“Se o Instagram fosse um designer de voga, seria Simon Porte Jacquemus”, escreveu o jornal há poucos dias WWD. E ele não está totalmente inverídico. Ninguém é tão hábil porquê o designer de Bramejean em esculpir uma linguagem visualmente cativante – irónica, imediata, evocativa –, capaz de envolver o público numa mistura entre o provocativo e o ingénuo. Ele usa todas as ferramentas que tornam o teor social interessante: locais espetaculares para transformar passarelas em imagens perfeitas para o feed, uma variedade estonteante de celebridades, comerciais divertidos que sugerem e aumentam a curiosidade. PARA Capri, sítio escolhido para as comemorações dos quinze anos da marca, a estética mediterrânica que é a assinatura do designer serviu a publicidade numa bandeja de prata. O giga-cartão-postal na Piazzetta, uma rima de caixas Jacquemus no funicular, as roupas trazidas para terreno pelo embarcação rebocado pelo bonitão nadador e a diva (Jennie Kim, do grupo Blackpink) enrolada em uma toalha no telhado do Vila Malaparte, uma obra-prima modernista com trinta e dois degraus com vista para o mar, uma frente em vermelho pompeiano que dá para os Faraglioni e uma venustidade severa que desafia unicamente a paisagem fantástico. E A vivenda Que dá título à passarela Jacquemusa do redactor e jornalista Curzio Malaparte, a que fascinou Jean-Luc Godard que decidiu fixá-la cá Desprezo com a mitológica Brigitte Bardot tomando banho de sol nua no telhado. A mesma villa que já em 1997 encantou Karl Lagerfeld que a cristalizou em imagens que fizeram segmento de um volume publicado pela Steidl. E pode-se proferir que tudo começa a partir daquelas fotos que o designer 2.0 Simon Porte – porquê ele mesmo diz no Instagram – exibiu bordadas em sua jaqueta durante o Met Gala em homenagem ao Kaiser, atraindo a atenção dos atuais proprietários do vila.
E cá estamos hoje, em15 anos de Jacquemus, 1 sonho, 1 vivenda, 99 degraus, 47 olhares, 40 convidados, 25 graus”, e uma coleção que celebra a Dolce Vita, entre fisciù amarrados para encaixilhar o rosto, transparências, jogos volumétricos e uma paleta de cores que lembram as cores do mar e do sol. Ou areia, porquê sugere o primeiro lançamento disso casaco peludo/roupão que pisca para o filme BB e mostra um dos muitos neo-fetiches que animam o espetáculo, nomeadamente o sapatilhas de salto eminentenota (mais adiante) de casacos de camurça com maxi golas, ou vestidos geométricos para combinar com uma bolsa clutch (segunda preocupação) Rond Carré listrado preto e branco. Silhuetas alongadas e transparentes se sucedem ao longo do desfile, onde a seda elástica e transparente reina suprema, cá e ali uma rabo e uma cortinado, cá e ali uma vigia para tornar o Mediterrâneo ultra-sedutor segundo Jacquemus.
Branco, turquesa, vermelho e manteiga são as nuances preferidas e um toque exótico para os novos Les Duplas Sandálias, novamente com salto duplo, mas desta vez em epiderme de tenreiro com estampa de zebra. Eles permanecem linhas racionais e volumosas que já tínhamos visto na passarela da Instauração Maeght e que cá parecem homenagear a arquitetura da villa que os acolhe, estreiam-se os maxi-colares, um excesso dos náuticos, para reavivar casacos e agasalhos disponíveis em comprimentos longos e curtos. E se é verdade que os opostos se atraem – sobretudo na voga, onde muitas vezes é o pormenor que torna tudo intrigante – Jacquemus aparece em lantejoulas, ráfia e camurça com grande indiferença, insistindo na magreza de uma longuette e no volume de um top para noites de Capri cheias de glamour. As mesmas regras valem para o vestido com top de babados e saia transparente que uma esplêndida Deva Cassel apresenta na plataforma, mostrando a novidade bolsa com pormenor de joia que vai enlouquecer. Pelo menos tanto quanto as originais sacolas de palha trançada ou os vestidos midi sem costas que fecham a passarela de Jennie Kim, já protagonista do trailer da coleção.
Espetáculo dentro do espetáculo, a primeira fileira é um fundamento de estrelas europeias e americanas aplaudindo Simon Porte: desde Gwyneth Paltrow a Giancarlo Giammetti, de Peggy Gou a Rosie Huntington-Whiteley, de Arón Piper a Manu Rios, de Laetitia Linhagem a Elodie e Ghali. O VIP mais bonito? Vovó Liline beijou e abraçou no final um emocionado Simon Porte. Quanto à coleção, o próprio Jacquemus sempre disse que está mais interessado em racontar histórias do que em fabricar roupas e talvez esta seja precisamente a chave certa para compreender a sua originalidade…