Maio 9, 2025
«De Gasperi mostrou à Itália o caminho e um método»
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Alcide De Gasperi

Alcide De Gasperi – Wiki Commons

Publicamos trechos do discurso intitulado “Profecia degasperiana. O deserto da democracia e o renascimento da política” que Ivan Maffeis, arcebispo de Perugia-Città della Pieve, realizou em Pieve Tesino no âmbito da Lectio Degasperiana organizada pela Fundação Trentina Alcide De Gasperi.

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Alcide De Gasperi foi um político dotado de habilidades proféticas. Nenhum outro líder de sua época teve uma vida tão intensa e imprevisível. A sua grandeza não se mede apenas pelo que fez como estadista, mas sobretudo pelo testemunho que nos ofereceu. Como os antigos profetas, ele indicou um caminho e um método político que vai além da sua própria existência. Ele concordou em liderar o seu povo, sem garantias e sem hesitação. Primeiro foi a vez do povo trentino, órfão e disperso durante a Primeira Guerra Mundial, depois do povo italiano que ele aprendeu a conhecer. Quando assumiu a tarefa de tirar a Itália do deserto em que a democracia se perdera, De Gasperi tinha mais de sessenta anos.

Partilhou os valores básicos da Resistência e participou com convicção na transição democrática do Reino para a República; salvou a continuidade do Estado; contribuiu para dotar o país de uma das Constituições mais sólidas; reconstruiu as bases do lugar da Itália na comunidade dos países ocidentais; alargou o horizonte político europeu. Com a sobriedade do seu modo de praticar a fé, antecipou os ensinamentos do Concílio Vaticano II; ofereceu um exemplo de secularismo e ao mesmo tempo de fidelidade à Igreja; ele comprometeu os crentes com a democracia representativa, de modo a dar significado político à tradição reformadora do catolicismo social. Acima de tudo, com a sua acção tenaz voltou a colocar a política no centro, mostrando que lhe cabia precisamente remediar a terrível crise em que tinha lançado a humanidade. […]

Como todos os profetas, ele não era moderado. Sem nunca recuar nas batalhas eleitorais, contribuiu para resgatar a política dos seus aspectos mais materiais e duros. Ele queria dar-lhe uma alma, para ter certeza de que ela tinha sentimentos e princípios. Ele governou por oito anos consecutivos. Ele possuía um estilo de liderança inato, mas não gostava da idolatria do líder. Ele sentiu mais a necessidade de liderar as massas do que a necessidade de impor. Ele evitou vestimentas reais. Ele ficou perturbado com a ideia de que poderia parecer ansioso para decidir por si mesmo. Ele sempre buscou alianças. Também nisto seguiu os passos dos profetas, que sempre mantiveram uma atitude muito crítica face à perspectiva de Israel se dar um rei, como acontecia entre outros povos. […] No contexto bíblico, uma figura como a de Moisés pode ajudar a aproximar-se e a interpretar a de De Gasperi. As três passagens decisivas da existência do homem do Êxodo encontram-se refletidas, por analogia, naquelas vividas no século XX pelo estadista trentino. Um primeiro período é aquele em que Moisés cresce na corte do Faraó: ele, um sobrevivente, um fugitivo das águas, tem acesso à cultura mais florescente da época, recebe uma educação de qualidade, aprende a proverbial sabedoria dos egípcios. É a primeira parte da vida de De Gasperi, que o leva a passar dos seus vales para Viena, da terra de uma minoria italiana para o Parlamento do império.

Um segundo período conta como Moisés não se limitou à sua condição privilegiada: põe-na em jogo com generosa disponibilidade, animado por um profundo sentimento de solidariedade, que o leva a lutar contra a opressão e a injustiça, até ao ponto de se comprometer. Na realidade, Moisés é rejeitado pelos seus seguidores, conhece a decepção e a amargura do fracasso; foge para o deserto, onde se torna um estrangeiro, um pastor dedicado ao seu rebanho. Ele vivencia anos de solidão e silêncio, de necessidade, talvez até de medo. De Gasperi conhecia a duplicidade de Mussolini, contra cuja falsidade retórica ele havia lutado como jornalista como ele em Trento já em 1908. Ele testemunhou a covardia de muitos. Ele vê seu mentor, Dom Luigi Sturzo, partir para o exílio por ordem da Santa Sé; é abandonado pela maioria dos deputados católicos que se alinham ao Regime; tenta fugir, é preso e finalmente refugia-se na Biblioteca do Vaticano com o pouco que a Cúria lhe oferece. Anos de espera, em que se torna mendigo por uma palavra, por um gesto de atenção e amizade, por um emprego, por confiança, por alguém que ainda acredita nele.

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Na vida de Moisés, como na de De Gasperi, há uma terceira temporada. Na experiência da sarça ardente, Moisés é visitado por Deus, que lhe ensina a “tirar as sandálias”, não a negar a sua própria história, mas a repensá-la até sentir que se trata de “terra santa”. A Lei promulgada pelo Sinai foi funcional a este plano: um instrumento que ajudou a passar da condição servil à da liberdade de serviço. Esta viagem realiza-se no meio de mil dificuldades, marcada pela ingratidão e infidelidade do povo, que, perante as agruras da viagem, se refugia num arrependimento recorrente pela sua condição anterior, quando no Egipto estavam “em volta da panela de cebola “. […]

Moisés – o guia, o legislador, o profeta com quem “o Senhor falou face a face como quem fala com o seu amigo”, não entrará na Terra Prometida, apenas a examinará de longe, antes de morrer na solidão, longe disso pessoas pelas quais ele se gastou sem medida. O mesmo para De Gasperi. Faleceu aos 73 anos, no dia 19 de agosto de 1954, na sua e nossa querida terra trentina. Ele sabia que – não importa o quanto nos preocupemos e lutemos – o fim sempre nos encontra despreparados e no meio de cada projeto. Ele traçou o caminho para a terra prometida de uma Itália pacífica e próspera, mas – precisamente, como Moisés – só conseguiu vislumbrá-lo. Um dos maiores teólogos contemporâneos, Dietrich Bonhoeffer, encerrado pelos nazistas na prisão de Berlim, aguardando sentença, envia a um amigo um poema dedicado à Morte de Moisés. Ele se reflete nos olhos deste profeta moribundo e escreve: “Enquanto afundo, Deus, na tua eternidade, vejo meu povo caminhando em liberdade”. Isto também se aplica a De Gasperi.

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