Maio 7, 2025
Beyoncé, a sátira de Cowboy Carter

Beyoncé, a sátira de Cowboy Carter

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Depois de muita conversa, finalmente a música. Saiu esta noite Vaqueiro CarterO segundo agirporquê Beyoncé labareda, por Renascimento. Se o primeiro foi uma homenagem às raízes negras e queer da cultura club, o segundo é uma operação de reapropriação cultural da música sertaneja, mas também um oração de uma rainha sobre o estado da pátria.

É monstruosamente longo (uma hora e 20 minutos) e referto de música, estímulos, referências, tem demasiadas músicas fora do tema, muitos momentos marcantes. Vamos compreendê-lo plenamente ouvindo-o várias vezes, mas fica evidente que é um grande álbum, resultado, entre outras coisas, de um trabalho de seleção e refinamento de quase 100 peças que durou cinco anos. Cá estão cinco aspectos principais que emergem da primeira escuta.

Reapropriação

“Não é um álbum country”, escreveu Beyoncé. É verdade. Em Vaqueiro Carter o pop star recupera a música country, recupera as raízes parcialmente negras e progressistas de um gênero que é presidido por um establishment conservador, mas certamente não o faz porquê um purista. Em primeiro lugar, afirma a sua adesão pessoal, pela sua história, aos motivos recorrentes na música sertaneja, desde a relação à terreno ao tema da intervalo de vivenda. Beyoncé é uma pequena sulista de coração. “Se isso não é country, diga-me, portanto o que é?”, ela canta. Há também a teoria muito acertada de que increver a música em géneros rígidos, o que é típico do mercado discográfico americano, é limitante. Azealia Banks está errada ao expor que Beyoncé é uma cosplayer branca. Ele faz outra coisa: pega a narrativa típica da música sertaneja e a sobrepõe à sua própria história, provando que a segregação cultural é sempre errada. E os fãs de Madonna estão errados ao expor que isso é um tanto que sua estrela favorita já fez: em Vaqueiro Carter há uma riqueza músico e conceitual completamente dissemelhante, a estrear pelo título. Se não for Vaqueira Carterporquê seria de esperar, é também porque ex-escravos já foram chamados de depreciativos garoto.

Dissemelhante Renascimento, o disco tem a sensação de música sendo tocada: dá para ouvir a reverberação em torno das vozes, as cordas vibrando, as mãos batendo palmas. É também uma reapropriação de uma forma antiga de fazer música, com a sensação de gente cantando e tocando cá e agora. Sem ser um disco tradicionalista, e não é de todo, Vaqueiro Carter evoca um ideal perdido de pureza. “Quanto mais o mundo evolui, mais sinto uma conexão profunda com o que é puro”, disse Beyoncé. «Em tempos de lucidez sintético, filtros digitais e programação, quis voltar às ferramentas reais, e usei ferramentas muito antigas. Eu não queria camadas de instrumentos perfeitamente afinados. Eu deliberadamente mantive as músicas cruas, me orientei para o folk. Todos os sons são naturais e humanos, coisas cotidianas porquê o vento, os cliques, até o som dos pássaros e das galinhas, da natureza.” E sim, também é um pouco de cinema para os ouvidos.

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Cinema

Se você pudesse imaginar o primeiro Renascimento ambientado em um clube, Vaqueiro Carter tem uma estrutura conceitual dissemelhante. Não é particularmente óbvio, mas o álbum parece organizado porquê uma performance cinematográfica, teatral ou radiofónica em que há quem transmite (você e os seus convidados, e portanto a sua comunidade) e quem recebe (nós). O inicial e poderoso Réquiem Americano (o duplo i devido à referência é paraato II) parece a introdução ao primeiro ato de um músico ou a primeira cena de um filme de grande sucesso. Em algumas passagens há o grande velhinho do country Willie Nelson ocupado não cantando, mas sendo o locutor de uma rádio chamada KNTRY Radio Texas onde as fronteiras entre os gêneros são canceladas. E assim, de boca ocasião, Nelson passa por artistas negros porquê Son House, Sister Rosetta Tharpe, Chuck Berry, Roy Hamilton e, evidente, Beyoncé, que descende deles.

