Março 21, 2025
Papa Francisco na Via Sacra: “Mantenham a Igreja e o mundo em silêncio”

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O Papa escreveu primeiro os textos das meditações e orações da Via Sacra no Coliseu, que depois acompanhou na Mansão Santa Marta. “Vivemos numa era impiedosa e precisamos de dor”, escreve ele sobre os “muitos crucificados” do mundo e da história. “Porquê reajo à loucura da guerra?”

(Foto ANSA/SIR)

É dedicada aos “muitos crucifixos” do mundo e da história, a primeira Via Crucis escrita de próprio punho por Papa Francisco nos seus onze anos de pontificado, e intitulado: “Em prece com Jesus no caminho da cruz”. Antes dele, somente João Paulo II, em 2003, e Joseph Ratzinger, porquê cardeal, em 2005, escreveram o texto das meditações e orações do rito pascal mais sentido pela devoção popular. Na vigília e na missa pascal, anunciou a Sala de Prensa da Santa Sé, o Santo Padre percorreu a Via Sacra não a partir da sua posição habitual no Palatino, mas a partir da Mansão Santa Marta.

“Diante das tragédias do mundo, meu coração está enregelado ou derrete?”,

uma das questões colocadas por Bergoglio nas meditações preparadas para a Via Sacra.

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“Porquê reajo à loucura da guerra, aos rostos das crianças que já não sabem sorrir, às mães que as veem desnutridas e famintas e não têm mais lágrimas para esparzir?”,

lemos na oitava estação. “Você foi recluso; você, estrangeiro, levado para fora da cidade para ser crucificado; você está nu, despido; você, doente e ferido; você, sedento de cruz e faminto de paixão”, a reflexão da nona estação: “Deixe-me ver você no sofrimento e ver o sofrimento em você, porque você está aí, naqueles que estão desprovidos de honra, nos Cristos humilhados pela arrogância e pela injustiça, pelos ganhos injustos obtidos às custas dos outros, na indiferença universal”. “Jesus, deixa-me reconhecer-te e amar-te nos nascituros e nos abandonados, em muitos jovens que esperam que alguém ouça o seu grito de dor, em tantos idosos abandonados, nos presos e nos que estão sozinhos, nos mais explorados e esquecidos”, reza Bergoglio na décima primeira estação. Depois a invocação final, porquê num crescendo que resume todo o tom:

“Que esta prece de intercessão chegue às irmãs e aos irmãos que em muitas partes do mundo sofrem perseguições por culpa do teu nome; aqueles que sofrem o drama da guerra e aqueles que, tirando forças de vós, carregam pesadas cruzes. Jesus, com a tua cruz fizeste de todos nós um: une os crentes em sociedade, infunde sentimentos fraternos e pacientes, ajuda-nos a colaborar e a caminhar juntos; manter a Igreja e o mundo em silêncio.”

O exemplo escolhido, mais uma vez, é o das mulheres, que na oitava estação “não têm voz, mas fazem-se ouvir”: “Ajuda-nos a reconhecer a grandeza das mulheres, daquelas que na Páscoa foram fiéis e próximas de ti, mas que ainda hoje são descartados, sofrendo indignação e violência.” No cume do Gólgota, sublinha Francisco na décima estação, Jesus revela-nos “o montão da prece intercessória, que salva o mundo”. E no seu último grito de dor, no momento em que se sente desprezado por Deus, Jesus – escreve o Papa na décima primeira estação – revela-nos “o que fazer nas tempestades da vida: em vez de calar-se e calar-se, clamo a você, para que você fuja da minha confusão, mas você a viveu ao sumo.

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E no grito de tantas pessoas solitárias e excluídas, oprimidas e abandonadas, eu te vejo de novo, meu Deus: deixe-me te reconhecer e te amar.”

Poder inédito da prece, aquele descrito na décima segunda estação. “Jesus, lembra-te de mim”, suplica o Papa:

“Lembre-se de mim e minha doença não será mais o termo da risco, mas um recomeço.

Lembre-se: coloque-me novamente em seu coração, mesmo quando eu me distanciar, quando me perder na roda da vida que gira loucamente. Lembra-te de mim, Jesus, porque ser lembrado por ti – mostra-o o bom ladrão – é entrar no firmamento. Supra de tudo, lembre-me, Jesus, que minha prece pode mudar a história”. Supra de tudo, destaca-se a figura de Maria, mãe de Deus e nossa mãe, que na décima terceira estação segura nos braços o corpo quebrado do rebento: “Mãe, eu sou esse rebento! Receba-me em seus braços e incline-se sobre minhas feridas. Ajude-me a expor “sim” a Deus, “sim” ao paixão. Mãe de misericórdia,

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vivemos em uma era impiedosa e precisamos de dor:

tu, terno e possante, unge-nos com mansidão: desamarra as resistências do coração e os nós da psique”. O rito da Sexta-feira Santa presidido pelo Papa foi o da celebração da Paixão do Senhor, com o momento inicial de reflexão na prece silenciosa, em cadeira de rodas, e a homilia da epístola. Raniero Cantalamessapregador da Mansão Papal.

“A verdadeira onipotência de Deus é a insuficiência totalidade do Calvário”,

o cardeal disse: “À nossa vontade de poder, Deus opôs a sua insuficiência voluntária. Que prelecção para nós que, mais ou menos conscientemente, queremos sempre nos exibir! Que prelecção também para os poderosos da terreno! Para aqueles entre eles que nem remotamente pensam em servir, mas somente no poder pelo poder; aqueles – diz Jesus no Evangelho – que oprimem o povo e, aliás, se deixam invocar por ele de benfeitores”. Depois a paráfrase do invitação de Jesus – “Vinde todos a mim, e eu vos aliviarei” – com termos atuais:

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“Venham, vocês que estão velhos, doentes e sozinhos, vocês que o mundo deixa morrer na pobreza, na rafa ou sob as bombas;

você que por sua fé em mim, ou por sua luta pela liberdade, definha em uma quartinho de prisão; vem você, mulher, vítima de violência. Em suma, todos, ninguém excluído: venham a mim e eu lhes darei um refresco! Não prometi solenemente: ‘E eu, quando for proeminente da terreno, atrairei todas as pessoas a mim’.” “Mas que consolação você pode nos dar, ó varão da cruz, você mais desprezado e cansado do que aqueles que você quer consolar?”, perguntou-se o cardeal, quase tecendo um diálogo ideal. “Venha para mim, pois eu sou! Eu sou Deus!”, a resposta: “Renunciei à sua teoria de onipotência, mas mantenho intacta a minha onipotência que é a onipotência do paixão”.

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