Outubro 1, 2024
Paul Auster, varão sem poses falsas

Paul Auster, varão sem poses falsas

Paul Auster esperou, em silêncio, no início dos anos 80, no coração de uma livraria da Côte d’Azur, que já não existia há anos; uma edição sóbria, de Atos Sulum título feliz, que não poderia deixar de me lembrar: A invenção da solidão. Falou-se de um pai, de um relacionamento difícil, de uma morte súbita. A segunda segmento do livro narrava as vicissitudes de um noticiarista confinado em Novidade York, num apartamento quente durante o dia e gelado à noite, na Varick Street. Comprei sem hesitar, já senti porquê se tivesse sabido um interlocutor, alguém com quem se podem entender instintivamente, sem esforço nem dor. A leitura do livro confirmou minha primeira sensação, senti uma sinceridade misteriosa, um varão que falava diretamente comigo, que sabia quais acordes tocar, sem falsas poses, alguém que sabia me interessar, rabi de um estilo, e dotado de uma essencialidade maravilhosa, capaz de concentrar o olhar nos fatos individuais absolutos, isolando-os do supérfluo circundante. A descrição de um pai, sincero e cru, sem fugir aos detalhes desagradáveis, é ainda poderosa, ressurgindo da memória porquê que intacta, mantendo a sua verdade indubitável.

Paris

Me deparei com um responsável real e de qualidade que poderia ter parado de grafar e já teria deixado uma sensação duradoura. Porém, tive a sensação de ter sabido também um varão de valor, um varão generoso, pela pura honestidade das suas páginas, pelo seu olhar, que senti ser fraterno, pela simples sensação que emanava das palavras. Ainda me faltava a prova, outro livro onde encontrar a mesma assonância, o mesmo sentimento de fraternidade. Foi quando eu li Cidade de vidro. E, apesar das exigências de um enredo e de uma construção literária, encontrei a mesma voz que me falou em A Invenção da Solidão, a mesma privança, a mesma compreensão, a mesma consonância. O que certamente nos uniu foi a valor dada à memória e, de forma subtil, também à relação com a cidade de Paris, que também para mim foi fundamental na formação de uma identidade e na concentração de memórias preciosas. Cidade de vidro teria logo uma adaptação maravilhosa porquê romance gráfica em 94: nas mãos de Paul Karasik, David Mazzucchelli e Art Spiegelman o romance realmente alçaria voo para uma novidade dimensão, absolutamente preciosa, e de forma alguma subordinado à do página escrita.

Em 2009, em Pordenone, que convidou Auster para o evento “Dedica”, devotado todos os anos a um responsável, recebi um maravilhoso cartoon/dedicatória da caneta de Karasik, que embeleza o meu réplica do livro. O tempo, silenciosamente, reuniu-nos: de Praga, a Paris, a Pordenone, a Buenos Aires, confirmando as primeiras impressões fundamentais, aquelas obtidas com a leitura da Invenção da Solidão, de um varão fraterno, terno e generoso, de grande simpatia. Em Paris, no metrô, houve explosões nos olhos, e no Salon du livre, filas de centenas de metros para receber um autógrafo. Uma verdadeira estrela do rock, que conquistou os franceses além de qualquer imaginação.

Seu fruto Daniel

Recentemente, ele havia sofrido a irrupção da tragédia em uma vida plena e rica: primeiro a morte de sua neta de dez meses, que havia ingerido drogas encontradas em vivenda, e depois a morte de seu querido fruto Daniel, réu de morte de filha. Uma crueldade do orientação que o magoou profundamente e da qual ele não quis falar nas entrevistas. Varar a tragédia era impossível e, poucos meses depois a morte de seu fruto, em abril de 2022, ele foi diagnosticado com cancro de pulmão em dezembro do mesmo ano. Ele havia começado a lutar contra a doença, com muita força, no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, mas o tumor, segundo os médicos, era único e não era fácil de tratar. Ele havia respondido, através de uma secretária, aos meus e-mails de incentivo, até outubro, depois delegou à secretária a tarefa de responder, sempre com carinho. A última resposta da secretária data de 4 de abril. Tenho pensado na sua nos últimos dias. Quotidiano de Invernoque incrivelmente remonta a 2012, há 12 anos.

A memória engana-nos, fosso trincheiras invisíveis à nossa volta, faz-nos olvidar a medida do tempo: já nesse livro Auster traz um olhar invulgarmente sombrio para as coisas, uma reflexão sobre os factos da sua própria vida que contrasta com o seu ar sorridente, com o seu sucesso aparente. Uma estudo implacável dos acontecimentos ocorridos, relatados com extrema secura, quase porquê se não lhe pertencessem, não lhe tivessem ocorrido. Um livro preocupante, pessimista, sem qualquer dor por si mesmo. Em vez disso, um gesto de grande magnanimidade, porquê que para recompensar um infeliz colega, é a biografia monumental que ele dedicou a Stephen Crane: com maravilhosa inconsciência, um livro que começou com a intenção de ser de tamanho normal, desenvolveu-se no percurso de ‘obra num tomo de milénio páginas, obedecendo a uma inspiração fluvial, uma alegria em narrar que muito nos diz sobre a sua magnanimidade O mundo percorrido por Auster é um mundo governado pelo casualidade, pelo orientação mais cego: talvez os vários autobiográficos. os livros explicam mais que os romances a “música do casualidade”: o caderno vermelho, por exemplo, que reúne casos estranhos, coincidências que beiram o incrível. Segundo ele, o roupa que mais impressionou o responsável aconteceu no pretérito, durante o ensino médio, em 1960 ou 1961: durante uma excursão pelo campo, seu grupo de escoteiros foi surpreendido por uma poderoso tempestade; decidiram ir para uma clareira, onde era mais seguro parar, longe das vegetais. Tivemos que passar por ordinário do arame farpado. Com ordem, prepararam-se para passar, com o camarada Ralph primeiro. Quando Ralph tocou o arame farpado, um relâmpago caiu. Paul ficou meio metro detrás dele. O orientação agiu, sem responder. Ralph morreu naquela era, Paul sobreviveu, para uma vida longa. Talvez nestes últimos dias, sitiado pela doença, ele tenha pensado no seu companheiro Ralph. Talvez ele tenha concluído que toda vida, embora repleta de acontecimentos e sucessos, tem duração semelhante à viagem imaginada por Kafka, a cavalo, até a próxima lugarejo.

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