Há alguns anos, devido à TV do dedo e ao VOD, o hábito se perdeu. Mas nós, firmes na fé, não pretendemos perfurar mão desta bela tradição e, a cada primavera, aguardamos ansiosamente aquela porção infinita de peplums que as redes generalistas nos dão em cada Páscoa. Uma filmografia entre cujos títulos temos um evidente predilecto: Para onde você vai (Mervyn LeRoy, 1951).
Por que professamos esta devoção a Para onde você vai? Vamos lá. Em universal, os filmes considerados filmes de ‘Páscoa’ são ou cinebiografias de seu protagonista (Rei dos Reis, A Maior História Já Contada, Jesus Cristo Superstar…), muito, filmes que tenham ele porquê secundário (Ben-Uma vez que). E também há outros (O véu sagrado) que, embora não o façam desabrochar diante das câmeras, têm outro substância principal: dezenas de cristãos sendo dados aos leões no Circo ou no Coliseu.
O que torna o filme de LeRoy peculiar, portanto, é que ele tem tudo o que pedimos em um filme de especialidade… e, aliás, uma capacidade de rir de si mesmo que o transforma em nossos corações.

Entre esse sentido de piadas bíblico-apaixonadas e sua estética maravilhosa (cafona? Muito, sim, muita honra), Para onde você vai é uma delícia. E os seus 171 minutos de zero divertem qualquer tarde aborrecida, seja porque o cortejo de serviço não permite rodear na rua, seja porque há motivos imperiosos que obrigam a permanecer em morada.
Não é de surpreender que o filme tenha sido um megablockbuster que salvou o Metro-Goldwyn-Mayer de falência… nem que tenha sido tão fácil para nós encontrar motivos para recomendar a sua visualização.
Uma vez que ‘Ben-Hur’, mas você ri
Talvez a MGM estivesse pretextando a produção de Para onde você vai com a intenção de oferecer uma história edificante sobre os primeiros cristãos. É até verosímil que, para deixar isso evidente, os líderes do estudo tenham se reunido com um pastor protestante, um padre católico e um rabino num encontro porquê o que nos foi mostrado pelos pesquisadores. Coen em Saraiva caesar! Mas, embora o romance original de Henryk Sienkiewicz (que já havia sido ajustado para o cinema três vezes) ofereceu matéria-prima para um filme dessa natureza, também a forneceu para fazer o que esse filme acabou sendo: uma bagunça kitsch de espera e não se mexe.
A diferença de Ben-Hur, o outro best-seller de estação por vantagem (e que voltaria ao cinema em 1959, oito anos depois desta versão de Para onde você vai), a historia de Marcus Vinícius, Lygia E esse Nero tão perverso que não precisava da mão sibilina de um Gore Vidal infiltrar sua história com homoerotismo e duplas leituras.
Se somarmos a cor de Hollywood dos anos 1950 aos músculos do varão poderoso Ursus (Buddy Baer) já é um leopardo porquê Papa de Patrícia Laffan, O resultado é um filme cuja ilegalidade e prostituição podem convencer tanto o religioso mais fervoroso quanto aqueles que professam um ateísmo inabalável, desde que estejam dispostos a não levar a sério o que vêem na tela.
Roma Imperial em Technicolor
Uma vez que é sabido, Para onde você vai Foi indicado a oito Oscars, dos quais não ganhou nenhum. E, embora naquele ano a competição tenha sido acirrada (A Rainha Africana, Um Lugar ao Sol sim Um americano em Paris Eram rivais duros), três dessas derrotas nos prejudicaram muito: as de Melhor Retrato, Melhor Figurino e Melhor Direção de Produção.
Não é preciso ser um profissional para saber que o rigor histórico da Para onde você vai tende a zero, mas essa fraca fidelidade aos factos faz segmento do seu portento. A deliciosa gama cromática que se podia obter com o vetusto Technicolor de três bandas tem cá um dos seus exemplos de maior sucesso, juntamente com O Mágico de Oz, E o Vento Levou sim Robin da floresta (a versão de 1938 com Errol Flynn). Exatamente o que um público que acabara de deixar a Segunda Guerra Mundial precisava para chupar as maravilhas.
É difícil crer nisso Roberto Surtees, o diretor de retrato que capturou esta Roma em tons pastéis, foi mais tarde diretor visual de filmes tão diferentes porquê O graduado e finalmente, Ben-Uma vez que. E também é muito triste que todo esse esplendor acabe pegando lume. Evidente que, se abordarmos nascente facto teratológico, também temos de falar sobre a pessoa responsável… e portanto estamos vendidos.
