.

Quatro grandes estrelas com estilo próprio

Você mencionou antes suas turnês com Joan Manuel Serrat, Ana Belén e Víctor Manuel. Eu acho que você tem que deixar seus egos de fora e ter um sentimento de certa irmandade para compartilhar tanto tempo juntos e trespassar incólume.

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Em princípio somos pessoas educadas, nos conhecemos muito, sabemos o que cada um gosta e o que não gosta. Eu os admiro muito. Ana Belén é um prodígio da natureza, Juan é a referência da minha geração e Víctor é um ser excelente, uma pedra, o titã do Setentrião, um rostro referto de munificência. Todos os três são. Sabíamos qual o lugar que cada um de nós ocupava e qual a função que desempenhávamos no elenco de ‘El gusto es nuestra’. Eu adoraria fazer isso de novo, mas já temos baixas nas fileiras!

Vocês têm um repertório muito vasto, mas o ‘Hino à Alegria’ tem um valor simbólico enorme porque várias gerações cresceram com ele.

Quando me pediram para fazer o quarto movimento da nona sinfonia de Waldo de los Ríos y Trabuchelli, olhei para ele com um pouco de suspeição. Eu queria ser um roqueiro a todo dispêndio. ‘Hino à Alegria’ é uma daquelas peças que validam o ser humano pelo lado mais positivo. Quando comecei a trovar percebi que estava fazendo um tanto transcendente. Quando percebi aquela emoção que passava pela minha goela, soube que estava batendo justamente em uma das portas da música, da emoção.

Com quais conquistas pessoais você se sente mais satisfeito?

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De ter mantido a congruência na minha vida e continuar sentindo a emoção de não desistir nem desistir, e de encarar a vetustez porquê se o que me resta de vida fosse tão importante quanto o que vivi. Acho que é uma grande conquista. Também as pessoas ao meu volta, a família, o meu envolvente, o quadro emocional para continuar resistindo na vida. E, simples, o sucesso não subiu à minha cabeça.

Fonte

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