Março 23, 2025
O Iluminado, a versão de Kubrick e o segredo daqueles 24 minutos
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O Iluminado voltar ao cinema. E esta é uma ótima notícia. Qualquer chance de ver um filme de Stanley Kubrick na tela grande deve ser recebido com alegria. Dito isto, é interessante entender qual O Iluminado os espectadores podem assistir, durante três dias (até 9 de outubro), graças ao Lucky Red. O anúncio fala em “versão completa em 4K”. 4K indica restauração digital. A “versão completa” é algo que vale a pena entender…

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O O Iluminado que você verá no cinema hoje em dia dura 143 minutos. O O Iluminado que muitos de vocês devem ter visto em 1980, quando o filme foi lançado, durou 119. Já vemos muitos de vocês lambendo os beiços de alegria, mais 24 minutos de Kubrick. Muito verdade. É assim que é. Mas não se trata de uma restauração que recuperou cenas deletadas, nem de uma versão não editada, nem tecnicamente de uma versão “sem cortes” como anunciada. É, simplesmente, a versão lançada na época nos Estados Unidos e depois exibida na Europa em alguns festivais. – o escritor viu há alguns anos no festival de Cannes, na seção Cannes Classic. A versão destinada a todos os países europeus, incluindo a Itália, durou os mencionados 119 minutos, mas não pense na censura perversa dos habituais europeus intolerantes. Na verdade, o oposto é verdadeiro. Mas vamos contar essa história, que também é uma aula maravilhosa de cinema para todos aqueles que querem comparar as duas versões.

Stanley Kubrick

Stanley Kubrick

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O filme foi lançado nos Estados Unidos em 23 de maio de 1980. Em poucos dias, como fez com quase todos os seus filmes, Kubrick colocou as mãos de volta nele e começou a editar o filme ele mesmo para os mercados europeus. A estreia europeia aconteceu no festival de San Sebastian em setembro de 1980. O filme foi então lançado na Alemanha e na França em outubro, no Reino Unido em novembro, na Itália em 22 de dezembro também em 1980. Os já mencionados 24 minutos, serão vale a pena repetir, foram cortados pelo próprio Kubrick. Simplificando muito, poderíamos dizer que Kubrick confiava mais no público europeu do que nos seus companheiros ianques: na verdade, grande parte dos cortes dizem respeito a cenas que são, no jargão dos roteiristas, “explicações”. Ou seja, cenas que nos ajudam a entender o que é “brilhar”, por que Danny o tem e assim por diante.

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Isto é particularmente verdadeiro para uma longa cena inicial – completamente cortada – na qual, enquanto Jack Torrance (Jack Nicholson) está no Overlook Hotel para uma entrevista de emprego, um médico visita Danny (Danny Lloyd) na presença de Wendy, a mãe (Shelley Duval). Entendemos assim que Danny tem visões estranhas, que tem um amigo imaginário (“Tony”) que vive na sua boca, que durante uma cena familiar Jack, o seu pai, o magoam, etc.: enfim, são “explicados” para nós coisas que ajudam a entender porque Danny é uma criança tão particular… O primeiro diálogo entre Danny e a cozinheira Hallorann também é bastante limitado, em que os dois se confidenciam sobre o “brilho”, e as cenas do visita da família ao Hotel Overlook. Todas as cenas que, segundo Kubrick, “explicavam” – na verdade – demais. Para os americanos, evidentemente, eram necessários; para nós, europeus “refinados”, segundo Kubrick, não.

Outros cortes menos significativos dizem respeito a uma cena em que Hallorann aluga o gato da neve ao retornar ao hotel, “chamado” por Danny, e alguns trechos da sarabande final – na versão longa você verá uma cena, muito curta, mas muito bonita , em que Wendy também vê monstros em um dos quartos do hotel. Além disso, há um final, após a fuga de Danny e Wendy, que, no entanto, não deve ser estragado. Você verá isso no cinema. Na nossa opinião, o final que lembramos bem foi mais bonito.

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Stephen King

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Stephen King

O que se pode deduzir desta versão dupla de O Iluminado? Que o curto, destinado à Europa, foi e é mais assustador. No filme de Kubrick é o mistério, o “não dito”, que assusta. Ouvir muitas coisas sobre os poderes paranormais de Danny diminui a tensão de algumas cenas subsequentes. Pra ser safada tem mais na versão americana Stephen King do que no europeu. Mas esta nossa maldade deve ser explicada – aqui, sim, precisamos de uma “explicação”. King, como você sabe, odeia esse filme. Tanto que em 1997 quis fazer uma minissérie para TV, intitulada O Iluminado, de Stephen Kingo que é embaraçosamente feio. King odeia o filme de Kubrick também porque Kubrick lhe enviou de volta sua versão do roteiro sem muitas explicações, o que o diretor não gostou – Kubrick então escreveu o filme junto com Diane Johnson. Mas fundamentalmente o filme mantém muitas coisas em ambiguidade e mistério que no romance de King são muito claras; também coloca em segundo plano o verdadeiro tema do romance, que para King é um bloqueio criativo ligado ao alcoolismo.

Esses tópicos quase não são mencionados no filme: o verdadeiro tema é a circularidade do medo, o fato de o hotel ser uma criatura não muito diferente do planeta “pensante” de Solaris, um clássico da ficção científica escrito alguns anos antes por Andrej Tarkovsky. O Overlook contém tudo, e Jack Torrance sempre foi o zelador, como evidencia a famosa foto final. Não é por acaso que quase todas as cenas deletadas acontecem fora do Overlook, ou dizem muito sobre o Overlook. Em suma, levam-nos para fora, para a vida quotidiana, são centrífugos: embora o filme seja centrípeto, transporta-nos para dentro, para um universo – um grande cérebro? – do qual não se pode escapar.

Stephen King escreveu um romance em 2018, O estranho (também é chamado assim em italiano), muito bonito. Parte de uma ideia deslumbrante: um homem é acusado de um crime atroz, suas impressões digitais e seu DNA estão no corpo da vítima, mas um vídeo e muitas testemunhas comprovam de forma incontestável que o homem no momento do crime era outra parte. É um quebra-cabeça insolúvel – enquanto o romance continuar sendo um thriller realista, sem qualquer vestígio de paranormal. Para resolver o quebra-cabeça – aqui também, sem spoilers, apenas uma reflexão – King traz o paranormal para a história. King costuma usar “fantástico” para explicar. Exatamente o oposto do que Kubrick queria.

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Em O Iluminado (o filme) nada é explicado. É por isso que o filme é tão assustador, e é por isso – acreditamos – que Stephen King não gosta dele. Visto na versão americana, pode assustar menos. Mas se você se lembra bem da versão europeia, pode se divertir entendendo por que Kubrick cortou certas coisas e não outras. Como dizíamos, uma aula incrível de roteiro e edição, pelo preço de um ingresso de cinema.

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