Há também Linda Martell, a primeira mulher negra a tocar no Grand Ole Opry, instituição country por primazia de Nashville. Ele finge estar no palco apresentando uma peça sob aplausos do público. É sobre o hilariante Sim, simum pastiche de soul psicodélico que vai desde a referência ao Chitlin’ Circuit, passeio pelos locais onde artistas negros se apresentavam durante o período de segregação racial, até o de Boas vibrações pelos Beach Boys. Há a teoria do rodeio porquê um lugar inclusivo e intercultural, há resquícios dos anos 70 em que as pessoas cantavam em violões e cordas, há ecos de antigos filmes de faroeste. Na verdade, quase parece que cada música é um pequeno filme, com certas percussões inspiradas na trilha sonora de Irmão, onde você está?. Beyoncé disse que trabalhou no álbum com inspiração Cowboy Urbano, Os oito odiados, Quanto mais eles caem, Assassinos da Lua Flor, Vaqueiros espaciais, Cinco Dedos para Marselha. Se fosse um filme, Vaqueiro Carter seria uma mistura de blaxploitation e western.

Sincretismo

Uma das tradições que remonta Vaqueiro Carter é a psique do campo. Não é uma tendência particularmente popular cá, mas inclui uma longa série de artistas que em seus discos, contínua ou esporadicamente, tentaram superar as fronteiras entre country, soul, R&B, funk, gospel, rock, pop, apagando fez o vício original do mercado discográfico americano, nomeadamente a realce entre música caipira e música racial. É uma tradição formidável que remonta a Ray Charles (atual Sons modernos na música country e ocidental?) à mais recente Allison Russell (a sensacional Moçoilo externa). Musicalmente, Vaqueiro Carter supera todas as distinções de gênero – razão pela qual não é um álbum country em sentido estrito – e muitas vezes combina com notável sabor country e gospel, elaboração e rap, zydeco e folk, todas músicas que de alguma forma estão inscritas na cultura e cultura de Beyoncé. raízes geográficas. “A alegria de gerar música”, disse ela, “é que não existem regras”.

A ajudá-la neste trabalho estão grandes músicos, incluindo Rhiannon Giddens, vencedora do Prémio Pulitzer que sempre esteve na vanguarda da recuperação das raízes negras da música tradicional americana. E é uma operação que funciona, tanto que nos Estados Unidos, onde as paradas são (ahem) segregadas, o single Texas Hold’em entrou em nove paradas, do pop ao country e ao urbano, o que é ao mesmo tempo excitante e ridículo. Ao forçar sua ingressão, Beyoncé demonstrou a natureza sintético dessas divisões. Nesta obra de sincretismo músico aparece também uma ária italiana do século XVIII, Querido meu Ben de Tommaso Giordani que é cantada em Filha e que no pretérito já foi ouvida cantada tanto por Mina quanto por Sting (falando em filhas, a voz da pequena Rumi aparece em Protetor). Cá também, porquê em RenascimentoBeyoncé é uma estudante de história americana, não unicamente de música.

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Vozes

As vozes são uma das coisas fortes sobre Vaqueiro Carter. A estrear por Beyoncé que demonstra que pode interpretar qualquer coisa, oferecendo uma masterclass de porquê trovar sem exagerar, se tiver talento. Cá, apresenta-se porquê a voz de quem declama uma verdade e é credível e dominador, sempre. Depois há os coros que pontuam muitas músicas, não são enfeites, mas secção integrante do álbum, momentos comunitários, passagens libertadoras, referências às raízes soul-gospel. E aí estão as vozes de muitos convidados. Se Post Malone desempenha um papel sexy na luz e desinibido Jeans Levii’sMiley Cyrus co-estrela o notável dueto IIMais Procurados onde o imaginário tradicional dos casais fora da lei se torna feminino, passando Thelma e Luísa e o vídeo de Telefonee contemporâneo, evocando as ostentações típicas do hip hop.