Esse Nero!
Justamente indicado ao Oscar por sua atuação neste filme, Pedro Ustinov Ele pensou muitas vezes antes de admitir seu papel porquê Imperador Majara. Uma coisa, o ator teve que pensar, era encarnar Nero para João Houston, o primeiro diretor associado ao projeto, e outro a tocar lira diante da câmera de um cafona porquê Mervyn LeRoy. Graças a Deus ele pensou duas vezes, porque portanto Para onde você vai ganhou seu maior apelo.
Embora os historiadores não concordem sobre a figura histórica (as cobras de Suetônio e a animosidade dos cristãos poderia ter pintado tudo muito pior do que foi), o Nero interpretado por Ustinov é um daqueles vilões que adoramos odiar. Principalmente porque você ri com ele: sua estupidez flagrante, sua curso músico e seu tino estético peculiar nos fazem pensar, de roupa, que hoje o personagem estaria varrendo o Fórum. Ou seja, no Instagram, que é a mesma coisa.
Mas viemos cá para falar sobre o incêndio de Roma, patente? Muito, embora seja difícil atribuir a catástrofe histórica a Nero, adoramos ver porquê o vilão de Para onde você vai Ele planeja queimar a Cidade Eterna para obter inspiração artística… e edificar sobre suas cinzas outra cidade ao seu sabor. Conhecemos alguns incorporadores imobiliários que adorariam ter você porquê CEO.
Os mocinhos são estúpidos, mas isso não importa
Segundo os livros de história (do cinema), John Houston tive Gregório Peck sim Elizabeth Taylor (que acabou fazendo uma participação peculiar) para dar vida ao bonitão Marco Vinicio e à pura e virginal Ligia.
Felizmente ou infelizmente, um desentendimento político entre o diretor e Louis B. Mayer Ele estragou essa teoria… e no final tivemos Roberto Taylor sim Débora Kerr. Ou seja, um rosto profissional e uma atriz cuja curso teve momentos muito melhores.
Mas isso, mais uma vez, isso não é uma desvantagem, mas sim o contrário. Os diálogos de Para onde você vai Vale a pena mencioná-los supra do topo, não por serem muito escritos, e se os personagens interpretados por Taylor e Kerr se destacam por alguma coisa, esse “alguma coisa” não é sua eloqüência e desembaraço mental, por assim proferir. Assim, interpretações mais refinadas (porquê as oferecidas por Peck e Taylor) teriam desvalorizado aqueles cristãos que, prestes a serem dados aos leões, começam a trovar porquê um coro de Burgos.
Agora: neste filme há um ‘mocinho’ que transborda carisma. De quem estamos a falar?
Esse Petrônio!
Legista que virou ator por reviravoltas do sorte, o inglês Leo Genn Ele alternou com os maiores da curso, mas nunca ganhou um único prêmio. Na verdade, apesar de ter trabalhado ao lado Laurence Oliver, Spencer Tracy, Ava Gardner e outros titãs, sua única indicação ao Oscar foi graças a Para onde você vai. Uma candidatura merecida? Evidente!
Embora Peter Ustinov tenha quebrado todos os recordes do campo interpretando Nero, seu trabalho porquê imperador corria o risco de se tornar um fardo. Era necessário um contrapeso para lastrar tanto histrionismo, e Genn o ofereceu porquê Avaliador Cayo Petronio, aquele cortesão que, não contente em ter um sobrinho tão míope quanto Marco Vinicius, assume a tarefa de ser colega e mentor de Nero.
Logo descobrimos que seu gesto presunçoso esconde uma profunda e dolorosa palma da mão diante da estupidez de seu soberano, e ao mesmo tempo que a esconde ganha a diadema de louros das melhores zascas de Roma.
Mais uma vez, o histórico Petrônio é um mistério: embora tenha ganhado notabilidade porquê o ‘perito da elegância’ (um influenciador, digamos) na Roma de Nero e lhe seja atribuída a autoria do satírico (romance obsceno, tradicional e picaresco do qual falaremos na hora de revisar Fellini), Os historiadores de sua estação também atribuem a ele sagacidade e robustez porquê político.
A única coisa mais ou menos certa sobre ele, tal porquê aparece no filme, é o seu final: uma prelecção de porquê rir por último quando não se tem zero a perder.