E em suma, são muitos e diferentes cantores, negros e brancos, que contribuem para tornar oato II a voz de uma comunidade talvez imaginária, mas alinhada contra o preconceito, o conservadorismo, a intolerância. Leste é outro ponto que talvez não seja óbvio, mas fundamental: em 80 minutos Beyoncé e a sua comunidade tentam redefinir as prioridades da cultura americana. E por isso é justo que na foto da capote a cantora a cavalo agite o Vermelho, o Branco e o Azul: ela se apresenta porquê a voz emocionalmente carregada e ao mesmo tempo racional de uma pátria em procura de si mesma, ela é ao mesmo tempo a filha marginalizada de Americana e a mãe de todas as mães. Nesse sentido, Vaqueiro Carter não só é muito pessoal, porque é fruto da biografia da artista, mas também é político à sua maneira e isso pode ser entendido a partir da introdução em que Beyoncé se pergunta: “Podemos proteger alguma coisa?”. Seria tempestivo responder: sim, nós podemos. E isso pode ser entendido pela reprise do Réquiem Americano que se coloca no final e que se intitula Amém. “Esta vivenda foi construída com sangue e ossos e desmoronou, sim, desmoronou, as estátuas que ergueram eram lindas, mas eram mentiras de pedra.” Cá está o significado último do álbum: o libido de expiar os pecados dos pais e enterrar velhas ideias, perdoar a velha América para edificar uma novidade.

Deter

Beyoncé consegue transformar duas capas em momentos também fortes. A primeira surge imediatamente posteriormente a introdução do Réquiem Americano e os seus Passaro preto dos Beatles, que se torna Passaro preto sempre por culpaato II. A música não é escolhida aleatoriamente. Paul McCartney escreveu a peça em 1968, posteriormente o homicídio de Martin Luther King, em um período dramático para a luta pelos direitos civis, a ameia do título escondia a história de homens e mulheres negros. Auto Passaro preto foi o diálogo de um inglês com a América negra, Passaro preto é a sua apropriação, revisão e conspiração perfeito em outro contexto cultural. Para sublinhar o noção, Beyoncé convidou Tanner Adell, Brittney Spencer, Tiera Kennedy e Reyna Roberts, todas cantoras negras pouco conhecidas e próximas da música country, para cantarem com ela (ver aquém: construindo uma comunidade).

A capote de é ainda mais potente Jolene por Dolly Parton. Um pouco porquê Willie Nelson, o grande planeta country também é convidado não a trovar, mas a apresentar a peça. E ele faz isso citando outra música da Beyoncé, Desculpe de 2016. Na era a pop star descontou em uma não identificada “Becky do cabelo bonito” amante de seu marido: “Ela só me quer quando eu não estou por perto”, cantou ela, iniciando a procura pelo culpado, “E portanto o que invocar de Becky com o cabelo lindo.” Na introdução, Parton diz que o atrevido (que eu traduziria porquê vagabunda) “com o cabelo bonito” a lembra de “alguém que eu conheci”, que é Jolene da música de 1974. Cinquenta anos detrás, a cantora literalmente implorou a sua bela rival Jolene para não tirar seu varão de dela. Beyoncé não é alguém que implora a um rival e por isso muda a letra de um apelo para uma intimidação: “Jolene, estou avisando, não venha procurar meu varão”.

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Tudo volta: preto e branco, tradição analógica e fofoca do dedo, história e presente, paixão e poder estelar, país e psique. Beckys deste mundo, afastem-se: Beyoncé ainda é a número um.

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